Capítulo 1

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Era apenas o início da noite. Os turnos ainda não haviam sido trocados quando um estrangeiro chegou à porta do castelo. A cultura local havia sido tão influenciada pela européia que aquele castelo feito de pedras não tinha mais do que cinquenta anos e praticamente nenhuma função defensiva frente às armas modernas mas era símbolo de riqueza e embora não percebessem de subserviência a outra cultura, de acordo com os estudiosos tratava-se de um estilo neo-medieval. Na Europa riam daquilo por uma região tão atrasada se espelhar na pior época da história a dita idade das trevas. Independente da verdade ou não nesse pensamento o que ocorria no interior do palácio era muito mais interessante. Um estrangeiro era aguardado no Palácio. Não foram dadas maiores informações sobre aparência idade, vestimenta ou sequer o motivo, apenas que se tratava de um estrangeiro e aquele ali certamente era um. Após passar por uma dúzia de revistas foi direcionado ao chefe de estado. O guarda como todos os outros se assustou com a aparencia dele mas tentou não deixar transparecer e cumpriu o protocolo.

- Chefe? - O soldado falou receosamente colocando a cabeça para dentro da sala do trono.

O ex-presidente, agora monarca daquele pequeno país africano apenas assentiu com a cabeça, esperando a notícia.

- Ele está aqui.

O rei sorriu se levantando e começou a esfregar as palmas das mãos. Caso fosse verdade o que ouvira sobre ele a guerra seria ganha com extrema facilidade. A guerra já durava vários meses e Mukumbo, o líder revolucionário, já tinha mais apoio do povo que ele, já não conseguia novos soldados nem através do dinheiro, que escaceava com os gastos da guerrilha, nem através do medo, já a algum tempo suas tropas só vinham recuando, fazendo com que o povo parasse de teme-lo como antes. Havia até mesmo perdido seu castelo de verão e diziam que os revoltosos estavam preparando uma ultima investida. Na capital a comida já começava a faltar com as estradas bloqueadas por aqueles bandidos. - "Mas tudo agora será passado, dizem que ele é o maior assassino da história. Cortem a cabeça e o corpo morre."

- Mandem-no entrar.

- Sim senhor. - Quando o soldado voltou-se à porta percebeu que o estrangeiro já não estava lá parado. Olhou para o corredor, deixou os olhos cobrirem todos os cantos mas não o viu. Seu coração acelerou ao pensar no que o rei faria com ele se descobrisse que o "convidado" havia sumido, ou pior ainda se achasse que ele estava mentindo.

-Por favor saia e feche a porta.- Uma voz fria fez-se ouvir provindo de algum lugar do salão. - Um rapaz que aparentava não ter mais que 15 anos estava de costas para o soldado examinando uma antiga armadura cerimonial. - Isso tinha alguma serventia na guerra? - Perguntou se abaixando e apontando para um tamanco que compunha a peça.

O rei se exasperou, mas não podia perder a pose diante de um subalterno.

- Faça como ele disse. Deixe-nos à sós. - Examinou longamente o jovem. Não fazia sentido. Era claramente um estrangeiro mas não poderia ser o que contratou. O assassino encomendado possuía mais de 15 anos de experiência, tendo servido nas forças especiais americanas e sido agente secreto internacional antes de passar a agir por conta própria. Devia ter perto dos 40 anos. De qualquer forma não podia temer um moleque daqueles. Possuía um botão de pânico e uma magnum .45 engatilhada embaixo de sua mesa. Talvez fosse apenas um garoto de recados.

- Por favor sente-se.

- Ok. No sofá ou na cadeira em frente à pistola que está segurando embaixo da mesa? - Ele havia notado sua mão no cabo da arma? Ficou aturdido e não conseguiu formular uma resposta.

- Ah! Tanto faz. - O menino se sentou na cadeira em frente à ele com as pernas dobradas segurando os pés com as mãos. Como se prestes a levantar vôo balançava os joelhos com velocidade efetuando o que parecia o exercício denominado borboleta.

O menino não parava de olhar ao redor. Aparentemente cansou de segurar os pés com ambas as mãos e levou o dedo mínimo (ou mindinho para as crianças) ao nariz enquanto olhava para o teto. Foi se dobrando para trás e abrindo a boca conforme a cadeirava se reclinava sobre os dois pés traseiros, abrindo a boca aparentemente impressionado com a altura do pé direito da sala. Chegou a um ângulo próximo de 60ºantes de voltar para a posição original e bufar impaciente. Levantou uma das sombrancelhase olhando fixamente para o monarca levantou dois dedos e começou a movimentá-los em círculos largos em frente à boca.

"Esse menino está me fazendo de bobo. Agora está fazendo pouco caso me pedindo para falar. Pois bem. Vamos acabar logo com isso".

- Imagino que você não seja quem eu contratei. Não é?

- É.

- Você é o moleque de recados dele?

- Não.

- Ele já foi cumprir a missão? - Na verdade como poderia sem saber a localização atual, foi uma pergunta estúpida, mas talvez ele fosse melhor do que o esperado e tivesse dado um jeito.

- Não.

- Aonde ele está agora?

- No mar.

- Ele ainda não chegou na ilha?

- Já.

- E por que então ele está no mar? Ele desistiu e está voltando? - Tremeu ao imaginar essa possibilidade. Além de ser o melhor assassino que podia contratar talvez não houvesse tempo de conseguir outro.

- Não.

- O que houve então?

- Ele está morto.

Sentiu sua pressão cair. Abriu sua gaveta para pegar um garrafa de uísque e um copo apenas para disfarçar enquanto colocava um sachê de sal inteiro embaixo da língua.

- O que houve com ele? Piratas? Foi atacado pela resistência?

- Não. - Não bastassem essas notícias as respostas monossílabicas daquele rapazote o estavam tirando do sério. Sentiu seu sangue ferver...mas talvez fosse apenas o excesso de sal consumido de uma vez.

- Estou ficando irritado, dê-me respostas mais elaboradas. Como ele morreu?

- Ah! Eu o matei.

Ninguém mais MorreráOnde histórias criam vida. Descubra agora