La Grotte ♦ (Camren)

The Trick is to Keep Breathing

Lauren's POV

Eu sempre julguei a mim mesma como um espírito livre. A simples ideia de domínio e prisão me sufocava. Já sofria o suficiente em viver em uma sociedade pautada em costumes que limitavam a liberdade humana, então tentava a todo custo limitar os limites que me eram impostos. Eu queria ser livre e lutava por isso, mas eu tinha um irmão que já estava cansado de lutar.

Shawn e eu éramos crianças quando meu pai chegou com a notícia de seu filho caçula estava prometido à filha de um dos seus amigos fazendeiros, a garotinha, segundo papai, tinha a mesma idade que ele. Lembro-me de discutir argumentando que não era justo com o meu irmãozinho, pensava que o perderia para ela, justo ele, meu melhor amigo. Por várias vezes planejamos uma fuga ou uma maneira de fugir do compromisso que papai firmara em nome de Shawn, mas a inocência dos nossos "eus" infantil não nos levara além dos limites da fazenda.

A raiva pela garota que se casaria com meu irmão passou à medida em que comecei a entender todos os lados da história. Me coloquei em seu lugar, afinal ela também era uma criança, também tinha sonhos, com certeza desejava ser livre e sonhava em casar-se por amor. Tudo isso lhe foi tirado, e assim como eu sei que morreria dia após dia até que o dia do casamento, nada me tirava da cabeça de que a garota sentia o mesmo. E desde então, tornei-a minha amiga, mesmo sem saber seu nome ou como ela era, criei-a em minha mente e todas as noites tentava confortá-la assim como fazia com meu irmão, e de certa forma a mim mesma.

Quando percebi que Shawn desistira de lutar contra seu destino traçado e estava cada vez mais parecido com nosso pai, preocupado com os negócios de família, acabei me afastando um pouco dele também. Aquele que era meu melhor amigo, deixou de ser aos poucos e depois de mudar duas ou três vezes de casa e vilarejos, decidi que não me apegaria mais à pessoas. E foi assim, que desde então, meu cavalo Mustang tornou-se minha companhia.

- Lauren, nós precisamos ir. – Shawn me chamava pela terceira vez e dessa vez notei que se aproximava.

Passei a manhã toda no estábulo despedindo-me de Mustang, e odiava o fato de ter que separar-me dele. Iríamos hoje para o vilarejo onde meu irmão se casaria dentro de um mês, e para minha infelicidade os cavalos teriam de ficar porque mamãe achou inconveniente transportá-los.

Senti Shawn próximo a mim e quando colocou sua mão em meu ombro olhei para ele não escondendo as lágrimas que já brotavam em meus olhos.

- Ei. Ei. Não chore, Laur. – Ele me abraçou confortando-me. – Vai ficar tudo bem, ele ainda estará aqui quando voltar.

Era a primeira vez em muito tempo que chorava na frente de alguém. E ali naquele instante as lágrimas eram por tudo que estava acontecendo. Pelo casamento que não consegui evitar, pelo meu irmão que logo não estaria comigo, pela garota, e agora porque teria de deixar meu inseparável amigo.

Não disse nada, apenas despedi mais uma vez do cavalo e fui em direção à carruagem que nos aguardava. Quando sentei em frente à mamãe vi em seu olhar o julgamento por meu atraso, mas fingir não notar. Era sempre assim, ela nunca aceitou meu comportamento liberal e muito menos o fato do meu pai aceitar e conceder meus desejos. Shawn sentou ao meu lado, e todos viajamos boa parte em silêncio até que o mesmo tomasse a palavra.

- Papai. – disse, e ao ver que tinha a atenção de nosso pai prosseguiu. – Estive pensando em algo.

- Diga, meu filho. – Incentivou Shawn a continuar.

Percebi que meu irmão estava um pouco receoso pelo que falaria, parecia pensar bem nas palavras.

- É que...eu sei que decidiu deixar os cavalos na fazenda. – Iniciou, o que fez com que tivesse minha atenção também. – Mas tive uma ideia e pensei que seria bom levá-los também, seria como uma maneira de aproximar-me mais de minha noiva. – Ao final de sua fala vi que olhava diretamente pra mim, e sorri com a péssima desculpa que ele inventara.