2. Mudança de planos

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Por Camila

Miami, 15 de fevereiro de 2016

Abri a porta de meu apartamento com toda fúria dentro de mim, nutria uma raiva que não sabia de quem sentia mais, de mim mesma por ter sido uma covarde novamente ou daquela pessoa que havia arruinado meus planos. "Quem ela pensa que era para se intrometer assim na vida de alguém? Como uma pessoa pode querer interromper algo que não lhe condiz?" Estava em um frenesi de sentimentos ali, misturava tanta confusão em minha cabeça que até pensar doía, eu estava frustada, mas na verdade ainda não conseguia decifrar o motivo. A primeira vista, seria apenas mais uma tentativa falha, porém algo me causava a percepção que não seria igualmente como das outras vezes. "Por que?"

O resto do dia seria longo, eu tinha duas opções ali, chorar o resto da noite inteira obrigando meus lençóis a aguentar minhas lástimas costumeiras ou sair por aí pra beber e me lamentar mais uma vez sobre tudo. Ambas as opções não me agradavam, nem mesmo aquilo me despertava interesse, eu não possuía vontade de fazer nada mais além. Pra mim, ali o dia já teria cessado.

Entrei em meu quarto, tirei toda minha roupa a jogando em algum canto a primeira vista, observei tudo outra vez e um suspiro profundo veio, se libertando em seguida como se tentasse esvair toda aquela carga de meu interior, meu corpo por sua própria vontade caminhou e deitou-se sobre a cama, fiquei ali encolhida coberta pelo edredom e deixei que meus pensamentos viessem e tomassem controle, até tudo se apagar e a inconsciência de um sono motivado pelo excesso de cansaço se ploriferasse em meu corpo e me apagasse de vez.

Resolvi por fim escolher a primeira opção, já que não sou muito de beber e sempre acabo me dando mal quando resolvo fazer isso. Em minhas recordações, nenhuma das vezes que decidi beber para afagar alguma mágoa do dia ou outro motivo qualquer, eu terminava tranquila e pacífica, sempre passava da conta e acabava dispersa dando trabalho a quem estivesse comigo. Se bem que nas condições que estou, não deveria nem estar me preocupando, seria até uma forma de execução do meu plano mórbido, encher a cara e sair por aí divagando pelas ruas sem destino, quem sabe o acaso poderia me ajudar...

Comecei a pensar em tempos primórdios, em como eu era feliz antes de tudo isso acontecer, como eu achava tudo lindo e simples, e como eu era iludida com os sentimentos. Mesmo sendo enganada inconscientemente repetida vezes, eu aceitava me permitir ser feliz, porque até antes de receber o choque de realidade, eu me sentia bem, me sentia segura. Mas hoje não, eu fui transformada nisso que sou agora.

Fiquei ali deitada, por um tempo até então desconhecido, até despertar ligeiramente e perceber que a noite havia chegado enfim, não sabia que horas estava, quanto tempo o sono havia tentado em vão me descansar, mas agora sentia um pouco de fome, porém ainda ânimo nenhum para me levantar. Me mantive além um pouco absorta com o olhar fixo pela janela nas nuvens lá fora sendo levadas ao vento, estava quase adormecendo outra vez quando fui despertada por batidas fortes e insistentes na porta da frente.

A princípio resolvi ignorá-las, por hoje a dosagem de social já havia se esgotado, ninguém mais me veria, eu não estava com paciência alguma para me forçar a simpatia àquele ponto, nem eu deveria estar ali, tão pouco outra pessoa que não havia sido convidada. E as batidas se repetiram, duas, três e quatro vezes, me encolhi ainda mais no lençol tampando meus ouvidos na tentativa de ignorar seja lá quem fosse, eu não iria atender, já estava decidido, até ouvir aquela voz familiar gritar meu nome lá fora.

— Camila! Eu vou te chamar só mais uma vez, se você não responder, eu derrubo essa porta! E tenha certeza que se você estiver aí dentro e não tiver vindo me atender porque não quis, eu mato você! – Dinah esbravejava, e pelo tom evidente de sua impaciência , ela parecia estar lá faz tempo.

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