Parte 7

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Minhas mãos tremem de ansiedade e eu penso em um milhão de coisas ao mesmo tempo. Releio as palavras no papel sujo para ter certeza de que não estou vendo coisas e meus lábios formam um sorriso largo. Vou embora hoje? Finalmente vou sair daqui?

Penso em começar a juntar minhas coisas, mas não consigo pensar em nada que queira levar daqui. Qualquer um desses objetos me trará lembranças que eu quero esquecer. Tiro meu vestido azul de dama da corte e visto o vestido de minha mãe, com o qual cheguei aqui. Desfaço o coque alto e apertado e deixo meus cabelos dourados e longos caírem por meus ombros. Estou cansada das regras de vestimenta das damas.

Espero a Casa ficar completamente silenciosa, o que leva mais tempo do que eu imaginava. Então pego o pedaço de papel que o Capitão deixou e saio com cuidado pela porta dos fundos, como uma ladra noturna, em direção ao galpão onde cuidei dos ferimentos do Capitão antes de seu envenenamento. Meu coração bate agitado enquanto corro ansiosa e eu começo a pensar no Capitão DeVil. Para onde ele irá depois que fugirmos?

Chego ao galpão e vejo uma figura andando de uma lado para o outro diante da porta, parecendo impaciente.

Paro no meio do caminho e observo.

É o Capitão. Está usando uma camisa branca e larga de linho, calças escuras e botas. Parece mais saudável do que quando o vi pela última vez, o que me faz sentir um alívio que não sei explicar.

- Capitão - sussurro ao me aproximar.

Ele se vira e me vê. Nós nos encaramos durante alguns segundos. Corro meus olhos por seu rosto, pescoço e peito, à procura de ferimentos, mas há apenas curativos. Sua mão segura meu pulso e ele me puxa para dentro do galpão, fechando a porta atrás de nós.

- Achei que não viria a tempo - diz, soltando meu pulso.

- O senhor disse lua cheia, então imaginei que quisesse me encontrar quando a lua estivesse bem alta - argumento.

Ele meneia a cabeça.

- Certo, você é esperta.

- Aonde vamos? - indago, cheia de expectativa.

A testa do Capitão se enche de vincos.

- Não vamos a lugar algum - responde categoricamente. - Não ainda.

- Então...

- Eu precisava vê-la para alertá-la - ele dá um passo para mais perto. - Como você salvou minha vida, estou em grande dívida com você.

Tombo a cabeça para o lado, confusa.

- Alertar?

O Capitão dá um longo suspiro.

- O príncipe me confrontou sobre você - seus olhos azuis buscam os meus e neles vejo certa aflição. - Foi a primeira vez que discutimos sobre tal assunto.

- O que ele disse?

- Ele quer que eu me afaste de você. O casamento real está marcado para daqui a alguns dias e ele pretende tomar você como... como dele o mais rápido possível.

Fico sem fôlego.

- Mas... mas ele será um homem casado. Isso não é certo...

- É um casamento arranjado, dama. Uma aliança política para unir duas nações, só isso - o Capitão sacode a cabeça. - Eu conheço o príncipe bem o suficiente para saber que ele jamais aceitaria um casamento sem amor. A não ser que...

Cruel: uma volta no tempo (spin-off)Onde histórias criam vida. Descubra agora