Oito | Chá ou Café?

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Playlist Oito: Tenerife Sea - Ed Sheeran.

Por Ethan Carter.

Certa vez, na escola, pediram que definíssemos algumas palavras. Eu ainda era um garotinho quando essa história se desenrolou, mas por algum motivo eu tenho me lembrado dela o dia inteiro.

Cada aluno recebeu três palavras, todas elas eram coisas abstratas, em sua maioria, sentimentos. Tínhamos o período de uma hora para defini-las ou descrevê-las, ao fim do tempo nós as entregaríamos ao professor. E não passaria disso. Não era uma atividade avaliativa ou concurso do qual eu me lembraria pelo resto da vida por ter ido bem ou ter sido humilhado publicamente. Nós não precisaríamos ler o que escrevemos para o resto da turma. Era apenas mais uma tarefa, como qualquer outra.

- Eu estou completamente ridícula, Ethan - Emma reclamou pela terceira vez desde que tínhamos nos sentado no sofá.

- A única coisa ridícula aqui é o atraso do Gus - eu disse checando o celular novamente, nenhuma mensagem ou ligação dele.

- Eu acabei de decidir que não vou - ela diz, procurando apoio no sofá para se levantar.

O médico tirou os curativos da perna dela essa manhã, mas Emma ainda sente um pouco de dificuldade para se manter de pé por conta do tornozelo inchado. Antes que eu pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Augustus invadiu o apartamento sorrindo.

- Emma, Ethan - nos saudou sorridente - Precisamos ir se não quisermos nos atrasar de verdade.

- Mudança de planos - ela disse, sorrindo pela primeira vez desde que nos sentamos no sofá - Eu vou ficar. Podem ir só vocês dois.

- De forma alguma, Emma. A ideia também foi sua, a tortura é só um efeito colateral do teu plano maravilhoso - Gus se colocou na frente dela, impedindo-a de ir para o quarto.

- Sem contar que eu ficaria muito mais tranquilo se você fosse - eu me aproximei de ambos e tomei as mãos dela nas minhas.

Às vezes, o drama é mesmo necessário.

- A perna ainda dói, vou ficar melhor no conforto da minha cama.

- Faremos assim: eu faço qualquer coisa por você depois. Mas agora você vem com a gente - fiz a proposta.

Eu devia saber que me arrependeria no momento em que ela sorriu maleficamente para mim e concordou sem argumentar. Era causa ganha, eu já podia me imaginar sendo feito de escravo. Eu não disse como, brincadeira.

- Tudo bem então. É melhor irmos - Gus nos despertou.

Fomos nós três, até a caixa metálica projetada para no máximo oito pessoas. Assim que entramos no elevador eu apertei o botão do subsolo no painel e esperei ansiosamente que a imensurável tortura que essa noite seria passasse depressa.

- Qual de vocês será o mocinho? E qual será o egocêntrico devasso? - Emma perguntou, nos encarando com uma interrogação no meio da testa. - Qual é? Está óbvio para todos nós que vocês vão bajular a coitadinha.

- Uau, Emma! Eu não pensei que sua lerdeza havia te abandonado. Vamos comemorar em outro dia - Gus a provocou.

Os dois são assim, um poço de sarcasmo. Apesar da relação dele com Chris ser parecida, todos sabemos que ele e Emma brigam muito menos que o casal não assumido e que se colocariam na fogueira para ajudar um ao outro.

Quando tínhamos treze anos, mais ou menos, Emma e eu brigávamos o tempo todo e sempre que isso acontecia ela dizia que ia me trocar pelo Gus, que ele era o melhor amigo dela e não eu e coisas parecidas.

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