- Lauren, sabe por que está aqui? – Faço um sinal negativo com a cabeça. Já estávamos na minha sala, sentadas no velho sofá de couro – Fui paciente de seu pai há anos atrás, confio muito nele, então o chamei para ficar no lugar do Dr. Ross, mas ele disse que não poderia e perguntou se podia falar com você, já que estava procurando um emprego e precisava ficar longe por um tempo. Disse que eu poderia confiar em você, e foi por isso que te dei essa chance. Pensei que seu pai tivesse falado com você sobre isso, mas percebi que não. – Não respondo nada, apenas olho para a mulher à minha frente sem entender nada. – Preciso conversar com você sobre Camila. Ela não é como os outros daqui dentro, Lauren, esse lugar não é para ela, e pelo que eu conheço seu pai, ele tentaria tirar Camila daqui o mais rápido possível assim que percebesse. Preciso que você me prometa que não vai tentar fazer nada, em relação a isso. Ela já tentou de todas as formas sair desse lugar, e se deu mal em todas as vezes, e ela sabe que fui eu quem te coloquei aqui, então não quero que você acabe piorando as coisas, deixe tudo como está. Hoje ela foi castigada por Judith. – Olhei para Dinah não acreditando no que ela tinha acabado de dizer. – Eletrochoque.
- Por isso as manchas nas têmporas... – Disse baixo, num tom quase inaudível.
- Camila passa por isso desde que chegou. Eles fazem isso para ela perder uma parte da memória, ela não te falou disso?- Não, ela mal falou na consulta.
- Camila é uma menina muito frágil, mas ao mesmo tempo, é muito forte. Desde que entrei aqui, há quatro anos, nunca tive nenhum tipo de problema, na verdade, Camila não tem nenhum tipo de problema. Duas pessoas já tentaram tirar Camila daqui, mas elas não estão mais aqui pra contar o que aconteceu quando Judith ficou sabendo dos planos, então não importa o que aconteça, Lauren, não tente nada. Não faça nada. Por favor.
- Se Camila é normal, por que ela está aqui?
- Deixe que ela mesma te fale. Espero poder confiar em você, Lauren, espero que você seja como seu pai foi para mim. Não quero que nada de ruim aconteça com você ou sua família, por isso estou te dizendo essas coisas, saiba lidar com as pessoas sãs desse sanatório, e não se esqueça que elas nunca agem sozinhas. Camila precisa sim de tratamento psicológico, trate-a como ela precisar, não como as pessoas daqui precisam ser tratadas. Faça-a confiar em você, seja uma profissional tão boa quanto seu pai, ela é uma pessoa incrível, só precisa de alguém.
- Pode deixar, não vou te decepcionar. - Minha cabeça estava uma bagunça, eu tinha milhares de perguntas, mas antes que eu pudesse dizer algo, Dinah me abraça.
- Muito obrigada, de verdade. Somos muito próximas, não quero que nada de ruim aconteça. - Fala com voz de choro. Abraço ela por um tempo, até a mulher alta me soltar e dizer que precisa ir.
Depois de ouvir a batida da porta, acendi um cigarro e fiquei pensando em Camila. Decidi marcar outra consulta com ela, para o dia seguinte. Preciso saber o que tem de diferente naquela garota e por que ela está aqui.
[...]
- Alô?
- Alô? Lauren? Por que não atendeu minhas ligações?
- Desculpa, cheguei em casa agora.
- Como você tá? Meu Deus, tô tão preocupada. Como estão as coisas aí?
- Tá tudo bem, sobrevivi o primeiro dia nesse fim de mundo. E aí?
- Mike me ligou hoje, conversou um pouco comigo. Minha mãe soube que você se mudou, nós discutimos de novo hoje de manhã e ela voltou a fingir que eu não existo.
- Relaxa, ela só tá assim por você ser passiva. Minha mãe não poupou ela dos detalhes.
- Eu não sou passiva, Lauren! Foi só aquela vez... – Vero disse me fazendo rir.
- Só aquela?
- Tá, foram algumas vezes... Mas me diz, como foi o seu primeiro dia de trabalho?
- No mínimo estranho. Como foi o seu primeiro dia sem mim?
- Ótimo.
- Vai se foder, Verônica. – Ouvi a gargalhada dela do outro lado da linha.
- Sinto sua falta, e não é apenas da sua língua que eu tô falando. Já tava sendo foda com você aqui, imagina com você longe. Tô pensando em me mudar também, não vou aguentar ser ignorada todos os dias pela minha mãe.
- Não falei com a minha mãe desde a briga. Ela nem olhou na minha cara quando eu saí de casa. – A ligação ficou muda, a única coisa que pude ouvir foi Vero chorando do outro lado.
- Já comeu? – Disse tentando se controlar.
- Sim, comprei comida mexicana no caminho, vai ser isso até os móveis chegarem.
- Consigo ouvir o eco daqui. Espero que você fique bem. Desculpa por tudo isso.
- Vero, para com isso, não é culpa sua. – Ouvi ela se derrubar em lágrimas.
- Vou dormir. Prometo conversar mais com você amanhã – ela faz uma pausa até voltar a falar – é que seu pai me falou sobre como a sua mãe está, e o lugar merda que você tá morando, e onde você tá trabalhando. E a culpa disso tudo é minha.
- Vero, não é. Não se preocupa com isso, agora eu sou independente, não vou precisar conviver com ela. – a garota fungou, tentando parar de chorar – estou morando numa casa bem bosta mesmo, mal cabe eu aqui dentro, mas pelo menos tenho ratos e baratas pra me fazer companhia – ri, ouvindo ela gargalhar e me chamar de idiota.
- Pelo menos agora você pode ser passiva a vontade.
- Você sabe que eu sou passiva apenas pra você, Inglesias.
- Claro que sei. – falou num tom sarcástico – Vou dormir, essa conversa já tá me dando nojo. Promete atender minhas ligações quando não tiver no trabalho? Sei que você não chegou em casa essa hora da noite.
- Eu tava arrumando as coisas, me livrei de todas as caixas.
- Mas podia ter me atendendo, cachorra, fiquei preocupada.
- Foi mal. Vou atender amanhã.
- Tá bom. Boa noite, fica bem. Amo você.
Depois de desligar a ligação, fui até a janela da sala, observei os carros lá embaixo e acendi um cigarro. Acho que estou fumando muito, preciso me controlar.
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The Asylum
Fanfiction''A doença mental é uma explicação moderna para o pecado, Dra. Jauregui.''