Quatro pt. 2 | Feriados E Os Perigos Que Eles Reservam

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Playlist Quatro.2 : Close - Nick Jonas (feat. Tove Lo).

Por Ethan Carter.

Existem coisas na vida das pessoas que merecem ser contadas. Histórias heroicas ou engraçadas que valem a pena ser lembradas. Porém acho que essa história Emma não vai querer contar para ninguém, por mais trágica que tenha sido.

Eu estava conversando com Gus pelo celular, tentando explicar que nós íamos nos atrasar mas que ainda iriamos buscá-lo, quando ela gritou. Na minha humilde opinião, gritos simbolizam dor, susto ou qualquer reação relacionada a um sentimento ruim, certo?

Errado.

Para Emma, gritar não tinha nenhuma relação com esses sentimentos.

Eu desliguei o celular às pressas e corri, literalmente, até o quarto. Durante o caminho eu quase esbarrei na mesa de centro da sala e em uma das cadeiras da ilha. Abri a porta do quarto às pressas e não a encontrei. Varri o cômodo com o olhar três vezes e nada, depois fiz a mesma coisa só que olhando para o chão, nada. Eu estava começando a ficar estupidamente preocupado quando escutei risos vindo do banheiro.

- O que você acha de pintarmos essas paredes de vermelho? - a voz dela veio abafada por uma risada.

- Seria uma mudança e tanto - eu digo, me aproximando da porta.

- Talvez não - ela abre a porta.

Eu já tenho ideia do que aconteceu lá dentro, já sei que pode haver muito sangue espalhado, mas nada, nesse momento, conseguiria me fazer tirar os olhos dela. Nada e nem ninguém. Emma está com a mesma regata branca de antes, porém, agora, faltam suas calças e botas e eu tenho uma visão privilegiada, assim posso dizer.

- Eu preciso limpar isso tudo, você pode pegar o absorvente na primeira gaveta, por favor? - ela pede e cobre o corpo com os braços, talvez um pouco envergonhada.

Eu me viro e caminho lentamente em direção ao guarda-roupas tentando tirar todos os pensamentos sujos que passeiam pela minha mente fértil.

- Os roxos ou verdes? - pergunto depois de alcançar a gaveta e abri-la.

- Os roxos, por favor - eu os pego e me viro em direção à ela - acho que vou passar a guardá-los no banheiro - ela comunica com um sorriso sem jeito.

- Não - me altero - Vulgo, não é necessário, sou a favor de te ver assim.

Repentinamente, as coisas acabam acontecendo um pouco rápido demais ou talvez, tenham demorado muito para acontecer. Em segundos eu me posiciono à sua frente e em milésimos de segundos ela inicia um beijo agressivo e quente. Pouco tempo depois, ela está sentada sobre a pia do banheiro e eu estou a envolvendo em um beijo profundo. Eu posso ter visto a lua bem de perto, acho que foi essa a minha impressão, a gravidade tinha mudado, estávamos mais leves e ondas magnéticas nos uniam, éramos ímãs ou até astronautas flutuando em um universo sem estrelas.

Acabou tão repentinamente como começou. De alguma maneira obscura, um dos potes que ficam na prateleira caiu sobre as nossas cabeças e resultou em um susto para ela e em um galo para mim. Nada tão grave.

- Preciso terminar aqui - ela disse, limpando a boca com as costas da mão.

- Preciso colocar um gelo aqui - digo, apontando para o ponto vermelho na minha testa.

- Prometo não demorar muito - ela jura.

- Te espero no sofá - digo antes de sair do quarto.

O que, diabos, acabou de acontecer ali dentro? Não sei, mas foi estupidamente bom. Coloco a compressa de gelo na testa e me sento no sofá, enquanto a espero. Como me prometeu, ela não demorou muito. Quando veio em minha direção, Emma vestia uma calça jeans, uma blusa preta e justa e as botas pretas históricas.

- Nós já podemos ir - ela falou, se posicionando em minha frente.

- Você não quer conversar antes? - perguntei, tentando imaginar qual seria sua reação ou o que se passava pela sua cabeça naquele momento. Ela me encarou e depois encarou a parede atrás de mim.

- Eu não sei, precisamos? - ela mordeu o lábio inferior, pensativa. Esse ato simples me deu uma vontade tremenda de beijá-la de novo, mas a apreensão deu lugar ao desejo e eu me contive.

- Que tal outra hora? - sugeri, ela concordou.

Nós deixamos o apartamento e pegamos o elevador. Já estávamos um pouco atrasados quando saímos da garagem do prédio, mas isso não nos impediu de cantar todas as músicas da nossa playlist e não nos impediu de passar em um supermercado para comprar algumas bebidas para a festa e absorventes extras para Emma.

Eu sempre quis entender como isso funciona, quero dizer, eu entendo, cientificamente e anatomicamente como funciona o corpo feminino, mas não entendo como as mulheres lidam com tudo isso. A situação toda é muito complexa, as mulheres são complexas.

- No que você está pensando? - ela perguntou, faltavam três ruas para chegarmos ao prédio dos meninos.

Era uma boa pergunta, Emma costumava fazê-la a mim, por no mínimo três ou quatro vezes por dia. Ela gostava de saber sobre o que eu estava pensando, eu, pelo contrário não gostava de revelar à ela, que a maioria dos meus pensamentos eram assuntos que giravam ao redor dela, como fiz agora.

- Estou pensando no quão complexo é ser mulher - falei, lançando um breve olhar para ela e voltando ao trânsito depois.

- Complexidade não é a palavra certa. Ser mulher não é complexo, é difícil - ela tomou fôlego, para o discurso que ia começar - Todas nós, enfrentamos dificuldades todos os dias e então aparecem pessoas, não apenas homens, que se sentem corajosas o suficiente para dizer que nosso stress é culpa da menstruação e que só temos sucesso se estivermos dentro da porcaria de um padrão. A burrice dessas pessoas é que é complexa.

- Eu preciso te aplaudir, espera um pouco - estacionei o carro próximo à entrada do prédio de Gus, tirei o cinto de segurança, me virei na direção dela e comecei a aplaudi-la. Emma riu e me mandou parar.

- Tudo bem, Ethan - ela falava sorrindo - Eu arrasei, sei disso. Pode parar agora.

- Só vou parar porque estamos muito atrasados - eu disse antes de abrir a porta do carro. Nós dois descemos e caminhamos até a portaria, depois até o elevador e em seguida até o apartamento dos meninos.

Harry nos atendeu quando tocamos a campainha, ele estava sem camisa e com uma toalha ao redor da cabeça.

- Boa noite, gata - se referiu à Emma.

Eles se cumprimentaram e ela se sentou no sofá.

- Boa noite, Ethan - ele me deu dois tapinhas nas costas - Fiquem à vontade, preciso terminar de me trocar.

Harry era gente boa, mas eu não gostava do jeito que ele e Emma se tratavam. Eles se tornaram íntimos em uma única noite e ele é muito sem noção. Aproveita toda a oportunidade que tem para dar em cima dela e isso me dá nos nervos. Ela parece não perceber as tentativas, mas se percebe disfarça muito bem.

- Que cara é essa, Ethan? - questiona, após alguns minutos de silêncio.

Continua...

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Beijos, Anna.

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