Prólogo

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Querido Nate,
Escrevo-te essa carta para dizer que estou com muita saudade de você, espero que esteja se divertindo com papai – e espero que tenha sentido minha ironia, nosso pai não é tão divertido assim. – nossas irmãs continuam egoístas e imaturas, como sempre. E tratam Liza –  um apelido que dei a ela – como foram ensinadas a tratar. Nossa mãe, ah... Está cada dia mais decadente conviver com ela. Quando voltar, traga-me tímpanos novos.
Os criados sempre são mais divertidos, não acha?  Tem cada criado novo, um mais atraente que o outro. Infelizmente não poderei saborear o gosto dos lábios de nenhum deles – você sabe que eu não sou tão inocente assim. –já que mamãe está querendo me casar esse ano com algum velho rico. Aposto que vou ter que trazer o balde pro meu futuro marido poder fazer suas necessidades... Meredith está enlouquecendo, ela disse que não vê a hora de você voltar para casa, e não vê a hora de casar suas filhas com alguém. Ela nunca menciona amor, isso você sabe.
As ultimas noticias de Liza é, cada dia que se passa uma cicatriz nova. Eu lamento tanto pela vida dela, não entendo por que nossa mãe a maltrata tanto. Dias atrás Liza estava limpando seu rosto com um pano, cheguei-me nela e perguntei se estava chorando, ela virou friamente pra mim e respondeu:
– Se a saliva da sua mãe é lágrimas. Então, estou aos prantos.
E foi embora, quando fui me queixar com mamãe ela simplesmente tinha saído. Odeio o jeito em que nossas irmãs tratam Lize, espero que quando você voltar, se junte a mim e mostre que nem todos da nossa família são egocêntricos. Sei que você mostrará compaixão a ela, por que você Nate, é um homem bom.
Da sua irmã preferida e mais nova
Amélia Abrams.
Dobro a carta e coloco no bolso do paletó.
– Meli, se nossa mãe descobrir que você anda arrastando sua saia para os rapazes de Londres, ela te mata. – pego a minha mala em cima da cama, no quarto nada mais do que um criado mudo, uma cama arrumada e lembranças horríveis no ar.
Abro a porta e com passos firmes me dirijo à carruagem.
– Para onde pensa que está indo? – diz ele, a pior pessoa do mundo, meu pai. Seu tom de voz é cheio de ódio e rancor, nem um pouco de preocupação e ressentimento pelo que fez comigo.
– Para França. Perto de Meredith. Se é que você se importa.
– Você não vai. – ele me puxa para trás, encaro suas rugas.
Olho no fundo de seus olhos, aquele homem repugnante, que casou com a minha mãe e me criou, um libertino, me encho de ódio, e o jogo na parede. Até quando me lembro de que ele é um verme, que ri dessa situação e que é exatamente isso que ele quer de mim, que eu haja de forma irracional, o solto de forma brusca.
– Me diga a parte em que eu pedi sua permissão. – ele ri, em deboche. Mas seus olhos mostram medo. Ele não é insano sabe que eu sou mais forte, ele mesmo me incentivou a fazer luta, sabe também que sou impulsivo e que parei de treinar por que não conseguia me controlar. Mas mesmo assim ele me confronta, sabe que eu não perderia o controle que demorei anos para achar.
– esqueça que sou seu filho.
Dou as costas para ele e me dirijo a carruagem.
– Quero que saiba que ela beija muito bem, e que me procura quando você vai para o trabalho. – Ele faz de propósito, quer que eu me descontrole e que eu o faça sangrar para que eu seja o errado.
– Pode ficar com ela. –digo com repulsa.
Abro a porta da carruagem e vou embora.
– Isso, junte-se a outra fracassada na França. Se junte a Elizabeth.
– Se junte aos ratos papai, já que são da sua espécie. – digo rindo maldosamente quando vejo o olhar de assustado dele. – Como se sente sendo odiado por todos os teus filhos? Ah, cuidado. Ainda quero minha herança, e estou muito tentado a tê-la brevemente. – a carruagem anda, e a última lembrança de meu pai, é quando chego a casa dele e vejo a minha mulher nua, gemendo por outro homem.
O único barulho agora é das patas do cavalo no chão, cheio de buracos, e a coragem dentro do meu peito, me guiando para uma nova vida.
Horas depois que saio de Berlim, deixo para trás um pai desalmado, meu melhor amigo Will, e um amor que nunca foi recíproco. Releio a cartas de Meli, que sempre me tratou com carinho, e que me manda milhares de cartas por mês, e eu, ingrato que sou não mandei uma carta para dizer que estou chegando.
Minha mente vagueia e me recordo da infância que estive, logo na adolescência me casei. Um casamento que me arrependo amargamente, deveria ter experimentado novos sabores, antes de me ater a um compromisso que não deu em nada. Então decido algo: não importa o que aconteça eu nunca mais entregarei meu coração para alguém. Meli e Will com toda sua libertinagem me ensinou algo, por que entregar meu coração para uma dama, se posso me distribuir para várias? E destroçar vários corações? Afinal, só estarei repassando o que me deram; Dor.
Quando paro em uma pousada para passar a noite, resolvo mudar meu trajeto de viagem, não irei diretamente para França. Sento-me na escrivaninha, respirando fundo molho a pena com a tinta.
– Querida Amélia
Como sempre é de grande regozijo ler uma carta sua minha irmã, e como de costume serei breve. Você sabe que minhas poucas palavras são cheias de amor.
É lamentável que mamãe esteja te obrigando a casar este ano, e com alguém que você possivelmente não irá amar; mamãe também me mandou várias correspondências exigindo a minha volta à França para que eu a visite.
Não me assusta também o fato de nossas irmãs serem imaturas e rudes com Elizabeth, lamento muito pela vida sofrida de Elizabeth, agora eu entendo sua dor e seu desgosto para com nosso pai o conde Abrams. É de tamanho desgosto nossa mãe ter casado com ele e colocado esse sobrenome em nós, é um fardo...
Alegra-me dizer que estarei em breve me juntando à rodinha de infelizes. Isso mesmo minha doce irmã, estou voltando para França. Motivo? Ver de perto com quem você anda trocando caricias, afinal, é minha irmã preferida. Peço-te que não conte a ninguém o meu retorno, antes passarei em alguns lugares.
Quando chegar à França, mostrarei a você como ser um libertino mais cobiçado. Afinal, este rótulo de desbragado está se tornando meu novo sobrenome.
Com amor
Nate Abrams.

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