Três

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Cheguei à delegacia por volta das duas horas da manhã. Me fizeram as mesmas perguntas que haviam feito antes, mas agora em um tom mais agressivo. Pareciam querer me pressionar a confessar logo alguma coisa. Ou, talvez, eles esperassem que minha reação fosse outra ao saber que o sangue encontrado no quarto de Julia era dela mesmo. Acho que queriam que eu gritasse, chorasse ou coisa do gênero, mas não fiz. Eu fiquei lá, sentada naquela cadeira fria olhando as bolhas de café do meu copo estourarem. Devem ter estranhado minha reação.

Humberto não estranhou. Ele sabe que já passei por aquilo antes. Sabe como lidei com aquilo tudo. Ele era meu vizinho na época em que minha mãe foi morta em casa. Foi o pai dele que me encontrou, em estado de choque, observando o líquido vermelho que percorria pelo o chão da sala. Eles viram como fui forte, apesar de tudo. Então ele não esperaria menos de mim agora.

- Ela está em choque. - A policial que estava com o delegado em minha sala, disse baixinho a outro policial. Ela pensou que eu não ouviria.

Eu não estava em choque. Não agora. Eu estava tentando me concentrar. Me lembrar de qualquer detalhe que antes eu não tinha percebido. Não seria chorando que eu conseguiria.

Os dois policiais saíram da sala por um momento e deixaram Humberto e eu a sós.

- Você acha que ela está morta?

- Não sei, Aila... - Ele olhou para baixo. Faz isso quando está mentindo.

O delegado voltou com os papéis do nosso interrogatório para que nós assinássemos. Eu olhava para Humberto e via nele um desconhecido.

- Ela tá morta? - O delegado olhou para mim, surpreso.

- Ainda não sabemos. As buscas ainda continuam. - Disse enquanto organizava os papéis na mesa.

- Seja sincero delegado, você acha que tem possibilidades de Julia ainda estar viva? - Ele recuou. - Pode ser sincero.

- Senhora, pela quantidade de sangue extraído e a quantidade de machas, tudo indica que ela perdeu muito sangue. - Eu não fiz mais perguntas.

Nós terminamos de assinar os papéis e saímos da sala de interrogatório para a de espera.

Amélia já estava sentada lá, sem Daniel. Ele ainda estava em uma outra sala com uma psicóloga e um policial. Acho que estavam tentando ver se ele falava algo ou queriam ele longe de nós.

Amélia parecia inquieta, balançava a perna direita constantemente e respirava rápido. Ainda não olhava para mim. Notei ela olhar para os sapatos de Humberto duas vezes. Eles estavam sujos.

- Quando vou poder ver meu filho? - Eu disse à policial que estava ao meu lado.

- Eles já estão acabando, senhora Rabello.

Ficamos por, mais ou menos, uma hora esperando até que Daniel saiu da sala. Ele parecia abatido. Correu quando nos viu, mas foi em direção à Amélia. Ela o abraçou forte.

O delegado apareceu logo atrás dizendo que precisava falar conosco novamente. Fomos até ele.

- Daniel disse que a sua tia Julia foi quem o colocou para dormir. Ele disse que não lembra de ter visto a senhorita Queiroz em momento nenhum depois que vocês saíram. Ele não escutou nada. - Ele respirou fundo. - Ele disse que dormiu em sua cama e acordou na sala no escuro.

- Nosso filho é sonâmbulo. Já o encontramos em várias partes da casa durante à noite. - Humberto disse. - Ele nunca lembra como foi parar nos lugares.

- Entendo.

- O senhor já tem mais alguma informação sobre o que aconteceu? - Eu perguntei.

- Infelizmente, sim. - Ele passou a mão na testa. - Encontramos mais sangue na casa. - Eu fechei os olhos e respirei fundo. - As marcas foram limpas também. Elas vão do quarto ao fim da escada. Depois são pequenas manchas, provavelmente gotas, que vão até à entrada principal. - Ele olhou para mim. - Tudo indica que ela subiu em algum carro ou...

- Foi colocada lá. - Eu terminei a frase.

- Estamos verificando as marcas de pneus recentes e olhando as câmeras de segurança da redondeza. - Ele pôs a mão em meu ombro. - Nós vamos encontrá-la.






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Hey, você que chegou até aqui: Muito obrigada, viu?

Espero que esteja gostando e se estiver, não esqueça de dar uma estrelinha pra mana aqui, ok? (Isso ajuda a divulgar a história para mais pessoas e também me deixa pra lá de feliz!)

E aí? Já sabe o que aconteceu com Julia? Também tô curiosíssima. Nem parece que foi eu que escrevi huahau :3

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