2 - Perséfone

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Narrado por: Perséfone

A única coisa boa que aconteceu na minha vida fora me separar de Hades e vir morar nos Estados Unidos, me casando em seguida, com um magnata que acalmava todas as minhas necessidades amorosas e fetiches.

Hades gostava somente de fogo, porém eu gostava de fogo, gelo e brasa. Meu sexo precisava de algo completo e eu encontrara com Harrison Bloodfield; o amor da minha vida.

Ele não sabia que eu era uma divindade poderosa; sabia disfarçar meus poderes dos humanos, — apesar dele me chamar a todo instante de "Minha deusa", gostava de ser tratada assim por ele. As chamas dentro de mim reverberavam intolerantes e rebeldes, precisava dele em minha cama, a todo instante, a todo o momento.

Aprendi os prazeres sexuais com Hades, mas acabei percebendo que minha sede ia além do que ele desejava, parecia que se contentava apenas com as chamas à nossa volta e não nas que tinha em nossa cama. Isso me deixava atormentada, até que entramos em um acordo e ele me libertou do restante do ano de seu Submundo.

Agora me sinto completa, vivendo em Los Angeles, com o amor que pedi para a vida, que me ama tanto na cama quanto fora dela. Harrison Bloodfield era perfeito em suas imperfeições e digno de ser o Consorte de uma deusa.

Nesses tempos minha sexualidade estava mais ativa e Harrison não se importava de fazer mais do que pretendia fazer em uma noite; isso era bom.

— Minha deusa, hoje você está ardendo em chamas! — disse ele deitado na cama enquanto fazia meu trabalho sobre seu corpo nu — Parece que não transamos há séculos.

Mas não era bem aquilo, fui invadida por sonhos nessa semana, sonhos eróticos com alguma criatura daquela dimensão ou sei lá de onde, mas era divino vê-lo. Seu peitoral marcado de veias rígidas e grossas, braços tão grandes quanto o tronco de meu corpo e olhos violetas e tão violentos quanto à tempestade mais titânica, mas o mais incrível era os seus cabelos, longos até os ombros e densos, porém não eram cabelos comuns e sedosos, mas sim aveludados e em formato de folhas de uma oliveira. Era o ser selvagem que tanto pedi na minha cama.

Contentava-me com Harrison, claro, mas não sei, aqueles sonhos despertaram em mim anseios mais vorazes. Meus pedidos ao meu marido eram todos aceitos, sem qualquer hesitação, o agradecia por tudo, mas sonhar com o pecado em forma de um deus me deixava completamente úmida nas minhas partes mais sedentas.

— Em que está pensando? — perguntou meu marido, suado e com a voz em completo êxtase.

— Harrison, eu preciso contar-lhe uma coisa que não sai da minha cabeça. — queria que fosse sobre os sonhos que andava tendo, mas não. — Todos os dias sou atormentada com esses pensamentos...

O meu vai e vem frenético sobre seu corpo não havia cessado, mas ele continuou com um sorriso maroto e com um novo olhar, apreensivo.

— Conte-me, então...

— Sou uma deusa.

Harrison urrou, o clímax para ele brilhou dentro de mim, mas minhas vontades ainda não tinham terminado. Continuei, sem parar, intensa e provocativa.

— Sim minha deusa... — disse ele sem fôlego — Você é a minha deusa e sempre será...

Harrison não entendeu minha resposta, tinha de falar para ele de outra forma.

— Harrison, — hesitei na fala — eu... fui casada há algum tempo com um deus.

Senti seu corpo enrijecer, ele fechou os olhos. O sabor quente que ele sentia ao ser beijado por meu corpo, desapareceu. Saí de cima dele, o sexo terminou ali e minhas chamas abrandaram-se, mas as chamas dele não vinham da luxúria e sim da raiva que sentia de minha revelação.

— Você está brincando, só pode ser... — disse ele transtornado e levantando-se da cama — Como assim, casada?

Engoli em seco.

Como dizer ao meu esposo que a deusa humana que ele tanto venerava era uma divindade de verdade e que trepava, antes dele, com o deus do submundo praticamente seis meses inteiros sem parar para descanso?

— Lembra quando nos conhecemos dentro de um restaurante em Sail Palm, um dos mais caros e luxuosos de Los Angeles? — perguntei e ele assentiu em silêncio, sentando-se em um dos cantos da cama — Eu tinha terminado com meu ex aquela noite e vim para a cidade sem rumo, apenas com cartões de crédito e dentro de um vestido.

Harrison revirou os olhos, insatisfeito.

— Quem é ele? — perguntou cético.

— Você não precisa saber...

— Quem é ele, Phoebe?! — ele aumentou o tom da voz e bateu com as duas mãos com força no colchão. — Conte-me agora ou amanhã conversarei com meus advogados sobre um possível divórcio!

Não deveria ter começado aquilo, meu casamento estava a ponto de se desmoronar em segundos, mas devia contar toda a verdade para ele. Harrison era verdadeiro comigo a todo instante, o que nos separava para sermos completos era a grande verdade sobre meu passado.

— Meu verdadeiro nome é Perséfone.

Um riso escapou dele e uma lágrima cortou-lhe a face.

— Só pode estar brincando...

— Não estou brincando.

Uma gargalhada alta invadiu o quarto. Harrison levantou-se e passou a por de volta as roupas, sentou-se à cama outra vez e calçou os sapatos que dei de presente no natal passado.

— Vai me dizer que seu ex-marido foi Hades?! — zombou ele transtornado e disposto a me deixar ali, sozinha.

Meus olhos arderam de tristeza, ele não sabia que aquelas palavras atingiam meu peito com força. Rir de meu passado era pior de que acusar-me de traição.

— Sim. Foi. — respondi, rendendo-me à loucura de tudo aquilo. — Hades foi meu marido.

A testa de Harrison franzida dizia que não acreditava em minhas palavras. Péssima ideia ter começado a contar aquilo em meio a uma noite tão boa e calmante de sexo.

— Maravilha! — disse ele, vestido novamente e ficando em pé. Ele sorria para mim, como se tivesse ganhado um troféu. — O que está havendo, é alguma pegadinha da TV, é isso?

Harrison não acreditava muito em religião, ou em Deus, ou muito menos em uma deusa como a mim, que se veste com roupas caras e usa carros importados para se locomover.

— Não. Não é nenhuma pegadinha. Não estou brincando. Não estou mentindo. — falei todos os nãos possíveis — Não quero mais guardar segredos de meu passado de você.

Seu rosto empalideceu-se, sua pele morena parecia uma folha de papel sulfite branca. Ele ia desmaiar, mas segurei em sua mão rapidamente e em instantes ele voltou ao normal.

— Phoebe, mostre-me então seus superpoderes de deusa para mim então... Perséfone, unhmm, sei...

O que mais doía era que ele não acreditava mais em minhas palavras, para ele, todas soavam falsas, mentirosas, inverdadeiras.

Meu céu virava o inferno, — que medespedi há alguns anos — de novo.

O retorno das auras sombrias e da escuridão - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora