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Richard olhava-a agora de olhos arregalados. Hazel sorria.

- É impossível!

Deu um passo em frente na direção da mesa onde ele se encontrava sentado. Mas este levantou-se e saiu porta fora.

Hazel ficou petrificada, desolada e furiosa. Tanto tempo a tentar ganhar coragem para lhe falar, e a reação dele fora sair porta fora como um cobarde que era. O mesmo cobarde que fora embora naquela noite há 8 anos. Hazel achou graça. Afinal não mudara tanto como pensara.

Uma mão poisou no seu ombro. Flynn fez-lhe um meio sorriso de arrependimento e balbuciou um “desculpa” quase inaudível.

Olhou em volta. Viu o piano de cauda do seu lado esquerdo. Dirigiu-se a ele, sentou-se, abriu a tampa. Há muito tempo que não tocava, 8 anos para ser exata.

Começou a tocar algo que aprendera em tempos agora muito remotos. Começou suavemente e foi aumentando a intensidade e a velocidade dos sons. A música ganhava vida com um simples toque dos seus dedos suaves e frágeis. “Tem de haver partilha de emoções e sentidos entre o pianista e o piano” – lembrava-se das palavras do pai.

Pai. Aquele que para além de saber tocar piano, só sabia fugir dela através de portas. Aquele que não tivera coragem de ficar e de a educar. Não quisera dar-lhe uma simples explicação. Não pensara que ao desaparecer da vida da mãe, também fugiria da sua. Da daquela menina inocente que não tinha culpa nenhuma da relação dos pais não ter dado certo.

Terminou de tocar. Uma lágrima caia-lhe pelo rosto.

- Maligna…

Hazel olhou. À entrada da porta avistou-o. Estava ali. Estava a sorrir para ela. Porque voltara?

- Essa música chama-se Maligna – Voltou a afirmar. – Fui eu que a compus. Só a ensinei a uma pessoa.

Estava agora ao lado do piano. Olhou para ele.

- Olá Hazel…

A menina sorriu e abraçou o pai. Sentia-se completa. Recuperara o pai desaparecido.

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