O Destino

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Os dias transcorreram, e o data da maldita festa chegou. Ainda não acredito que vou fazer parte de todo esse circo, é extremamente ridículo.
Como alguém pode criar uma festa para escolher a futura esposa?

Aliás, obrigar alguém a ser sua futura esposa. Isso é uma atrocidade, mesmo vindo dele, que não consegue me surpreender. Lorenzo Franchetti, capo da Cosa Nostra.

Para falar a verdade isso não vem diretamente dele, essa festa acontece há muitos anos, é uma tradição que passou por gerações. E essa tradição diz que todo capo deve organizar uma festa quando alcançam os 30 anos, nessa idade o capo deve escolher sua esposa.

Nessa festa deve haver jovens filhas de capitães, consiglieres e capos de máfias relacionadas a Cosa Nostra. O Capo deverá escolher duas jovens e conviver com elas durante três meses, ele não poderá tocá-las até que faça sua escolha. A “sortuda” se tornará a Sra. Franchetti, esposa do capo de toda Cosa Nostra.

Eu não quero ser esposa de ninguém, tudo que me interessa é ser um soldado, enfrentar os russos, atirar, mostrar para todos que uma mulher pode sim ser forte e determinada. Por isso, não posso ser uma das escolhidas.

Eu respeito meu capo, como todos fazem, mas isso não quer dizer que goste de como ele se comporta. Lorenzo é conhecido por ser impiedoso, mata homens e mulheres por motivos insignificantes e sem pensar duas vezes. Meu pai costuma dizer que não se deve olhar nos olhos do capo por muito tempo, pois se ele ler algo errado no seu olhar, sua vida corre risco. Isso é tão patético que chega a me enjoar.

Minha mãe entra no quarto, tirando-me dos meus devaneios. Carrega consigo uma enorme caixa.

— Aqui está seu vestido querida — diz, colocando o embrulho sobre a cama.

Tenho vontade de pegar o vestido e cortá-lo em pedacinhos, talvez assim não precise ir, mas quem eu estou querendo enganar?! Papai arrumaria milhares de vestidos se fosse preciso.

— Mamma, eu não quero participar dessa palhaçada. — Choramingo.

— Eu sei meu amor, mas você tem que ir — Ela acaricia meu rosto, tentando me acalmar. — Lá estarão muitas garotas diferentes. Claro que você é a menina mais linda de toda a máfia, — Sorrio da sua pretensão. — mas se você ficar quieta em um canto, o capo não vai notá-la.

— Ficarei o mais longe possível dele — murmuro.

— Isso mesmo. Agora vamos arrumar o seu cabelo para depois você se vestir.  — Apenas assenti, me sentando no banquinho da penteadeira do meu quarto.

O vestido era realmente lindo, grudava-se nos lugares certos do meu corpo, com uma fenda na minha perna direita, na cor vermelho sangue. Absolutamente perfeito. E para quem queria se esconder, aquela nem era a melhor opção, mas precisava me enfiar nele.

Cerca de uma hora depois desço as escadas da mansão, me deparando com um lindo homem de terno preto de três peças e uma gravata azul marinho. Papà estava lindo esta noite. Mamãe era uma mulher de sorte. Mas, pensando bem, acho que papà é que tinha sorte, mamãe descia as escadas ao meu lado, estava vestindo um lindo vestido preto longo.

— As duas mulheres mais lindas do mundo — disse orgulhoso.

— Você também está maravilhoso, querido. — Mamãe pega a mão estendida por papà.

— Vamos logo para essa tortura — digo revirando os olhos.

                                °°°

A festa estava, sem dúvidas, linda. Um grande salão de baile, cheio de flores, e várias peças decorativas. Ninguém diria que trata-se de uma festa de mafiosos, e com um intuito tão esdrúxulo.
Mas, apear da decoração esconder, bastava olhar para os homens ao redor que não existiria dúvidas de seus postos. Homens elegantes em seus ternos, que exalam masculinidade e autoridade, muitos deles ao lado de lindas mulheres em vestidos caríssimos, algumas muito jovens, tenho certeza que estavam aqui para serem analisadas pelo capo. Patético!

Todos no salão olharam para um só ponto do local, por alguns segundos fiquei sem entender o que estava acontecendo, quando me virei entendi exatamente o que era. Lá estava ele em seu terno caro e elegante, aquele olhar frio e assombroso. Ele nunca exibia um sorriso, tinha aquele ar de autoridade que um bom capo deve ter.
Olhando ao redor se via alguns homens e mulheres mostrando respeito, outros admiração, e quase todos eles mostravam medo. Eu apenas o observava com indiferença.
Claro, sou mulher e sei reconhecer um homem bonito, e Lorenzo estava acima do termo "bonito", ele é lindo e másculo, o sonho de qualquer mulher, mas eu não era qualquer mulher, estou aqui obrigada por meu pai, não quero estar aqui, e a beleza dele não irá mudar minha opinião sobre isso.

                              °°°
Cansada daquela palhaçada resolvi que tomar um ar era o melhor a se fazer, então caminhei para a área aberta da festa e fiquei olhando o céu que estava deslumbrante esta noite. Ao longe pude ouvir um choro baixo, olhei para os lados e não conseguir ver ninguém, comecei a caminhar até o som e me deparei com uma jovem sentada em um banco chorando baixinho. Me perguntei se ela estava chorando por que, assim como eu, não quer estar aqui. Me aproximei, e ao notar minha presença ela levantou o rosto, era uma menina que não passava dos vinte anos. Tive certeza disso no primeiro olhar.

— Ei, você está bem? — indaguei com um sorriso amarelo.

— Estou. — Sua voz saiu como um sussurro. Sentei-me ao seu lado, e como um gesto de tranquilidade peguei sua mão.

— Por que está chorando?

— Apenas me apaixonei pelo cara errado — disse. Não era isso que eu esperava que ela fosse dizer. Não entendo nada sobre isso, nunca me apaixonei, então como poderia ajudá-la?

— Nossa, isso deve ser bem estranho, quero dizer... É... Eu não sei nada sobre isso, nunca me apaixonei, mas sempre escuto usarem o termo "fodeu" quando é relacionado à paixão, então eu acho que fodeu para você. — Solto um risadinha para animá-la, com certeza funcionou, ela abre um largo sorriso.

— Não tenho dúvidas disso. — Assente. — Sou Sofia, como você se chama? — Ela me estende a mão.

— Sou Katherina, prazer em conhecer você chorona, quero dizer, Sofia. — Aperto sua mão e sorrio.

— Muito engraçadinha você. Não sou chorona, apenas estava em um momento sensível. — Ela mostra a língua em um gesto infantil, solto uma gargalhada. Já gostei dessa doidinha.


— Ok Srta. sensível, que tal entrarmos? Está realmente ficando frio aqui fora.

— Verdade, vamos entrar antes que meu irmão sinta minha falta e venha me buscar aos puxões. — Ela levanta-se arrumando o vestido e passando os dedos sob os olhos para disfarçar a maquiagem borrada.
Reviro os olhos com o seu jeito de falar do irmão, com certeza o supracitado é um desses mafiosos que se acha melhor do que as mulheres. Trágico.

— Seu irmão é tipo homem das cavernas?

— Quase isso, mas ele ficou assim depois que se tornou capo.

Merda.

Ela só pode estar de brincadeira. Tem muitos capos nessa festa, não é possível que eu tivesse a má sorte de falar com a irmã do capo que organizou toda essa merda que estou sendo obrigada a fazer parte.

— Capo? Seu irmão por acaso é Lorenzo Franchetti?

— Um deles sim, meu outro irmão é Bernardo Franchetti, Capo de Nova York.

Ela é irmã de Lorenzo, e eu achando que ela estava chorando por que não queria se casar. Parece brincadeira de mal gosto, quanto mais eu tento fugir, mais o destino me empurra para perto desse homem.

(DEGUSTAÇÃO) A ESCOLHA DO CAPO - Série Escolhas da Máfia Onde histórias criam vida. Descubra agora