CAPÍTULO 1

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Caic

Paro para tomar café sentindo minhas pernas arderem depois de tantas horas em pé. Trabalho na emergência de um hospital público, e por mais que eu ame minha profissão, ás vezes penso no por que não escolhi uma um pouco menos estressante ou cansativa. Preciso de uma xícara de café para ajudar a despertar meu sono, preciso aguentar firme até o fim do meu turno. Estou fazendo um favor ao meu amigo, Trevor, que precisou resolver alguns problemas, sendo assim tive que vir trabalhar e dobrar meu horário. Tudo isso para que a enfermeira chefe não comesse o fígado dele por ter faltado sem aviso prévio.

Um sorriso involuntário aparece em meus lábios quando penso no quanto ele vai ouvir por ter faltado assim.

— Dia agitado não é? — Quem faz a pergunta é a Larissa, uma das enfermeiras que trabalham comigo.

Com seu sorriso amável e um belo par de pernas, é sempre um prazer conversar com ela. Apesar de ela ultimamente estar me dando um tratamento de gelo.

— Bota agitado nisto. — respondo, servindo-me de mais uma xícara de café. —Mas o bom é que amanhã vou estar de folga. —completo sorrindo.

Seus olhos vão para a minha boca e vejo-a respirar fundo.

— Sorte sua poder dormir até mais tarde.

— Sorte nada. Vou ter que levantar cedo para ir ver a minha mãe, se eu não for desta vez ela me deserda. — respondo em tom de brincadeira.

Ela sorri do meu comentário, mas não fala nada. Apenas sai da sala deixando-me sozinho.

Acho que ela não gostou muito de saber que eu saí com uma das meninas do turno da noite estando saindo com ela, mas sinceramente não entendo a sua reação, já que nunca tivemos nada sério. Não vejo a hora de acabar meu plantão e eu finalmente poder ir para casa descansar e amanhã ir ver minha mãe. Moro em São Paulo, mas a minha família toda mora em Araçatuba, uma cidade que fica no interior. Vim morar em São Paulo para fazer faculdade, me apaixonei pela cidade, e por todo o seu barulho e agitação. São Paulo te assusta e ao mesmo tempo acolhe, acho que por isso me apaixonei pela cidade de pedra. Assim que me formei e arrumei um emprego, comecei a juntar dinheiro para bancar minha decisão de morar aqui e não voltar para o interior. Nesta época morava de aluguel e tinha um vizinho, o senhor Antônio ou Tonho, como ele gostava de ser chamado. Ele adoeceu e algumas vezes o ajudei a ir ao médico ou comprava os remédios que ele precisava. Me cortava o coração ver um senhor naquela idade avançada morando sozinho, não tendo ninguém para cuidar dele. Quando ele faleceu, seu filho, que morava em outro estado apareceu, apenas para vender a casa. Como eu já havia juntado um bom dinheiro, a comprei com todos os móveis, já que ele não quis ficar com nada que era do seu pai, exceto alguns itens mais caros, como a televisão e a geladeira. Até hoje penso em como um senhor tão gente boa, pode ser pai de um cara tão imbecil como aquele. Acho que o senhor Tonho ficou feliz em saber que a sua casa ficou comigo e não com aquele idiota.

Termino o meu café e volto ao trabalho. Estou no corredor quando noto uma correria na entrada da emergência, corro para ajudar e vejo que estão tirando uma grávida de dentro de uma ambulância e pelo seu estado percebo que ela está em trabalho de parto.

Corremos com a maca dela para dentro do hospital, enquanto ouço seu acompanhante falar que ela é uma gestante de alto risco. Dentro da sala a correria é intensa, enquanto checo a pressão arterial dela, que esta altíssima, o médico começa a fazer os procedimentos para uma cesariana de emergência. Todo cuidado é pouco quando temos uma grávida com pressão alta, pois tanto ela quanto a criança correm risco de vida se não forem atendidos com rapidez. Todos da sala são extremamente focados, sabemos o quanto o estado da grávida é delicado e com um trabalho conjunto conseguimos estabilizar a pressão arterial da mulher. Ela foi submetida a uma cesariana, o bebê nasceu saudável e graças a Deus, ele e a mãe estão bem.

O Enfermeiro (Degustação) Onde histórias criam vida. Descubra agora