CAPITULO 2

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Trabalhar na emergência de um hospital é estressante, mas também muito gratificante. Sempre quis ser enfermeiro, desde pequeno quis ajudar o próximo e acho que é isso o que me ajuda a me manter forte nesta profissão que é tão desvalorizada. Estou parado no corredor, olhando para as macas de internados, quando vejo chegar um homem de meia idade com dores no peito.

Corro até ele, já sentindo o coração acelerar pela adrenalina que corre em minhas veias.

- O senhor tem pressão alta? - Pergunto já o deitando na maca e o levando para a sala de emergência. Ele está com dificuldade de respirar e parece estar tendo um ataque cardíaco.

Depois de constatar que ele estava com um principio de infarto ele é medicado e fica internado sobre observação. O dia continua agitado, pessoas chegam com todas as mais diversas dores e os mais diversos ferimentos, e quando finalmente tenho um tempo livre já são quase meia noite e graças a Deus as coisas estão mais calmas. Então, vejo uma correria, Joana, uma enfermeira mais velha, está correndo para buscar uma maca e grita pedindo minha ajuda. Corro até a entrada do hospital e vejo uma pequena figura caída na calçada. Me aproximo e o que vejo faz meu coração gelar: uma mulher, pequena e frágil que está com a roupa toda ensanguentada, seu vestido esta com manchas de sangue e rasgado, mostrando um pedaço de seu seio. Seus longos cabelos castanhos estão em seu rosto. Olho para a rua, mas a está hora ela esta vazia e silenciosa.

Mais que depressa corro até ela e checo a sua pulsação, antes de pegá-la no colo. Ela é leve como uma pluma. Levo-a para dentro e deito-a na maca e só aí checo seu pulso direito, realmente dando o intervalo para poder sentir sua pulsação. Na realidade eu deveria ter pedido uma maca e a imobilizado, mas nem pensei no que estava fazendo, só pensei em tirá-la daquele chão frio e duro. Solto a respiração, que nem havia percebido que estava segurando, quando toco em seus dedos gélidos. A pulsação dela esta tão fraca que preciso checar novamente para acreditar que ela esta realmente viva. Tento achar seus batimentos no pulso, mas não consigo...Coloco meus dedos em seu fino pescoço...E só ai acho um sinal de vida. Fraco, mas estável. Com ela já na maca, corremos pelo corredor, indo em direção à sala de emergência.

- Chamem a doutora Carmem. -grito, sentindo os nós dos meus dedos doerem tamanha a força que aperto a maca em que ela esta deitada, enquanto a levamos para a emergência. Outros enfermeiros aparecem e liberam o caminho entre os curiosos que estão no nosso caminho. Olho para o seu rosto, que está todo roxo, sua boca está com um corte, o sangue que está na sua bochecha e nos seus braços estão secos, sinal que o que quer que tenha acontecido com ela aconteceu há algumas horas.

De repente, seus olhos se abrem, mas estão longe, vagos e tão sem vida que novamente prendo a respiração. E aí eles focalizam em mim, e ela começa a ficar agitada, mexendo-se como se quisesse levantar e fugir. Como se tivesse visto um monstro. Sinto uma leve pressão no braço, olho e vejo que ela agarrou meu pulso e em seu desespero está cravando as unhas em mim.

- Calma, você esta no hospital e vai ficar tudo bem. - Digo sinceramente, não sei se para acalmá-la ou me acalmar.

Minha respiração esta um caos. Respira Caic, seja profissional. Tenho que lembrar isso a mim mesmo pela primeira vez depois de anos de trabalho. A colocamos na sala de emergência e a médica começa a fazer os procedimentos, Joana a ajuda, eu fico em um canto, como um observador em choque. Ela é colocada no oxigênio, enquanto a médica checa seus sinais vitais. Neste momento ela tomba a cabeça para o lado em que estou parado e abre os olhos. Por um segundo me esqueço de como respirar. Grandes olhos sem vida me encaram. Eles tem uma cor diferente, castanhos ou verdes, não sei dizer direito. Só sei que são de uma cor incomum e o medo que vejo neles é aterrorizante. Ela começa a se mover na maca querendo se levantar e ir embora, apesar da dor que com certeza está sentindo, percebo que o medo dela é direcionado a mim, ao ver o pânico que causo nela saio da sala com o coração acelerado.

O Enfermeiro (Degustação) Onde histórias criam vida. Descubra agora