SEU SANGUE, MEU SANGUE

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Capítulo 6

Claire abriu os olhos, subitamente acordando de um sono que pareceu durar semanas. Suas pálpebras estavam, ainda assim, pesadas. A tosse recomeçou, Claire sentindo o sangue subir-lhe a garganta, aumentando a dor em seu abdômen. Sons de pessoas correndo assustaram-na, fazendo-a levantar da cama, mesmo com os seus músculos latejando. Ela só conseguia pensar em seu marido e nos gêmeos, na medida que para ela, estava claro que morreria, já que não havia cura e os esforços médicos estavam sendo, majoritariamente, em vão.

Sentada na borda da cama, tentou conservar a respiração constante, lembrando-se de manter a mente limpa. Os barulhos novamente invadiram os ouvidos da soberana, agora sendo gritos desesperados. O barulho da porta sendo aberta alertou-a, mas sua visão estava embaçada, fazendo-a não reconhecer a figura que entrara. Um vulto de uma mulher vestida com um vestido volumoso, branco com detalhes azuis era ofuscada pela imensidão de seu quarto.

— Claire. — falou, logo depois de entrar no quarto. Era Francisca, a rainha relaxou os ombros que antes estavam tensos.— Invadiram o palácio. — balbuciou, a voz falhando, as mãos descansando na frente do vestido, logo após ela fechar as enormes portas dos aposentos reais da rainha.

Os olhos da soberana obtiveram o foco de volta, ela abaixou a cabeça, pensando. Uma ideia relampejou em sua mente, lembrou-se que logo antes de dormir Kamo estivera em seu quarto. Provavelmente, ele fora a isca para conseguirem invadir o palácio, pensou ela.

Mantendo o rei como refém, os guardas teriam que atender às exigências dos invasores, temendo pela segurança dele. Seu exército sabia, no entanto, que em situações como essas, os outros membros da realeza devem ser evacuados ou escondidos. Nesse caso, pensava Claire, deveriam ser evacuados, já que eles devem ter tomado o palácio por inteiro.

Seus olhos observavam os minuciosos detalhes da colcha macia, mas, na verdade, não observavam nada, a mente de Claire estava tentando traçar algum tipo de plano. Depois de ponderar por algum tempo, levantou a cabeça, encarando a prima, que hesitava em sair do quarto ou ficar, as mãos unidas, os dedos se apertando, tensos.

— Francisca. — falou baixo, fazendo um gesto com a mão para que ela se aproximasse. —Há quanto tempo soube disso? — perguntou, tentando manter-se calma, sabendo que qualquer alteração em seu corpo faria sua doença piorar.

— Há alguns momentos. — disse ela, já mais perto da rainha, mas ainda sob uma distância considerável, receosa quanto a doença.

O rosto de Claire se iluminou, como se sua análise fosse provada certa. Levantou-se, tentando ignorar a dor dilacerante que invadia seu abdômen, pestanejou ao equilibrar o peso no piso frio de mármore bege. Hesitou por um breve momento antes que desse o seu primeiro passo, a dor praticamente a corroendo por inteira.

Claire deu mexeu a perna esquerda, dando o seu primeiro passo. Francisca levou a mão à boca, surpresa e chocada.

— Não chegue perto. — Ordenou Claire, a voz firme, mesmo com as mãos pressionando contra a própria barriga, o gesto tentando diminuir a dor que a invadia.

Claire continuou a se mover lenta e constantemente pelo enorme cômodo, até finalmente chegar à sua penteadeira. Pegou um casaco que se apoiava numa das quinas do móvel, vestindo-o rapidamente. Virou-se para Francisca que estava petrificada. As consequências de uma invasão eram imensuráveis para uma simples visitante como a prima. Para Claire, no entanto, não era algo impossível de se resolver.

A rainha, desde criança sempre tivera a mente aguçada e calma necessária à uma rainha. Havia, como a maioria dos reis, tido aulas de combate, estratégia e análise psicológica, portanto sabia entender o inimigo. Nesse caso, o que deixava-a realmente com medo era o fato de não ter visto nem lidado com o inimigo. Isso, no entanto, era o que ela achava.

A Chama de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora