Parte 8

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Consigo sair de trás das cortinas sem ser vista, mas me perco nos infinitos corredores idênticos do palácio. Ouço, ao longe, gritos de ódio e dor e o tinir de espadas, o que faz com que eu me apresse para encontrar uma escapatória.

Há alguns dias, rumores malucos correram entre as damas da corte e os servos sobre um grupo rebelde revolucionário que estaria planejando invadir o palácio e matar o príncipe herdeiro, que assumirá o trono em breve. Esses rumores não serviram para deixar a guarda real mais atenta, pois ninguém acreditou que podiam ser verdade. Porém, vendo como conseguiram invadir, a ameaça era mesmo real. Rei Otavius está doente, mas não é permitido dizer uma palavra sobre isso - embora todas na Casa das Damas saibam que é apenas uma questão de tempo até que ele sucumba à doença de uma vez por todas. Talvez seja por isso que ele cobra tanto do príncipe, que é o único herdeiro legítimo, e por isso os rebeldes invadiram.

Amanhã, príncipe Theo poderá ser coroado, uma vez que se case com a princesa Sunsung, e a nação terá um novo rei. É óbvio que os rebeldes querem impedir que isso aconteça.

Enquanto corro pelos corredores sem fim, penso no envolvimento do Capitão DeVil em tudo isso e na decepção do príncipe Theo quando disse que o melhor amigo se aliou aos inimigos. Capitão é um rebelde? Ele era um espião esse tempo todo? Eu pensei que ele fosse um homem bruto e agressivo, mas sempre foi muito atencioso e até amável comigo. É difícil digerir a ideia de que ele pode estar por trás de uma emboscada para tirar a vida de um amigo por quem eu tenho certeza de que tem grande consideração.

Chegando ao fim de um corredor, trombo em um guarda armado e caio de joelhos no chão.

- O que está fazendo aqui? - ele indaga, alarmado.

- Eu...

- Estamos sob ataque! Fuja imediatamente!

- Ajude-me - eu suplico. - Por onde posso sair?

O guarda me indica uma saída e eu finalmente deixo a morada do rei, respirando o ar fresco da noite como se estivesse lá dentro há anos. Tropeço e caio várias vezes na grama, pois está escuro e as nuvens cobrem a luz da lua. Começa a chover, o que torna ainda mais difícil me localizar. Ergo minha saia e corro até chegar à Casa das Damas, onde o alvoroço não é muito menor do que na sala do banquete. A Casa está praticamente em chamas e eu vejo as damas gritarem e espernearem enquanto são tiradas de lá de dentro à força por homens usando mantos negros.

Tarde demais, eu me dou conta do que está acontecendo e me viro para fugir, mas alguém agarra meu braço. É um dos homens encapuzados. Ele me puxa para ele e me joga por cima do ombro como se eu fosse uma trouxa de roupas. Eu grito e me contorço, suplicando para que ele me solte.

- Ela não! - ouço uma voz familiar ordenar.

Procuro por seu rosto em meio à balbúrdia chuvosa e finalmente a encontro.

Dama Agatha.

Ela está parada diante do rebelde, o rosto parcialmente coberto por um capuz marrom. Não parece temer os homens. Na verdade, é quase como se ela estivesse no comando.

- DeVil a quer para ele - diz ao homem, sem olhar para mim. - Vamos levá-la conosco.

Olho paralisada para ela, em choque. Não só o Capitão, mas Agatha também. Os dois estão aliados aos rebeldes. Céus, as coisas ficam mais confusas a cada segundo e eu não sei de mais nada. Será que estou sonhando? É um pesadelo?

O rebelde resmunga alguma coisa que não entendo para Dama Agatha e me leva para o lado oposto de onde ele caminhava antes, numa direção que eu não conheço e que não posso enxergar direito por causa da chuva. Eu choro e bato nas costas dele. Estou assustada e a única pessoa que quero ver agora é o Capitão. Ele prometeu me ajudar. Ele prometeu me tirar desse caos. Ele precisa me encontrar.

Cruel: uma volta no tempo (spin-off)Onde histórias criam vida. Descubra agora