Voltar para casa me trazia tudo aquilo que pretendia esquecer por enquanto, então travei uma batalha interna para me esquivar de tais pensamentos. Estranhamente cada curva diferente que minha mente tomava se direcionava à garota. Seus olhos penetrantes e seu sorriso encantador eram tudo que eu conseguia pensar no momento. E bem, eu não estava achando ruim, e quando me dei conta estava sorrindo imaginando qual seria o nome dela.
Cheguei em casa mais rápido do que pensei ou como era de costume e fui direto para o meu quarto querendo evitar qualquer contato com meus pais ou até mesmo com os criados. Mas como nada sai como que quero, minha mãe apareceu logo em seguida nem se dando ao trabalho de bater na porta.
- Onde você passou a tarde inteira? – Seu tom rude e autoritário ecoou pelo quarto e confesso ter sentido um arrepio em minha espinha.
- Fui dar uma volta. Preciso estar novinha em folha para conhecer o meu noivo no sábado, não é verdade? – Não medi a intensidade da minha ironia, sarcasmo e raiva ao deixar com que as palavras saíssem de meus lábios.
Mamãe abriu e fechou a boca parecendo reprimir o que queria dizer. Ela apenas deu meia volta e seguiu em direção à porta. Já ia dar-me como vitoriosa naquela breve discussão quando ela parou ainda de costas para mim e falou ainda de forma autoritária.
- Amanhã você irá comigo até a vila escolher algumas coisas para o jantar de sábado. – Informou-me e saiu sem que eu tivesse chance de protestar.
Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Na verdade, eu nem sei porque ainda me surpreendia. Nada dava certo em minha vida. Meu encontro com a garota não aconteceria e as chances de ter uma amiga agora eram praticamente nulas, porque ela não voltaria na gruta se eu não aparecesse amanhã. Pensaria que não queria encontrá-la, quando é tudo o que mais quero. O dia teria terminado bem, não mais.
Lamentando as tragédias da minha vida deitei-me relutante, tendo em mente que tudo o que veria no dia seguinte seriam vendedores, criados e minha mãe com suas ordens. A dor de cabeça se fez presente e com ela veio o sono fazendo-me adormecer.
* * *
Acordar com a minha mãe invadindo meu quarto com a criada estava se tornando um hábito extremamente irritante e infeliz. Logo cedo, lá estava ela apressando-me para sairmos. E assim o fizemos.
Nossa permanência na cidade durou mais tempo do que eu esperava e quando retornamos já era fim de tarde e eu estava exausta. Eu nem sabia que existiam tantas vendas de panos ou muito menos a diversidade de qualidades e estilos de tecido. Mas mamãe parecia conhecer cada um deles.
Durante o dia nos deparamos com várias conhecidas e ouvi de cada uma delas, sem exceção, a mesma pergunta sobre o meu casamento e sobre como eu me sentia em relação a tudo isso. Eu, claro, não respondi a nenhuma, e dessa vez não me queixei. Mamãe gostava de ser bem vista pelas demais famílias e fazia com que todas acreditassem na minha extrema felicidade com tudo aquilo, o que me arrancou algumas risadas discretas vez ou outra.
Agora, em casa, tudo o que eu mais queria era ficar quieta e descansar, entretanto, algo dentro de mim parecia revoltar-se, e foi ai que a morena de olhos verdes veio a minha mente e junto à ela a promessa de reencontro.
Levantei em um salto e olhei pela janela. O entardecer se aproximava, e se ela ainda estava lá? E se ela não tivesse ido? Ou, e se ela foi e desistiu de esperar-me? Afinal, ela não tinha obrigação para tal. Várias "e se" surgiam em minha mente então decidi seguir o que eu estava sentindo no momento e minha verdadeira vontade. Poucas vezes tinha a liberdade de fazer o que de fato queria, então, tão logo decidi, me vi em direção à gruta torcendo para que a morena ainda estivesse lá.
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La Grotte ♦ (Camren)
RomanceA história se passa em 1864, em uma pequena vila dos Estados Unidos, onde uma jovem chamada Camila se vê obrigada a seguir seu destino traçado por sua família ainda na infância e vê sua vida e felicidade se esvaindo até que conhece Lauren. Nessa his...