6. Ela até que não é desagradável

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Por Camila

Miami, 17 de Fevereiro de 2016

A chuva resolveu dá uma trégua hoje pela manhã, o dia começou nublado porém algumas frestas de azul apareciam naquela imensidão cinza sobre a cidade. Fui acordada pelo som estridente do despertador do celular tocando, abri os olhos com dificuldade e olhei no visor do aparelho, senti um alívio e ao mesmo tempo uma raiva passageira pois ainda faltava 1 hora pra eu ter que levantar de fato, havia esquecido de mudar o horário do despertador do dia anterior. Me virei e resolvi cochilar mais um pouco.

[...]
Estava uma correria hoje no jornal, havia muitas matérias acumuladas e eu precisava terminar tudo até o final do expediente, pois muitas delas deveriam ser impressas para a quinta-feira.

Meu forte era a parte de entretenimento, falar sobre música, teatro, dança e todas as artes culturais, e notícias sobre eventos sempre me fascinavam bastante. Fazia tempo que eu não ia pras ruas cobrir algum evento, hoje em dia recebia apenas o material das pautas dos jornalistas, e organizava para que a diretoria coordenasse a diagramação para saber qual seria a matéria principal, para que eu redigisse e fosse pra edição.

Tinha muito material na minha mesa, e eu pensei por alguns minutos como iria conseguir tempo para organizar tudo aquilo, um auxiliar não seria nada mal. "Quem sou eu pra querer um ajudante depois de todas as regalias que eu já tinha? É como dizem, maiores poderes, maiores responsabilidades."

Esse cargo me foi oferecido e eu o honraria até o final aguardando minha prometida promoção de editora chefe, que com certeza não estaria longe, eu só precisava de um pouco mais de paciência e fazer por onde novamente.

Eu tinha consciência que as coisas poderiam andar em outros rumos daqui pra frente, eu havia trabalhado arduamente todos esses dias e não é nem questão de soberba, mas com os resultados impecáveis que eu sempre fiz questão de entregar, não almejava menos que isso e sabia que no momento, mesmo com a queda de meu desempenho, não havia mais ninguém na redação que fosse digno de tão feito. Porém minha consciência também dizia que era uma nova gestão, uma nova cabeça, que com certeza ela não me entregaria assim de bom grado uma promoção, antes eu precisaria provar que a merecia, e eu estava focada nisso.

Terminei de organizar todo o material e revisei para certificar que estava tudo ok. Resolvi então dá um tempo para recarregar meu cérebro, eu precisava de cafeína, meu corpo já estava dando alerta de cansaço e ainda eram 10h da manhã.

Deixei o computador na tela de bloqueio, busquei minha xícara em cima da mesa e me dirigi até a copa. Lá ficava logo depois da sala da diretoria no mesmo corredor então com certeza eu veria Dinah, ainda não tinha falado com minha amiga desde ontem, pois quando eu cheguei ela não estava em sua mesa, seja por algum atraso, o que acho bem improvável ou por estar realizando alguma tarefa rotineira sua.

— Bom dia, Chee!

Como já previsto, ela estava sentada em sua mesa, anotando algum recado ou possível compromisso da diretoria. Eu a cumprimentei com um sorriso, me aproximando e pausando ao seu lado.

— Bom dia, coisa linda! Como você está? – Ela respondeu me fitando dos pés a cabeça com um sorriso largo no rosto. — Nossa, mas quem você pretende matar hoje assim? Hmm, acho que tenho um palpite.

E me olhou com o rosto um pouco virado de lado com a mão no queixo e uma cara maliciosa ainda me avaliando.

Eu não estava tão arrumada assim, ela apenas gostava de exagerar e costumava sempre ficar levantando meu ego de uns tempo pra cá. Eu achava isso adorável de qualquer forma, suas loucuras e fofuras sempre me divertiam, e eu tinha Dinah como uma irmã de coração muito querida.

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