Palavras de Netuno

{tóxico}

  Eu sempre me perguntei por que você tinha que ser tóxico. Talvez você fosse feito de veneno e só estivesse procurando alguém para infectar. Se quiser aplausos, peça para sua plateia de mortos-vivos, em devaneio com seu gás de loucura. Eu tinha um fetiche por frascos de entorpecentes e encontrei em você um cheio arsenal. Alimentei-me de você como um vampiro bebe sangue de humano, e nunca percebi que você era a praga. Você era meu vírus, tomando-me por completo, começando a me controlar. Meu cérebro se tornou uma marionete que seus dedos carentes controlam. Minha vida se tornou um show de ventríloquo sem audiência. E no final éramos apenas nós dois dançando no palco da Cinderela e Bela e a Fera. Você era a Fera, eu era a bela Cinderela, sem saber que minha vida nunca sairia da meia-noite. Meu sapatinho de cristal nunca se encaixou no meu pé. Mas você se tornou obcecado e o cortou com uma faca até que ficasse no tamanho certo. Eu nunca gostei do sangue inundando no meu salto, mas ninguém nunca me ensinou sobre relacionamento abusivo. Eu virei Alice e caí no buraco, mas fui para o País da Camisa de Força, onde não podia me mover. E você era o chapeleiro que só me fazia chapéus para agradar. Seus chapéus não cabiam na minha cabeça. Mas você tirou minha mente para entrar direito. E ali estava eu, sua nova Barbie. Dizia-me que eu era única, mas então, me vi em uma prateleira cheia de outras bonecas. Elas sorriam o tempo todo, sem se mover. Mas à noite, quando você dormia, elas soltavam lágrimas silenciosas pelos olhos azuis. E esse foi meu conto de fadas, sem moral nem final feliz.