RENDA-SE

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Capítulo 7

Saber controlar emoções é uma virtude que todo o governante deve ter. Kamo, no entanto, não tem e nunca teve essa qualidade. Seus olhos deixaram lágrimas quentes descerem desordenadamente pelo seu rosto quente, a respiração instável devido à corrida.

O quarto de seus filhos recém-nascidos estava totalmente arrasado. As paredes arranhadas, os móveis destruídos, mas não era isso que o fazia derramar lágrimas. Seus olhos, assim que entrara, pairaram sob os berços. Vazios, mas, mesmo assim, intactos. Quem havia feito aquilo queria deixar uma mensagem clara.

Iria destruir cada centímetro do reino, mas deixaria os herdeiros intactos, provavelmente para conseguir o controle do poder, pensava Kamo. Seu corpo borbulhava em desespero, raiva, tristeza e angústia. Fechou finalmente a pequena porta da passagem, entrando definitivamente no cômodo destruído. Passou os olhos novamente pelo local, mas agora sob um ângulo diferente.

Percebeu, então, que não sabia o que fazer. Sua mulher, que sempre fora a cabeça de todos os planos, estava incapacitada de fazer qualquer coisa. Saber como agir nunca fora o seu forte, sua cabeça girava, seus olhos embaçavam sob a realidade que enfrentava. Para um rei, ele não sabia lidar com situações de extrema pressão.

Locomoveu-se pelo quarto, passando por cima dos pedaços de móveis destruídos, aproximando-se dos berços. Quando chegou bem próximo dos únicos móveis ainda intactos, percebeu algo horrendo. Com os lençóis, uma palavra fora desenhada no berço de cada um. No de Crissy, o de madeira escura, a palavra Schatz fora escrita. Já no de André, de madeira clara, as palavras deux moins un prevaleciam através contornos do tecido.

Kamo piscou algumas vezes, tentando identificar as línguas em que as palavras se encontravam, balançou a cabeça. Ouviu um barulho, desconcentrando-se, vinha da passagem da qual há tempo havia passado. Seus músculos enrijeceram-se, seus punhos fechando, um pouco de medo atrapalhando os pensamentos.

Um corpo saiu da estreita saída, a dificuldade atrasando seus movimentos. A figura do major Piost formou-se sob os olhos de Kamo, o rei então sentindo-se protegido. Seus ombros caíram, suas mãos afrouxaram a espada que havia sacado, sua guarda baixou, Kamo não percebendo o golpe rápido que levou.

Piost sacou a espada, que já estava bem perto do corpo, e golpeou-o no ombro direto. Kamo conseguiu desviar no último segundo, fazendo com que fosse atingido apenas de raspão pela longa espada.

— Saber encontrar inimigos nunca fora sua especialidade, não é mesmo? — zombou o Major, um sorriso malicioso moldando o rosto, levantando novamente a espada.

Kamo aprumou-se, a adrenalina em seu corpo tentando mantê-lo vivo, fazendo com que seus dedos pressionarem-se contra a base da espada, os nós de suas mãos já brancos. Piscava, movia-se, tentando manter-se sã.

— E honrar a lealdade nunca fora a sua. — balbuciou Kamo, provocando-o de volta. O rei sabia que duvidar da honra de alguém era uma das maiores ofensas. Sua ação surtiu efeito, Piost atacou-o novamente, mas agora mirando em seu tronco.

Kamo interceptou o golpe e contra-atacou, acertando o homem em sua lateral. Ele gemeu de dor, mas conseguiu manter a espada sob seu domínio, tentando atacar o rei novamente. O major acertou o rei na barriga, a espada fazendo um furo superficial, Piost tirando a arma e ameaçando-a atravessar a garganta don rei. Com a espada a poucos centímetros de seu pescoço, Kamo estava sem saída.

— Rende-se? — indagou o Major, orgulho irrigando sua voz, ameaçando o rei com a espada pronto para furar-lhe a garganta.

— Nunca. — afirmou Kamo, afastando a espada com a própria mão, ignorando os cortes dilacerantes que esta fazia em sua palma nua.

A Chama de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora