Michael Clifford é um anjo caído que se alimenta da angústia dos outros para sobreviver e Luke Hemmings é um anjo bom que se alimenta da bondade. O que aconteceria se o caminho desses dois anjos se cruzassem?
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P.O.V Michael Clifford
Depois do acontecimento com o Calum, a semana passou rápido. Luke ainda está tentando resolver os problemas que causei com os garotos da maconha (ou marijuana, como ele gosta de chamar), com Ellen e seu namorado e com Ashton e Nia.
Ashton anda mais triste do que nunca depois disto, ele sente que Calum nunca mais vai querer falar com ele e, mesmo que ele possa se alimentar da ira do falso asiático, ele não consegue pois não sente vontade. Eu me sinto péssimo por ter magoado meu amigo, então estou dando uma folga para ele e para Luke resolver toda a situação.
Fui convidado para uma festa organizada por uns garotos do segundo ano este fim de semana. Como imaginado, eles querem que eu leve algumas drogas e pílulas. Eu gosto de festas pois a energia que as pessoas passam é contagiante, não que eu goste de vê-las felizes, e se você acha que elas estão felizes está enganado.
Por trás de todas as risadas bobas de cada canto da casa durante uma festa tem uma solidão. As pessoas bebem para esquecer seus problemas, para se soltarem e deixarem a timidez de lado ou até mesmo para apenas sentirem algo. Pessoas bêbadas demonstram felicidade a partir da tristeza, é uma falsa realidade. Essa é, provavelmente, a única felicidade a qual eu consigo me alimentar.
Para festa de hoje, além de jantar falsas felicidades, vou provar de sobremesa a morte. Venho conversando com uma garota do primeiro ano chamada Emma, ela é extremamente magra e pequena, nunca está sorrindo e sempre usa moletons largos e roupas que escondem seu corpo. Emma me contou sobre sua vida e seus problemas com auto mutilação. Os pais da garota não ligam pra ela, seu irmão a abusa e ela está cansada de tudo. Embora eu consiga me alimentar de sua dor quando a escuto dizer estas coisas, eu decidi a ajudar com um ultimo desejo: dormir para sempre. Por isso a convidei para ir a festa hoje, vou deixar que ela aproveite a noite e, se mesmo assim quiser acabar com sua vida, a entregarei o necessário e assistirei sua dor até o ultimo segundo. Até que ela encontre sua felicidade.
Saio de casa vestindo uma camiseta xadrez, uma calça preta rasgada e meu all star que nunca tiro do pé. Vou caminhando até a festa desejando que um dia minhas asas deixem de ser inúteis e eu consiga voar. Para conseguir isso só existem duas maneiras: me tornar um anjo bom (fora de cogitação) ou matar um anjo bom. Embora eu odeie Luke Hemmings, sei que não conseguiria mata-lo. Entrar em uma briga com um anjo bom é a mesma coisa que cometer suicídio: esse tipo de anjos são muito poderosos e sábios, portanto, usam seus poderes apenas quando necessário.
Chego festa e vou logo entregando ás pessoas o que elas queriam. A casa estava cheia, eu conseguia sentir solidão, ganância e gula por todo lado.
- Ei - Uma mão gelada toca meu braço e logo percebo a grande onda de depressão que me rodeia: era Emma. Ela estava com grandes olheiras e com certeza andou chorando. Por um segundo pude sentir pena da garota, mas a minha vontade de me alimentar daquilo era maior.
- Oi, como você está? - Pergunto apenas por educação.
- Melhor do que nunca.- Ela mente - Você trouxe o que eu te pedi? Eu trouxe o dinheiro...
- Sim, meu amor. - A corto antes que ela pudesse tirar o dinheiro de sua bolsa para me entregar - Mas antes você vai aproveitar um pouco a festa.
- Eu não estou no clima, Michael. Quero acabar com isso logo. - Seus olhos praticamente imploravam pela morte.
- Vou te buscar uma bebida. - Respondo e saio antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa.
Ao chegar na cozinha me deparo com a pessoa que eu menos queria ver no mundo: Luke Hemmings. Até falar o nome dele me irrita.
- Eu estava procurando por você. - Ele se aproxima.
- E eu estava fugindo de você - Retruco.
- Eu sei que você está aprontando algo Michael, eu consigo sentir. - Esse garoto me irrita de uma maneira que, se eu pudesse, o mataria agora mesmo.
- Escuta Luke, quando você vai parar de dar uma de babá?
- É o meu trabalho. Se você não parar de ser tão malvado com todo mundo, não facilita pra mim - O loiro começa a explicar. É incrível, nenhuma ironia funciona com este anjo. Ele sempre encontra um jeito de ser compreensível e educado.
Pego duas bebidas e dou de ombros. Luke me segue o caminho todo até chegar na Emma, depois que entrego a bebia para ela, ele me puxa para um canto e começa dizer:
- Eu conheço a Emma, e se você está pensando em dar pra ela o final que ela quer ter eu vou...
- Você vai o que, Luke? - Falo antes que ele pudesse terminar a frase. Ele fica confuso, abaixa a cabeça e logo em seguida olha pra mim novamente. - Imaginei, anjos bons não fazem ameaças.
- Eu te conheço Clifford, eu sei que você não quer ser esse anjo quebrado que age como. E eu sei que você não quer matar ninguém, você não quer ficar como Ashton. - O que era verdade. Eu nunca tirei a vida de ninguém, por mais que minha natureza seja o mau, matar alguém está fora dos meus padrões.
Eu sinto fome de tudo que é errado, mas não sinto gula. Quando se mata alguém, você leva consigo a alma da pessoa, é um fardo muito grande para se carregar. Ashton Irwin é um péssimo anjo, o que o torna um dos melhores anjos caídos que eu conheço. Ele já tirou a vida de vários humanos perdidos e desamparados, e sabe o que ela sente hoje? Nada, não sente dor nem compaixão, mas está constantemente tendo alucinações das pessoas que ele influenciou, ele as enxerga em todos os lugares e sente que elas querem acabar com ele. Eu não quero carregar este fardo.
- Eu não posso ajudá-la Luke, não sou como você. - Defendo minha opinião.
- É por isso que estou aqui, vou leva-la pra casa. - Ele coloca a mão sobre meus ombros, eu recuo dando um passo pra trás. - Você não vai fazer bem, nem mau. Eu vou embora e você pode continuar se alimentando das pessoas que estão aqui, sem mata-los, por favor.
- A garota é toda sua- Respondo dando um soco de leve em seu ombro e saindo de perto dele antes que eu me arrependesse desta decisão.
Talvez ele estivesse certo, talvez eu não fosse como Ashton. Gula nunca fez parte de mim, mas continuo sentindo fome.
