8. "Consulta."

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Algumas quedas servem para que levantemos mais felizes.

Camila estava fraca. Fraca para uma corrida matinal. Lauren percorria os largos corredores, já equipada. Empurrou a porta do quarto da latina, observando-a com um sorriso enquanto esta ajeitava o top desportivo no seu peito, aproximou-se então, levando as suas mãos ao decote do top desportivo, ajeitando-o ali.

"Vamos!" Camila sorriu, passando Lauren que agarrou o seu braço.

"Calma." Lauren esticou um casaco fino e impermeável na direção da morena. "Veste isso, está mau tempo e ficares constipada neste sítio não é a melhor coisa do mundo."

Camila esboçou um sorriso, pegou no casaco e vestiu-o. Apertou o fecho, apenas o suficiente para que o casaco não escorregasse pelos seus braços. Começou então a caminhar pelos corredores, ao lado de Lauren.

"Hoje não vamos correr. Ainda estás demasiado fraca e não tens comigo muito. Vamos evitar uma má disposição a seguir à corrida, vou levar-te numa caminhada para conheceres a estufa e todo o exterior do hospital, o campo de futebol e afins." Lauren sorriu recebendo um sorriso da parte da latina.

Camila empurrou a porta da estufa fria, entrando na mesma a um passo lento. Lauren caminhou logo atras dela, não deixando os corpos afastados por muitos centímetros.

"Hoje tens a primeira consulta de psicologia."

"Com uma psicóloga?"  Camila perguntou passando a mão por uma ramagem da árvore.

"Bem, será comigo." Lauren riu. "Sou dessa especialidade."

"Tudo bem. Ainda bem. Acho que não me iria sentir muito à vontade se fosse com outra pessoa."

Lauren assentiu e sorriu ao ouvir a rapariga. Ela olhou o corpo de Camila, de cima a baixo, o seu lábio foi prendido entre dentes enquanto os seus olhos vaguearam para as pernas bem definidas pelas leggings pretas.

"Autch!" Camila queixou-se ao sentir o corpo de Lauren bater no seu. "Então? Não viste que eu tinha parado?" Ela continuou a resmungar.

"Desculpa, eu estava distraída."

"Com o quê?" Camila olhou-a por cima do ombro, observando o rosto, agora com as faces vermelhas, da rapariga.

"Pensamentos meus. Desculpa, eu magoei-te?" Lauren fitou a outra rapariga com preocupação.

Camila negou com a cabeça em resposta à pergunta de Lauren. Continuo a caminhar pela estufa, apreciando com atenção algumas das árvores mais bonitas que ali tinhas sido plantadas e criadas. O olhar brilhante de Camila sobre as árvores faziam o coração de Lauren apertar de felicidade, pois ela sabia o quanto a latina adorava a natureza e adorava passear e ver cada detalhe.

"Ainda queres que te apresente o campo de futebol?"

Lauren proferiu quebrando o silêncio que se havia instalado, deixando o chilrar dos pássaros para segundo planos, fazendo a voz de Camila o seu primeiro plano de som.

"Sim, claro. Venho cá noutra altura."

Camila respondeu colocando o seu cabelo para trás, prendendo algumas mechas atrás das suas orelhas.
Lauren assentiu, rodou sobre os seus calcanhares subindo a inclinação que haveriam começado a descer. Empurrou a porta, saindo da estufa enquanto segurava aquele pedaço de metal para que Camila saísse logo após ela. Andaram lado a lado, com calma, até ao campo de futebol.
Camila esboçou um sorriso, empurrou a porta com metais finos e pintada a verde que o campo tinha, correu em direção a uma das bolas.

"Cuidado, Camila!"

Lauren pode dizer antes de ouvir as gargalhadas de Camila enquanto esta chutava e corria atrás da bola.

Lauren fechou as cortinas criando um ambiente mais escuro, no entanto, ainda iluminado. Lauren tinha o corpo de Camila vestido com as roupas brancas do hospital e esta deitava no seu sofá confortável.

"Ok, Camila. Então vamos falar do que te trouxe aqui?"

Um barulho nasal em resposta.

"Queres contar-me o porquê de pensares que precisas de ajuda?"

Perguntou enquanto organizava as folhas do arquivo de Camila. Uma folha branca veio para o topo do pequeno monte já acumulado, uma caneta de cor preta foi prendida ente os dedos polegar e indicador de Lauren.

"Eu magoei pessoas. Eu magoei muito pessoas e as suas famílias."

"Uhum. E o que fizeste a essas pessoas?"

Camila passava as mãos pelos seus braços, deitada naquele sofá de cor vinho, todo o escritório de Lauren estava decorado com aquele tom e preto.

"Para salvar uma amiga, eu cometi erros, com várias pessoas. E isso tem vindo a dar comigo em doida."

Ela proferiu passando a ponta dos dedos pelo acento do sofá onde estava deitada.

"Sentimento de culpa?"

Um barulho desconfortável saiu dos lábios de Camila que se ajeitou no sofá.

"Não."

"Desenvolve."

Camila suspirou, fechou os olhos, deixando que os seus pensamentos viajassem para o que se havia passado há anos atrás.

Camila ganhava o corredor escuro a cada passo. Os gritos de cada pessoa em agonia infiltravam-se nos seus tímpanos e aí ecoavam. Porém no uníssono de vozes que ela ouvia, havia um que se conseguia destacar, a voz que ela conhecia. O seu corpo foi escondido no quarto de arrumação daquele andar ao ver a silhueta de dois homens.
Os seus passos lentos continuaram.

"Não, por favor. Não."

Ela espreitava a rapariga pela fechadura da porta. Os seus cabelos pingavam e os seus pés descalços escorregavam nas pequenas gotas que começavam a formar uma poça no chão. Camila nada havia planeado. Tomou o extintor de incêndio em suas mãos, pousou-o no chão retirando os seus gancho do bolso das calças de treino que havia vestido. Espreitou novamente pela fechadura, as fitas e fivelas que prendiam a rapariga à cama faziam os tornozelos e pulsos avermelhados e inchados. Adentrou a fechadura com os seus ganchos e após a abrir em silêncio, agarrou o extintor de incêndios.

Lauren começava a reconhecer a história, um suspiro silencioso seguido de um subir e descer frenético do seu peito fez Lauren prender os papéis com a caneta e os pousar em cima da sua secretária com pernas de madeira em tons de vinho e o seu tampo de vidro. Ela pousou os seus cotovelos nos seus joelhos e pousou o queixo nas suas mãos enquanto atentava cada palavra que a rapariga dizia.

"Eu pude ver algo bicudo, aproximar-se de um dos olhos da rapariga. Lauren, eu vi aquilo quase espetar o olho dela? Como puderam chamar aquilo de tratamento evasivo?"

Camila confessou com pesar de consciência e suspirou. Os seus olhos já abertos fitavam o teto.

Psychotic •Camren• [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora