É cedo. Ainda não está claro, a única coisa que posso ver são os pequenos raios solares iluminando as rosas do jardim e a pequena cruz ao lado. O vento está frio. A música calma ainda toda no rádio.
Saio do carro abanando toda a fumaça do cigarro que estava dentro dele, vou até a porta de entrada. Porta de entrada para o céu, como Judith costuma dizer. Caminho pelos corredores, o lugar está silencioso, não vejo ninguém
- Chegou atrasada para a oração, doutora. - Ouço uma voz atrás de mim enquanto abro a porta da minha sala.
- Meu Deus, que susto, Camila. O que está fazendo aqui?
- Acho que você não é a única querendo fugir da oração matinal, Jauregui.
- Eu também sou obrigada a ir nisso?
- "Regras do hospício". Todos que trabalham aqui tem que ir também, e é sempre bom ir no primeiro dia sem Judith precisar mandar.
Finalmente abro a porta da minha sala e entro. Camila me olha do lado de fora, e eu faço sinal com a cabeça para ela entrar.
- Foi bom você ter vindo aqui, vou precisar marcar umas consultas extras para você.
- Olha só, me dando tratamento especial...
- Não é tratamento especial, é necessário.
- Tratamento psiquiátrico extra não é o que eu preciso, Doutora. Tá escrevendo o quê? - Camila pega o bloco da minha mão quando comecei a escrever - Karla Camila Cabello Estrabão, nascida em 3 de março de 1963, 21 anos, cubana. Esquizofrênica. Seu pai, Alejandro Cabello, um policial muito conhecido na cidade, a colocou aqui aos 16 anos. Boas notas no colégio, mas sem ensino médio completo, tinha muitos amigos e nunca se envolveu em problemas. Paciente manipuladora. Nossa, essa é a visão que vocês têm de mim? - Leu apenas o começo e comentou rindo. Me devolveu o bloco, deixo na mesa e volto a prestar atenção nela. - Meu sonho era ser médica quando eu era menor. Sempre quis cuidar de crianças. Não vai escrever isso?
Antes que eu pudesse responder, Judith abriu a porta com força.
- O que você tá fazendo aqui, Cabello? Você sabe muito bem das regras.
- Desculpa irmã Judith, Camila teve um mal comportamento ontem. Estávamos conversando sobre isso agora. - Respondo com um tom de voz sério.
- Nós temos regras aqui, doutora. Todos na capela às 6h30.
- Eu sei, isso não vai acontecer mais.
- Já se resolveram?
- Senhorita Cabello, pode nos dar licença? - Assente com a cabeça e sai da sala. - Vou precisar aumentar o número de consultas semanais da Camila, tudo bem? Sei que o Dr. Ross deixou apenas duas por semana, mas acho que ela precisa de mais.
- Eles precisam de Deus, Dra. Jauregui, não de mais consultas. Obedeça às regras e faça o trabalho de Ross. Entendido? - Concordei com a cabeça. - Ótimo. - Falou e saiu da sala, batendo a porta.
Fico sentada por um tempo, pensando no que aconteceu há semanas atrás e decido tentar conversar com minha mãe. Disco o número dela no telefone que fica encima da mesa, ela atende e quando ouve minha voz, desliga, como sempre. Não sei por quanto tempo as coisas vão continuar assim.
[..]
- Por que você fuma tanto?
- Por que você gosta tanto de me assustar? Meu Deus. O que tá fazendo aqui? Por que não foi comer com os outros?
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The Asylum
Fanfiction''A doença mental é uma explicação moderna para o pecado, Dra. Jauregui.''