Prólogo

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2010


Os gritos de animação das crianças preenchiam o lugar.

No que parecia o porão da casa, encontrava-se um depósito de animatrônicos que foram construídos com o propósito de animar uma pizzaria que nunca chegou a ser aberta.

As figuras metálicas tornaram-se vítimas de testes contínuos para melhoria de performance e comportamento adequado, onde muitas vezes os poucos funcionários técnicos aplicavam o choque. E mesmo com toda essa estabilidade, o proprietário e construtor usava-os de atrativo pessoal para as crianças do bairro.

Algumas das crianças brincavam com o urso pálido e rosa, e as outras se divertiam com a bailarina e a raposa nas suas galerias. O homem dava total liberdade para elas, desde sumirem com o animatrônicos a mexerem em seus circuitos. Ele só privava esse lucro de uma garota.

— Papai, por que você não me deixa brincar com ela? — indagou a menina de cabelos dourados, sendo carregada pela mão do pai para fora da pequena sala de testes.

O maior permaneceu no rigoroso silêncio.

— Papai, você deixa as outras crianças verem ela! — insistiu a garota, tentando convencer o adulto. — Por que você não me deixa ir?

William não respondeu nada. Soltou a diminuta mão da filha, torcendo o corpo de forma que contemplasse a porta da saleta. Ignorando as crianças felizardas no interior, fechou o ádito com todas as trincas de proteção. Trancafiou-nas com a sua construção.

Ninguém poderia ouvir os berros deles.


Na noite seguinte, William reabriu sua casa para mais garotos e garotas divertirem-se com suas criações extraordinárias. Tudo ocorria bem como nos dias anteriores em que havia aberto aquilo para entretenimento infantil pessoal deles, porém sua filha continuava a desobedecê-lo.

— Papai, me deixa brincar com ela só uma vez. — a pequenina ainda contestava contra a contínua atitude do pai de retirá-la do lugar. — Ela é tão bonita e brilhante... — suspirou. — você não fez ela só pra mim?

Ele novamente ignorou os delírios. Ela não entenderia seu motivo, e nem precisava saber daquilo. Os testes continuariam e sua filha permaneceria fora da área de risco que era a animatrônica.

— Só não me desobedeça. — rilhou os dentes, cerrando o portão a sua frente e armando os trincos e cadeados.



A pequena havia entrado de penetra com algumas crianças em um amontoado levado para conhecer a atração principal da futura pizzaria de William Afton. Os gritos em êxtase predominaram quando, em funcionamento, Circus Baby preencheu um balão com a ponta da falange pálida e robusta.

Mas, pega desprevenida pelo responsável, não teve tempo de ver mais daquele show que parecia tão fantástico. Sabia que ele estava em fúria depois dela desobedecer suas ordens, mas pouco importava: havia visto um pouco da palhaça que tanto admirava.

— Papai, ela sabe encher balões! — a garotinha riu, relembrando a cena enquanto caminhava, ladeada por William, para fora do lugar. — Você já viu ela encher balões?

Os sonoros toques festivos começaram a tocar na sala da atração principal, a animando ainda mais para ver aquilo. Queria contemplar ela dançar. Ela era tão fantástica... não entendia porque seu pai não deixava vê-la.

A menina começou a forçar o punho, tentando libertar-se.

— Oh, papai, me deixa ir vê-la! — implorou.

Em resposta, recebeu um tapa forte no rosto. A marca avermelhada estampou a face chorosa, que não se atreveu a sequer gritar ou correr para longe dele. Ela sabia que havia consequências, e que poderiam ser amenizadas na situação.

Então, quando o primeiro garoto caiu nas garras da animatrônica dentro do local atrás de Afton, o portão foi fechado.



Permanecia em seu fingimento.

Estava atuando dormir para seu pai não castigá-la ainda mais, já que havia sido privada de entrar em contato com o porão por quebrar suas ordens. Mas ela tinha que ver aquela figura. Era sua.

Ergueu-se da cama, esparramando vários lençóis no chão do quarto. O lugar era totalmente decorado num tom de rosa forte, e bem a frente de um armário, espatifada, estava a miniatura de um boneco de desmontar.

A garota atravessou todos os corredores, trajando apenas o pijama na preocupação de fazer barulho. A porta do porão estava semiaberta, já que seu pai não costumava fechá-la por descuido próprio. Seria fácil adentrar lá.

Desceu calmamente as escadas que ligavam as estruturas, tateando a barra férrea de apoio para não cair devido ao escuro. Era arriscado tentar passear por ali sem alguma fonte de iluminação, mas ela teve tempo demasiado para aprender sobre aquela estrutura.

Passeou pelo único corredor, cumprimentando as desligadas Ballora e Funtime Foxy com um aceno, deparando-se com a porta daquela galeria que era proibida permanentemente de entrar.

Após arrancar as trincas e cadeados, adentrou sem cerimônias naquela saleta escura. O ádito atrás de si fechou, e viu-se presa com a figura metálica que ela sabia estar lá, ligada em qualquer canto.

Foi pisoteando pelo solo, sentindo um líquido viscoso englobar a sola de sua pantufa. Declarou como água, e, seguindo o curso, estranhou não ver mais nenhuma criança. Não estavam todas ali?

De repente, dois feixes luminescentes irradiaram de um ponto vago. O foco da luz tornou-se a diminuta figura de olhos verdes, que, encantada com a animatrônica aproximando-se de seu corpo, permaneceu imóvel por míseros segundos até Circus Baby revelar-se muito maior do que o esperado.

A robô ruiva, com um vestido da tonalidade de um vermelho chamativo, era, surpreendentemente, superior em altura do que seu pai lhe contara. Talvez ele tenha errado os cálculos...

Ou, na pior das hipóteses, para enganar crianças com a aparência infantil da atração de circo.

— Papai não está vendo. — sussurrou para ela, como se estivesse em diálogo com aquele corpo metálico. — Não conte a ele que eu estou aqui. — pediu, ainda observando os dedos férreos se contraindo.

Baby parecia estar chegando algumas coisas durante as falas da pequena.

— Eu queria ver seu show também... — suspirou em descontentamento. — não sei porque papai não me deixa te ver. Você é incrível!

O sistema de Baby processou uns momentos, chiando temporariamente após o elogio da garota. Do triângulo laranja que ficava em seu tórax, um sorvete foi expelido numa espécime de garra, aguardando ser pego pela destinada.

A pequenina deu um gritinho de satisfação, agarrando a comida e não tardando em lambuzar-se com o alimento, sorrindo.

— Onde... — distraiu-se previamente da fala com o sorvete. — onde estão as outras crianças?

O corpo diminuto estremeceu instantaneamente. Os resquícios do alimento em sua mão tombaram, e foram ladeados por uma quantia de sangue jorrando do rombo aberto em seu busto.

Em espanto, visualizou a garra que lhe servira lhe perfurando. Não havia atravessado seu peito por inteiro, pois apoiava-se nos nacos de carne interiores da menor.

Sem consciência, apenas seguindo a programação, Circus Baby puxou o cadáver para o depósito interior de sua carcaça, depositando-a lá.

Mas, durante o sequestro, as orbes luminosas sofreram uma alteração. Durante a transição, o azul foi substituído pelo verde...

E o espírito infantil prevaleceu na carcaça robótica. 

Sister Location: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora