Sabe quando você vai dormir com um pensamento, para acordar com um mesmo? Esse era Yugyeom todos os dias. De fato, alguém determinado, não que aquilo fosse totalmente bom ou ruim. As intenções constantemente mudavam: nos primeiros dias em que se descobriu doente, quis morrer. Noutros, só desejava que o diabetes passasse - isso é mesmo possível?! - de uma vez por todas; que aquilo fosse um pesadelo. Mais tarde, isso se foi, e ele só quis para o seu dia que ele não apresentasse algum sintoma ou que ele simplesmente não fosse perturbado.
Contudo, naquele dia fatídico, incrivelmente relevante, merecedor de atenção de todos os quatro cantos do mundo, no cinco de agosto que caía numa sexta-feira, tudo mudou. Um objetivo nunca antes procurado, uma vontade nunca antes sentida: chamar Jackson para sair. E ele o faria por si só; estava cansado das passividades. Daquela vez, o jogo viraria. Muito provavelmente não de uma vez por todas, mas viraria. Por um dia, ao menos. E se Jackson gostasse da experiência, eles sairiam mais vezes.
Kim era do tipo - não que ele tivesse certeza de que haviam mais pessoas no mundo iguais a ele nesse aspecto, para poder se dizer "tipo" - que se sente incrivelmente ansioso para qualquer dimensão de compromisso. Às vezes, ele distorcia valores e confundia importâncias, a ponto de achar que fazer a compra do mês e se formar na faculdade são eventos igualmente emocionantes. Não importava se ele faria qualquer coisa numa sexta-feira, porque era uma sexta-feira. E por causa disso, ele tinha de estar animado.
E era por isso que ele nunca acordou tão rápido. Não era só porque era Jackson - em parte, na verdade - ou só porque ele sonhou com algo um pouco desconfortável e se sentiu na necessidade de se levantar: era tudo isso junto. Era uma sexta-feira, a primeira de agosto - não fazia diferença alguma, ele só quis notar -. Ele sairia com Jackson. Ele ainda estava dormindo; o que ele estava fazendo dormindo?! Era um grande dia.
Antes de se arrumar, pois poderia ser à toa se Wang não quisesse/pudesse sair com ele, agarrou seu telefone e discou o número do amigo. Enquanto esperava que ele atendesse, checava mentalmente tudo o que diria, para que não se esquecesse de uma palavra ou que não as pronunciasse na ordem certa. Acontecia, afinal. Ele não costumava ser quem chamava; era sempre quem era chamado.
"Alô?", Jackson, do outro lado, quis ao menos ter uma noção de quem era antes de se mostrar irritado com uma ligação às oito e alguma coisa da manhã duma sexta-feira.
Julgando pelo horário que a pessoa ligava para ele, já sabia que era algo inconveniente. As pessoas têm de saber que nada faz sentido na primeira hora que você passa depois de se levantar, ou antes de você tomar o café-da-manhã, logo, não adiantava ligar para o chinês lhe avisando sobre algo importante: é de manhã, então ele não vai conseguir processar isso.
"Oi", sorriu e mordeu o lábio, nervoso.
"Yugyeom?", chutou.
Estava numa ligação, mas balançou a cabeça mesmo assim, e só depois se lembrou, "Sim... Bom dia"
"Você 'tá bem?"
"Sim-sim, e você?", do jeito que sua boca modelava as palavras, era capaz de elas saírem com umas pequenas bolhas, como as de sabão, no formato de vários corações, e uns bichinhos bonitinhos também. Não sabia que Jackson desgostava tanto de receber ligações, mas tentava agir fofo para incomodar o mínimo possível àquela hora da manhã.
"Eu também, mas... por que você 'tá me ligando agora?"
"Queria saber se... você não gostaria de sair comigo hoje"
Pensou naquela possibilidade. Sinceramente, nunca saiu com Yugyeom antes. Quer dizer, não a sós com ele. Mais alguém sempre estava envolvido, como a mãe do amigo ou Mark. Aquele seria o dia. Se o garoto se deu ao trabalho de pedir por si só, ele queria muito, portanto não pensou duas vezes - sequer uma - ao abrir a boca e dizer:
"É claro que gostaria. Adoraria"
"Okay. Você pode dirigir?"
"Posso. Eu vou pegar você aí na sua casa?"
"Se você puder, agradeço"
"Eu posso. E não precisa ser tão educado; sou seu amigo"
"Isso não faz muito sentido..."
"Que horas?"
"Cedo. O mais cedo possível"
Devia ser algo grande, pelo tom que Yugyeom usava. Jackson fazia nenhuma ideia do que esperava por ele, mas pensava ser grande.
"Tipo, agora? Quero dizer, não espere que eu chegue antes de se passar meia hora, eu acabei de acordar"
"Quando você estiver pronto"
"Com certeza. Até logo"
"Até"
O mais velho deixou que o outro desligasse e se arrumou num segundo. Kim também, na verdade. Ambos estavam desnecessariamente ansiosos até demais para aquele passeio. Embora para Yugyeom, e somente ele, os dois fossem fazer coisas que... nem ao menos poderiam ser deixadas para depois. Umas onze da manhã de um cinco de agosto que caía numa sexta-feira era o tempo perfeito.
Jackson espirrou desodorante por todo seu corpo como um louco, pegou o par de sapatos mais próximo de si e os calçou. Estava visualmente pronto. Foi escovar os dentes, porque era o mínimo que fazia. Ajustou um boné na cabeça e tudo resolvido. Agarrou a carteira, o celular e as chaves. Foi em direção ao carro.
Yugyeom, igualmente, não quis aparentar chique ou pomposo para o outro, e se vestiu como quase sempre fazia. E olhe que, dessa vez, porque ia sair com Jackson, abriu mão da dor de cabeça e passou um pouco de perfume. E essa é a história de como os dois pareceram um casal triste, sem graça e sem vida, quando viram que ambos estavam cobertos em preto.
A certo ponto, não é mais questão de vaidade ou com quem você está saindo, mas sim bom senso. Sempre vale a pena checar seu cabelo ou a gola da sua blusa, e foi o que o moreno fez no carro enquanto esperava Yugyeom aparecer.
"Bom dia", abriu a porta dianteira e entrou, já sentando-se ao lado de Jackson e dizendo estas palavras.
"Bom dia"
"Foi rápido", notou.
"Eu que o diga. Podia jurar que você era um garoto vaidoso"
O Kim riu, achando que aquilo só podia ser deboche.
"Estou falando sério. Você sempre parece usar suas melhores roupas quando vai à ADJ"
"Isso é meu guarda-roupa, mas o resto é outra história"
"Às vezes, as pessoas são bonitas porque se cuidam"
"Eu sou bonito porque eu nasci assim", tentou disfarçar o quão nervoso ficou com aquele elogio fora de contexto àquela hora da manhã.
"É verdade"
"Você também", lembrou-se de dizer de volta.
"Você está dizendo isso porque eu fiz um elogio ou porque realmente acha? Porque eu não preciso que as pessoas me digam isso; eu já tenho em mente que sou bonito"
"Os dois..."
"Eu estava brincando, okay? Posso acabar não me sentindo bem com minha aparência, então é bom que me diga isso. E a gente ainda está no mesmo lugar"
"Ah, sim, você sabe onde são os correios?"
"Você me chamou pra a gente ir pros correios?", hesitou, mas ligou o carro para ir até lá.
"Não é só isso, calma, mas é que eu lembrei que tenho que pegar algo lá"
"O que é?"
"Como se fosse da sua conta..."
"Foi mal, só queria puxar assunto"
"E eu só quis brincar. É um álbum do Chris Brown"
"Legal. Você gosta muito dele, não é?"
"É meio complicado dizer, mas eu não só gosto dele: ele é meu ídolo"
"Ah, okay. Eu gosto das músicas dele, também. E pra onde vamos depois?"
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diabetes 🐚 jack + yeom
FanficTalvez ele preferisse não saber o quão doce a vida pode ser.