The Code

The Presage

Reuniões familiares podem ser absurdamente chatas. Principalmente quando os familiares em questão tratam de assuntos não importantes. Aquela reunião que estava para acontecer podia ser interpretada de duas maneiras. Mas, do ponto de vista de James Arvensia, tal convenção era uma perda de tempo. Interação social não era o ponto forte dele, e aquelas situações o deixavam nervoso. Ao menos, tal reunião aconteceria em sua casa, e o mesmo não precisaria sair dela. Ele agradecia silenciosamente por isso.

Folheava um livro qualquer, mas não estava realmente interessado nele. Aquela era uma narrativa lenta e mórbida na opinião dele. O tempo parecia não se mover, e ele olhava constantemente o relógio digital. Ele estava acostumado ao tédio e situações do tipo, e geralmente lidava bem com elas. Mas naquele momento, gostaria que qualquer coisa acontecesse. É biologicamente, e literalmente, impossível morrer de tédio, mas ele sentia que estava prestes a sucumbir.

Olhou de relance para os pais no sofá ao lado da confortável poltrona branca onde o mesmo repousava. Sua mãe folheava uma revista científica e o pai pesquisava algo em seu notebook. Ele bufou levemente e fechou o livro que estava em suas mãos, arquivando aquela leitura por tempo indeterminado. Sua mãe levantou o olhar em sua direção, percebendo a tamanha inquietação dele. O mesmo engoliu em seco, e tornou a encarar o relógio. Aquela espera era sufocante.

— James, o que o atormenta? – a mãe resolveu cortar o silêncio. Sua voz era carregada de doçura, mas certa rigidez também era perceptível.

— O atraso dos convidados, – ele disparou alguns segundos depois. Em parte, era verdade. Pontualidade era uma virtude e tanto segundo James – e talvez, a vontade de não vê-los.

— Não seja assim, meu filho. Ao fim do dia, você terá mudado este pensamento. – ela sorriu minimamente para ele, que bufou novamente. A mesma voltou a folhear a revista em suas mãos.

Se ele não detestasse tal ato, teria rido.

O rapaz apenas levantou-se e dirigiu-se ao cômodo vizinho, uma espécie de biblioteca, a fim de guardar aquele importuno livro. Era um lugar agradável e, apesar de relativamente pequeno, conseguia abrigar uma quantidade significativa de livros. As estantes – onde os livros estavam organizados por ordem alfabética – eram de uma madeira escura, que contrastava bem com o papel de parede creme do lugar. Curiosamente, aquele ambiente tinha um ar moderno e antigo ao mesmo tempo. James deixou o bendito livro sobre uma mesa próxima à entrada e jurou nunca mais tocar naquilo.

Além do papel de parede, alguns quadros ilustravam as paredes da biblioteca. As obras – que variavam entre expressionismo e surrealismo – foram escolhidas a dedo pelos pais de James. Ele adorava as telas e sentia que era capaz de passar horas naquele lugar, observando-as e refletindo sobre seus significados. Sua favorita mostrava um homem afundando em águas escuras enquanto sombras imóveis o observavam, pouco interessadas em ajuda-lo. O título da obra era "Círculo de Amigos".

Pouco tempo depois, a campainha casualmente veio a tocar, tirando James de seus devaneios. Ele não tinha pressa para deixar a biblioteca, e perguntou a si mesmo se alguém notaria sua falta caso não comparecesse a reunião. Ele podia ouvir os cumprimentos acalorados, enquanto as vozes tornavam-se mais altas na medida em que avançavam do hall à sala de estar. Por fim, criou coragem, respirou fundo, e relutante, deixou aquele cômodo.

Ao cruzar a porta e sentir os olhares pousarem nele, sentiu seu corpo estremecer. James odiava ser o centro das atenções. Odiava que reparassem nele. Odiava não saber o que se passava na mente dos outros ao visualizarem-no. Nestes momentos, ele gostaria de arrastar-se para debaixo de uma pedra. Apesar de seu tom gélido e sem emoção, o rapaz era na verdade uma caixa de dúvidas e medos. E ele odiava, acima de tudo, admitir isso.