2016
Um insuportável bater na porta era tudo o que se podia ouvir naquele momento. O som já estava terrivelmente alto e piorou quando Alice – a mulher que estava batendo na porta – resolveu abrir o berreiro. Ela gritava em meio das mais diversas ameaças de castigo, o nome da filha. Enquanto isso, do outro lado da porta, a menina permanecia imóvel, sentada em sua cama. Os cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo, e uma expressão séria ilustrava seu rosto. Aquela não era uma cena incomum no dia-a-dia da família Dumort; mãe e filha brigavam o tempo todo, provocavam-se e tentavam enlouquecer uma a outra. Era insuportável.
Apesar do escândalo feito por sua mãe, a jovem ruiva não planejava sair dali tão cedo. Não antes de irritar a mulher do lado de fora por completo. E isso não era tão difícil. A garota apenas não queria ter de lidar com Alice tão cedo.
- Margot! – pode ouvir assim que o bater na porta cessou – Estou te dando mais dez minutos ou então irei te tirar dai a força! Você está atrasada!
Margot arqueou uma sobrancelha. "Nossa, estou morrendo de medo", pensou. Com um profundo suspiro, deixou que as madeixas fugissem do simples penteado, refazendo-o novamente logo em seguida. Embora aquilo não fosse necessário, era uma de suas várias manias. Levantou-se e caminhou até a porta, tentando descobrir se sua mãe ainda estava atrás dela. Não conseguiria fugir por muito mais tempo depois que saísse. E preferia sair por si mesma. Sabia que a mãe não mentira quando ameaçara tira-la dali a força caso contrário.
Mas ela ainda conseguiria manter-se longe de suas obrigações por mais um tempo. Abriu a porta rapidamente e correu para a escadaria, escorregou pelo corrimão – sua mãe odiava isso – e, ao invés de ir até sua mãe na cozinha, caminhou na ponta dos pés até a biblioteca, na direção oposta. A biblioteca de seu avô era sua parte favorita da casa. Havia algumas dezenas de estantes que se estendiam do chão até o teto, repletas dos mais diversos livros; ela já havia lido grande parte deles, e praticamente vivia ali. Correu os olhos pela sala procurando por seu avô e, o encontrou guardando alguns livros em uma prateleira mais alta.
- Bom dia, vô. – disse sorrindo enquanto parava ao lado da escada onde ele estava apoiado.
- Bom dia, querida. – ele respondeu sem desviar a atenção dos livros – Estou guardando estes daqui, já que são mais antigos. Mas cheque-os para ter certeza que você já os leu.
- Sim senhor. – ela levou a mão à cabeça, prestando continência, e recebeu um sorriso carinhoso em troca.
- Você não está fugindo da aula de francês de novo, está? – ele perguntou mesmo já sabendo a resposta, tanto que nem esperou a menina responder algo – Sabe que sua mãe quer apenas o seu bem, não é?
- Corta essa, vô. – Margot disse, bufando – Ela quer que eu me torne uma versão menor dela, e isso não é o melhor... E convenhamos que já lido bem com francês. Não preciso de mais aulas chatas.
- Isso não está aberto à discussão, garota. – dessa vez, encostada a porta com os braços cruzados, fora Alice quem falara – Seu avô está cansado, deixe-o em paz.
Margot cruzou os braços e resmungou algo, imitando a mãe. Sem esperar mais e já sem paciência (algo que a mulher tinha em falta), Alice cruzou a sala e puxou a menina pelo braço, arrastando-a para fora da biblioteca. Ela estava machucando a filha, e sabia muito bem disso. O velho homem ali presente apenas observou a situação de seu canto. Sabia que não era capaz de acabar com a rixa entre as duas.
- Você irá para Paris em dois dias, precisa de pelo menos de um domínio básico do francês.
- Eu já decorei os livros, mamãe. – Margot disse revirando os olhos, mas sem demonstrar resistência ao puxar de Alice – Por favor, eu não preciso de mais aulas, e nem quero ir para Paris estudar sei lá o que. E, além disso...
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The Code
Misteri / ThrillerO que você faria caso descobrisse estar preso até o último fio de cabelo a uma confusa e perigosa aventura? Os descendentes de três famílias - interligadas por intrigas, mágoas e, principalmente, seus patriarcas - se veem nessa situação. E de quebra...