Capítulo 15

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- Mas doutor, como vou evitar o enfraquecimento do meu organismo?... Eu vou

me privar de tudo? Isso eu não quero...

- Você vai precisar de um acompanhamento médico...

O acompanhamento médico e os tratamentos anti-HIV tem por finalidade evitar o

enfraquecimento do sistema imunológico e impedir o desenvolvimento de doenças

oportunistas, permitindo que a pessoa conserve boa saúde.

- Então, no próximo mês eu espero você aqui para iniciar o tratamento e

acompanhamento.

- Humpft.

- Tem uma lista de coisas que você deve evitar e outras que você deve controlar...

- Como o que, por exemplo?

- Sexo sem preservativo.

- Mas e se a outra pessoa também for portadora do HIV?

- Mesmo assim deve se usar preservativo.

A todos os indivíduos infectados, com ou sem sintomas, devem ser considerados

propagadores da AIDS. Toda pessoa infectada desenvolve após a infecção com o vírus

HIV, que na sigla inglês que dizer: "Vírus Imunodeficiência Humana", uma resposta

imunológica com a produção de anticorpos. Com o tempo há uma diminuição nessa

resposta e os anticorpos neutralizantes não são protetores, por isso o uso de preservativo é necessário nas relações sexuais entre dois soropositivos, pois uma outra carga de vírus é injetada no parceiro, fazendo com que sua situação se agrave ainda mais.

Deixei o Centro Médico arrasado, por mais que o médico tenha tentado me fazer

entender que eu levaria uma vida normal, eu já me via com um pé na cova, magro, doente, vegetando em cima de uma cama, a minha maior preocupação agora era com o Daniel, com que cara eu ia contar a verdade pra ele? Claro que ele não ia entender e me odiaria por isso, minha vontade era de me matar, acabar com tudo isso logo e me livrar desse sofrimento.

Fiquei aguardando o ônibus no ponto da Avenida Ibirapuera, enquanto o ônibus não

passava fiquei olhando o movimento dos carros e ônibus que passavam por ali, ao mesmo tempo eu tinha vontade de me jogar na frente de um deles, com o resultado do exame na minha mão eu chorava sem parar, eu estava de óculos escuros que dava pra disfarçar um pouco, mas não evitava alguns olhares curiosos das pessoas. Entrei dentro do ônibus decidido a me matar, fui pensando em como eu faria isso o caminho todo, não sei se era a coisa certa a fazer, nessas horas a gente nem pensa, alias, só pensa que vai morrer, mas no ato do desespero eu não sabia mais o que era certo ou errado, só pensava no jeito mais fácil de acabar com os problemas. Quando cheguei no condomínio o porteiro queria me dizer algo, mas uma moradora o interrompeu fazendo algumas perguntas, eu nem dei importância, passei direto e o elevador já estava parado no térreo, abri a porta da sala cabisbaixo, triste, a Dani estava sentadinha no sofá abanando o rabo, ao lado dela estava o Daniel me aguardando, na hora eu gelei, fiquei ali na porta paralisado.

- O quê você faz aqui?

- Como assim o que eu faço aqui? Te liguei a semana inteira, mandei e-mail,

torpedo, te procurei no serviço e na academia, mas nada de te encontrar. Você está fugindo

de mim?

Ele veio se aproximando de mim na tentativa de me beijar, meu coração doeu, minhas pernas amoleceram, era tudo o que eu queria, beijar aquela boca gostosa, tocar

naquele braço musculoso, mas na hora em que ele ia me abraçar eu desviei.

- Precisamos conversar sério...

- O quê está havendo?

- Nosso namoro termina aqui. (Jogando a chave em cima da mesa).

Seus olhos começaram a lacrimejar. Eu também não consegui conter a emoção,

olhando para seu rosto era obrigado a por um fim em uma linda história de amor, que eu o amava demais eu não tinha dúvida, o meu medo era passar essa maldita doença pra ele, isso eu não queria, e aquele dia ele estava tão bonito... Barba por fazer, baby look branca, perfumado, calça jeans meio caída mostrando a cuequinha, carinhoso como sempre...

- Mas terminar como? Por quê?

Claro que eu não ia contar para ele a verdade, se ele fosse me odiar, era melhor ele

pensar que eu não o amava mais, pelo menos depois de um tempo ele me esquecia e tudo bem, mas por dentro eu estava gritando, eu o amava muito, não seria fácil dizer ao homem da minha vida que queria terminar o relacionamento, por amá-lo demais eu tomei essa decisão.

- Mas como você não me ama mais se a última vez que nos vimos você me jurou

amor eterno?

- Eu pensei bem e mudei de idéia.

Dentro de mim eu dizia que o queria, o desejava, que ele era tudo pra mim.

- Mentira... Olhe nos meus olhos e diga que você não me ama mais.

Pegando pelo meu braço e encostando aquela boca carnuda próxima da minha eu

quase não resisti, eu já não sabia se tremia de nervoso ou por sentir sua pele encostar na

minha.

- Por favor, me deixe em paz, some da minha vida, me esquece.

- Como posso esquecer de todos os momentos que passamos juntos? Nosso amor...

Me diga como eu posso viver sem você?

- Vai ser melhor se você me tirar da sua cabeça...

- Não posso tirar da cabeça o que está no coração.

- Por favor, não insista...

- Eu te amo como nunca amei ninguém em toda minha vida, é a primeira pessoa que

me fez e me faz feliz em todos os momentos, que me completa, que me satisfaz em todos os sentidos, não faz isso comigo...

- Desculpa... Desculpa...

- Eu te conheço, Bader. Você está escondendo alguma coisa...

- Eu não estou escondendo nada...

- Você está mentindo...

Me assustei quando ele deu um soco na parede.

- Mas tudo bem. Eu vou embora, mas vou te levar comigo dentro do meu peito...

- Vou esperar até você mudar de idéia, nosso amor é muito bonito pra acabar

assim... Nem que eu passe a vida toda esperando por mais um beijo seu...

Ele batia no peito e as lágrimas desciam como um rio de encontro ao mar,

chorávamos juntos, mas seria loucura naquele momento contar a verdade.

- Daniel...

- Porque o que eu sinto por você é verdadeiro e forte.

Ele saiu chorando de casa batendo a porta, me abaixei no canto da parede e chorava

demais, minha vida estava sendo destruída, minha felicidade havia chegado ao fim. Muitas e muitas vezes eu me imaginei vivendo ao lado do Daniel para sempre, sonhava em como seria nós dois velhinhos, dividindo a mesma casa, cuidando um do outro, vivendo um parao outro, mas esse sonho foi quebrado por uma alma pobre, uma pessoa maldita que havia me passado uma doença e se quer teve a dignidade de me encarar, acabei entrando em depressão.

Meu petit ( romance gay )Onde histórias criam vida. Descubra agora