Seis

31 5 7
                                    

Cinco dias depois do crime

- Mamãe, tá doendo... - Daniel disse colocando a mão em cima da cabeça.

- Já estamos chegando, amor. - Eu o observava pelo retrovisor.

- A Titia Amélia vai tá lá?

- Ela não é sua tia. E, não, ela não vai estar lá. - Eu olhei para Humberto dirigindo. Estava despenteado e tinha olheiras. - A mamãe e o papai que vão cuidar de você agora, tá?

- E a titia Julia?

- A titia Julia também, mas você tem que fechar os olhinhos e pedir, como eu te ensinei antes.

- Por que ela tá lá no céu, né?

- Isso mesmo, meu amor. Ela é um anjinho agora.

- Eu tô com saudade dela, mamãe.

- Eu também, meu amor. Eu também...

Observei a estrada enquanto seguíamos. Estava mais deserta que o normal, exceto por alguns carros de emissoras que iam e viam. Eles estavam fazendo de tudo para obter mais informações sobre o que aconteceu, já que a polícia não dava detalhes para não comprometer as investigações.

A perícia liberou nossa casa após cinco dias. Estávamos voltando, mas eu não queria isso, na verdade. Queria ficar longe dali, ir para nossa outra casa que fica no centro, mas não podíamos por conta das investigações que aconteciam ainda. Nós só decidimos sair do hotel e voltar porque sempre tinha algum repórter disfarçado de hóspede que tentava descobrir algo sobre o caso da minha irmã e não aguentávamos mais ser perseguidos por eles.

Daniel estava feliz em saber que voltaríamos. Estava empolgado, apesar de não estar se sentindo muito bem nesses últimos dias. Acho que estava com saudade de seus brinquedos e do nosso cachorro, com quem sempre brincava.

Bolt, o segundo cachorrinho preto dele, ficou aos cuidados de Antônia. Ela ficou com ele em sua casa, já que não poderíamos levá-lo ao hotel. Daniel estava ansioso para vê-lo novamente. Era bom ver que ele pensava em outras coisas.

Humberto parecia não se importar se voltaríamos ou não. Desde quando Amélia foi presa, ele parece distante, em outro mundo. Fala pouco, não dorme direito e vive pensativo. A traição dela o afetou mais do que eu imaginava. Confesso que não esperava por isso.

Chegamos em nossa casa depois de quarenta minutos no carro. Antônia nos aguardava em frente à ela segurando a coleira de Bolt. Ela parecia feliz em nos ver.

- Boa tarde! - Ela disse segurando o cachorro que, mesmo filhote, tinha uma força absurda.

- Boa tarde, Antônia! - Eu saí do carro. - Vem cá. - Ela seguiu em minha direção e trouxe o cachorro consigo. - Pode soltar ele já... - Ela abriu um sorriso. - Obrigada por tomar conta do Bolt. - Ela o soltou e ele correu em direção ao Daniel, dando latidos e o lambendo todinho. O derrubou no chão e Daniel deu aquela risada gostosa que eu amo ouvir.

- Nada, patroa. - Ela gosta de me chamar assim, apesar de eu falar que ela pode me chamar pelo nome. Antônia trabalha comigo desde que me casei com Humberto. - Esse bebezinho quase não me deu trabalho. - Observou Daniel brincar com Bolt, depois olhou para Humberto. - Boa tarde, seu Humberto. - Ele apenas acenou com a cabeça e entrou sem olhar para ela.

- Você pode me ajudar com as malas? - Eu perguntei à ela.

- Claro, senhora. Vou pegar o carrinho.

- Não! - Disse alto demais. - Eles trouxeram aquilo de volta!?

- Pegaram o carrinho? - Ela franziu o cenho.

EvidênciasWhere stories live. Discover now