Eagor caminha pelo corredor escuro. Estava cansado, tão cansado que mal podia andar. Se apoiava na parede com suas mãos brancas. Suas vestes deslizavam, acariciando o chão levemente. Seus passos… mais quietos que o próprio silêncio.
- Adam? Aaadaaaam! Onde você está maldito!?
- Mestre! Estou aqui!
- Aqui aonde, idiota?
- Na sala de experimentos!
Em um instante, Eagor desliza até as costas de Adam, como uma sombra com vontade própria. Com a boca próxima da orelha do ajudante, ele sussurra:
- E o que você está fazendo aqui sozinho?
O pobre homem dá um pulo e cai para trás, apoiando-se na mesa mais próxima.
- Mestre! Não faça isso. Quase me mata do coração! - Diz Adam com a mão no peito arfante. - E além disso, você está muito fraco, não devia ficar se movendo desse jeito…
- Eram apenas algumas dezenas de metros. Precisaria muito mais que isso para… - Mas antes que terminasse a frase, Eagor desmaia por um segundo, o bastante para seu corpo começar a cair.
Adam rapidamente levanta e o ajuda.
- Mestre! Eu lhe disse. Você nunca esteve em um estado tão ruim. Não pode fazer as coisas como fazia antigamente.
Eagor se recupera, empurrando o ajudante para o lado.
- Largue-me inseto! Não preciso da sua ajuda para me manter de pé. Eu sou Eagor dos Campos Sombrios, lembre-se disso!
- Sei muito bem mestre… Mas isso não muda o fato de que estava dormindo há anos.
- Anos? E por que não me acordou antes?
- Não ousaria. Você precisava descansar. Sim, precisava.
- Então por que me acordou agora?
- Eu não lhe acordei mestre, o senhor levantou sozinho.
- Estranho, lembro-me de um vulto.
- Um vulto, mestre? Mas estamos sós. Não deixei ninguém chegar perto do senhor, tenha certeza disso!
- Está dizendo que não sei o que vi? - Pergunta Eagor, desafiador.
- Não, senhor. De modo algum. Mas tem certeza que não viu o vulto durante um dos seus sonhos? O senhor tem sonhado muito recentemente. Noite e dia, dia e noite. Sim, sim. Ás vezes em silêncio, ás vezes aos berros, mas sempre suando. Suando frio, senhor! Deve ter visto coisas horríveis.
- Eu… Eu não me lembro, Adam… - Responde Eagor um pouco encabulado. Sentia vergonha em não entender o que acontecia com seu próprio corpo. - Quando esses sonhos começaram?
- Há três dias, senhor.
- Entendo…
Eagor fecha os olhos por um minuto. Ele sentia o peso de sua respiração. Parecia que o mundo inteiro estava mais pesado. Embora não quisesse admitir, provavelmente o próprio Adam seria capaz de derrubá-lo se quisesse. Tinha algo de muito errado acontecendo, e ele descobriria o que era.
- Adam! - Grita Eagor, como se o ajudante ao seu lado estivesse longe.
- Di-diga, senhor!
- Vamos ver as estrelas. Preciso conversar com elas.
- Claro mestre! É pra já.
Adam começa a subir as escadas em direção ao andar de cima. Quando está no terceiro degrau, percebe que não estava sendo seguido. Olha para trás, e encontra os olhos faiscantes de Eagor encarando-o. Uma das sobrancelhas levantadas anormalmente para cima.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Eagor e as Estrelas
FantasyHá muito a escuridão cortejava Eagor. Quando ela vai atrás daqueles que ama, o mago resolve finalmente tomar providências. Adam, seu ajudante, implora para que mudasse de ideia, mas sua mente estava feita. As estrelas, suas melhores amigas, seriam s...