Prologue

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O homem caminhava com uma expressão irritada, seus passos eram firmes e faziam o sobretudo que vestia balançar conforme as passadas, trazendo-lhe uma imagem ainda pior da que já circulava por entre os alunos daquela universidade. Ele odiava aquele lugar e odiava as pessoas ali. Porém, sua irritação, dessa vez, vinha da descoberta de que seus colegas de trabalho, - e melhores amigos - trabalhavam juntos em uma nova pesquisa sem se dar o trabalho de informa-lo.

Carregava em suas mãos a prova da traição de seus amigos. Uma caixa, vinda de uma escavação arqueológica em Ceuta, uma cidade espanhola situada no continente africano.

Ao avistar no final do corredor a porta com uma pequena placa dourada escrita "Dr. Dumort", ele torceu o nariz, segurando a caixa com mais força. Posicionou-se, respirou fundo e bateu duas vezes na madeira clara, entrando logo em seguida, tendo a certeza de que não encontraria nenhuma cerimônia por não esperar.

E estava certo, o dono da sala, um moreno de barba rala e cabelos bagunçados, estava sentado em sua cadeira lendo um livro - cujo nome não é importante recordar - e tomava seu chá, nem ao menos se importando com a presença do outro.

- Arthur, isto chegou hoje para você - falou o visitante, torcendo o nariz - Veio de Ceuta...

Arthur levantou os olhos para encarar os do visitante. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Abrindo um pequeno sorriso, pediu para que o amigo deixasse a caixa sobre sua mesa.

- Quando vocês pretendiam me contar?

- Quando tivéssemos mais provas. Sabemos que você não acredita em nada sem base ou fatos, e...

- Não, - interrompeu o outro - eu não acredito. E não acredito nessa desculpa também. Eu não sou nem um pouco idiota, Arthur. Sei que não me querem envolvido. Mas temos um contrato, meu caro. Querendo ou não, vocês terão que me aturar até que ele seja desfeito.

E, batendo o pé, deixou a sala. Arthur permaneceu olhando a porta por um tempo, esperando que o amigo voltasse e deixasse ele se explicar. Porém, sabia o quão difícil seria que o amigo entendesse o motivo de tanto mistério ao redor daquele projeto. Por fim, soltando um longo suspiro e puxando a caixa para mais perto, Arthur começou a desempacota-la.

O primeiro item que pode ver ao abrir o embrulho foi uma carta, lendo-a logo em seguida:


Ceuta, 1991.

Querido amigo Arthur,

Como tem passado? Espero que tenha alcançado algum progresso nas pesquisas por ai. A Inglaterra me faz falta. Sinto por não te acompanhar nisso, mas, por outro lado, trago boas noticias de minha pequena "missão" em Ceuta.

De fato, as fotos que recebemos eram pouco precisas, mas, como você havia suposto, realmente existia algo relacionado à nossa pesquisa aqui. Um pequeno baú - o mesmo da foto - já havia sido retirado das ruínas, mas ainda não foi aberto, pois está fechado por uma espécie de quebra-cabeça. Divirta-se tentando abrir o mesmo.

Até agora, só sabemos que a Basílica está relacionada à atividade mercantil... Talvez fora assim que o baú chegou até aqui? E, apesar de grande parte da arquitetura ser nos moldes norte-africanos, grande parte do que achamos aqui tem alguma relação com Roma. Bem, e as ruínas da Basílica Tardorromana acabaram de ser declaradas como sítio arqueológico, então ainda há muito para ser descoberto aqui, e sinto que terei de permanecer neste lugar por mais algum tempo.

Espero encontrar mais pistas para nos ajudar com a pesquisa central; mas, já que a mesma está parada há um tempo, não seria hora de abandona-la por uns dias? Ou semanas? Talvez você devesse dar mais atenção às pesquisas aqui em Ceuta. Eu apreciaria a sua companhia, meu amigo.


- Ele esqueceu-se de assinar - riu ao terminar de ler a carta - Ah, Benny, o que faço com você?

Pousando a carta em cima da mesa, releu o último paragrafo e, com um breve suspiro, resolveu recusar o pedido do amigo. Não, aquela não era a hora de desistir do tesouro. E apesar do receio do amigo, sabia que o mesmo não o abandonaria. Espiou o interior do pacote novamente, retirando o pequeno baú. Observou a fechadura por alguns segundos, manuseando o objeto com cuidado. Era feito de madeira escura, sem muitos detalhes. O quebra-cabeça, porém, não fora muito difícil de resolver. Benjamin nem tentara.

De toda forma, algumas horas foram necessárias para que o baú estivesse aberto. Arthur por sua vez, adorava trancas bem elaboradas. Porém, ficara um tanto desapontado com o conteúdo daquilo, mesmo não esperando algo relevante. No interior do baú, uma pequena chave dourada repousava.

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