2. "Reencontros"

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"Dizem que o tempo muda as coisas, mas na verdade só tu as podes mudar."

"Tu?" Perguntou frustrada, uma vez mais. "O que fazes aqui?" Dei um passo atrás e a outra rapariga de cabelos escuros levantou-se, caminhando até perto da porta.

"Eu preciso da tua ajuda..." Finalmente acabou por confessar, baixando o olhar, os seus braços caídos ao lado do corpo e as suas costas tortas. As olheiras de quem não dormia bem há demasiados dias, a magreza de quem não comia há tantos dias quanto os que não dormia.

"Tu não precisas da ajuda de ninguém. Tu tens de te comportar como a adulta que és!" Falou mais irritada que anteriormente. "Camila eu não te posso ajudar, tu não tens nenhum problema para estares aqui, e estás a tirar lugar a pessoas que realmente precisam de ajuda."

"Lauren..." Suspirou, afastando-se e deixou o seu corpo cair no chão. "Eu preciso de ajuda..."

"Tu podes precisar de alguma ajuda, mas não é da minha, Camila!" Apontou-lhe o dedo. "Já não basta tudo o que fizeste?" Entrou no quarto, fechando a porta. "O que tencionas com isto? Ter atenção? Tu ainda estás a tempo de ir embora!"

A jovem abraçou os seus joelhos, colocando a cabeça entre ele, sentia-se mal disposta e o nervosismo daquela conversa não estava de todo a fazer-lhe bem. Lauren engoliu seco, talvez estivesse a ser demasiado rígida, mas Camila precisava de uma mão rígida e de uma voz ríspida para que tudo voltasse ao normal, baixou em frente à rapariga.

"Vou levar-te a comer algo, Camila. Vem comigo." Esticou a mão na direção da rapariga, e ajudou-a então a levantar. Saíram do quarto, e os dois seguranças do seu quarto, cercaram-na. "Está tudo bem. Não precisam de vir comigo." Lauren proferiu, mostrando um sorriso confiante.

Aquele sorriso. O mundo de Camila caiu aos seus pés, aquele era o momento em que tudo estava mais presente que nunca, a saudade, o amor, os sorrisos, a cumplicidade, os olhares. Camila esboçou um fraco sorriso, caminhando atrás de Lauren. Pararam em frente a uma porta metálica, Lauren tirou então um pequeno porta chaves do seu bolso da bata e abrir a porta de metal, abrindo a porta para que a rapariga conseguisse entrar primeiro e ela entrou logo depois, fechando a porta.

"O que queres comer? Vou preparar algo." Ela proferiu, pondo as chaves dentro do bolso novamente e depois dirigiu para trás do balcão da cozinha. Camila ouviu-a mexer em sacos e coisas metálicas, não lhe havia respondido, então calculara que a rapariga lhe estivesse a fazer uma sandes. Pousou a sandes num prato e voltou a dar a volta ao balcão da cozinha, pousou o prato na mesa na qual ela estava sentada.

"Doutora Jauregui." Uma voz feminina chamou. "Ninguém pode comer a estás horas... os jantares vão ser servidos daqui a minutos."

"Eu sei." Ela sorriu. Um sorriso amoroso, que Camila se lembrava bem, que era um sorriso apaixonado e meigo, como os sorrisos que Jauregui lhe dava quando eram felizes. "Ela estava esfomeada, mas prometo que ela vai comer o jantar que irão servir, eu mesma me irei certificar disso." Camila desviou o olhar para a sua sandes, partiu um pouco da mesma com os dedos e levou o pequeno pedaço de comida à boca, mastigando-o calmamente, ela pousou as suas mãos dentro dos bolsos da camisola do seu traje hospitalar e cerrou os punhos, era do feitio de Camila ser a rapariga mais ciumenta e desconfiada existente no planeta, mas ali ela não tinha só um palpite da felicidade de Lauren a ver aquela rapariga. Levantou-se, caminhando até à porta, por sorte Lauren não a tinha voltado a fechar com o trinco, abriu então a porta e saiu do refeitório, correndo pelo corredor já mais escuro, com pouca iluminação, até onde viu os dois guardas, gorilas, ela pensava.
"Larguem-me!" Ela gritou, querendo entrar no seu cubículo, esperneando ao sentir os seus braços serem agarrados com força, pelos dois guardas. Esperneou enquanto gritava palavras mentalmente, ofendendo os seguranças com todo o tipo de palavras. "Larguem-me! Eu só quero ir para o quarto!" Gritou novamente, sentindo os olhos marejaria com lágrimas, fechando totalmente com a dor de algo a picar o seu braço. "Para que é que foi isso? Eu estou bem! Larguem-me!" Ela esperneou, olhando o braço, vendo a seringa afastar-se do mesmo. Os homens então deitaram-na no seu quarto, fechando a porta. Camila cerrou os punhos, sem força, resmungou baixo ao sentir o seu corpo sem forças. "Onde está ela?" A latina conseguiu ouvir a voz de Lauren através da porta, ouviu as vozes dos seguranças, vozes baixas e lentamente fechou os olhos, sentindo as vozes mais vais longínquas.

"Camila?" Ela pôde ouvir após, os seu corpo se ter arrepiado ao sentir a mão dela sobre a sua. "Fechem a porta." Lauren falou alto, a sua voz suava bem mais irritada do que anteriormente. Camila sentiu a sua mão ser apertada. "Sei que me consegues ouvir. A injeção que te deram, foi simplesmente para te acalmar, não te fará nada demais. Quando o efeito passar irás sentir náuseas e tonturas, por provavelmente nunca teres levado com nada tão forte." Ela proferiu e largou a mão de Camila. "Vou deixar-te um copo com uns comprimidos para as náuseas, enquanto sentires tonturas não te levantes, poderá ser perigoso." Ela beijou a testa da rapariga mais nova e suspirou, Camila conseguiu ouvir o som irritante da porta fina de metal arrastar pelo chão. "Eu sou a médica dela! Não vos dei qualquer autorização para lhe darem algum medicamento." Ela conseguia ouvir Lauren dizer. "Não voltem a dar-lhe algo sem o meu consentimento ou ordem! Estamos entendidos? E saiam daqui! Ela não precisa de vocês enquanto está neste estado! Também não representa nenhum perigo para os outros pacientes, talvez o contrário seja a verdadeira realidade, por isso, saiam!" Ela falava séria.

Camila deixou então o seu corpo ser levado pela moleza, adormecendo bastante relaxada pela primeira vez em muitos dias.

Abriu os olhos assustada ao ouvir algo bater com força contra a sua porta. "Abram a porcaria da porta!" Ela conseguia ouvir, não reconhecendo a voz, com a dor de cabeça que sentia e os seus pensamentos distorcidos, ela levou a mão ao braço, suspirando ao ver a nódoa negra que se formava perto da zona onde tinha levado a injeção.

"Nós temos ordens para não deixarmos os doutores verem os pacientes de madrugada." A voz grossa e rouca respondeu. Camila levou a mão à cabeça, suspirando. Sentou-se então na cama, tomando os comprimidos como Lauren lhe tinha dito, encostou as suas costas à parede e abraçou as suas pernas deixando o seu rosto deitado nos joelhos. Ela conseguiu ouvir a porta sair do trinco, porem continuo na mesma posição.

"Camz..."

Camila suspirou ao ouvir o seu nome, encolhendo-se. "Eu não quero falar contigo, Lauren..." Ela sussurrou quase inaudível, e a rapariga de olhos claros levou a sua mão aos cabelos da outra, mexendo neles com cuidado.

"Vais dizer o que se passou?" Lauren perguntou enquanto retirava uma guardanapo com algo embrulhado de dentro do bolso. "É o teu preferido." Sussurrou, desembrulhando algo e Camila observou o bolo que estava à sua vista.

"Já não é o meu favorito... e eu estou mal disposta." Falou de forma fria.

"Tu pediste-me ajuda! Como queres que o faça se tu não mo deixas? Se queres ser ajudada, tens de colaborar, Camila!"

"Se soubesse que ia ver o vi, achas que sequer tinha posto aqui os pés?" Camila falou com a irritação a queimar a sua pele e a sua garganta, pelo que a sua entoação saiu mais rude que a normal.

Lauren achava Camila uma rapariga com pouca proteção, que gostava de fazer amizades, que não ligava se aquela companhia não fosse boa, até sair magoada. E a Camila que Lauren estava a ver ali, já não era a mesma Camila que antes, a sua Camila, a Camila dos segredos e sorrisos, a Camila das intimidades e felicidades.

Psychotic •Camren• [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora