1

460 32 7
                                    

Para Naila, com amor.

Nunca conheci e nunca soube quem eram meus pais. Na verdade, isso nunca me incomodou. Sempre tive meus três tios, que, desde que eu me lembre, cuidaram de mim, me acolheram e me trataram sempre, sempre mesmo, como um filho!

Para ser mais específico: nunca moramos em uma casa! Não que eu lembre. Meus tios eram diretores de um colégio interno que ficava afastado de Dream Village. Era um colégio para garotos problemáticos. Não que eu fosse! Mas era para onde políticos e celebridades mandavam seus filhos, seja porque lhes causavam problemas ou, simplesmente porque não queriam ter dor de cabeça com eles.

Esse colégio era de alto padrão, e você encontrava de todo -de verdade todo- tipo de filhos de muitos bam-bam-bans da cidade. De diretores majoritários da Encantus, ou então o filho de um dos senadores de Village Dreams, até mesmo um filho de um exímio jogador! É! No Colégio Interno Elisso Santos, para rapazes, era assim.

E claro, ao lado do nosso colégio, quase grudado ao nosso, tinha o Colégio Interno Bruna Carla, para moças. Nunca nos víamos, mas havia uma rivalidade tremenda! Nunca gostamos das garotas, e as garotas nunca gostaram da gente. Uma rivalidade de décadas, talvez séculos.

Espera, eu quase ia esquecendo. Não falei, mas meus tios eram os diretores da nossa instituição (isso explica o fato de eu sempre ter morado ali!).

Tio Floriano, o irmão caçula dos três, era barbeiro, e lecionava etiqueta, além do mais adotava vigorosamente o lema Barba, Cabelo e Bigode. Não havia um menino mal vestido naquele colégio! Todos aprendiam a como se vestir e como se portar em suas longas -e entediantes -aulas de etiqueta para gentlemans.

Tio Ferdinando era músico, e, em suas aulas -também longas -ensinava (e exigia) a perfeição musical! Ele promovia as vezes concertos em que ele passava longas duas horas tocando as sonatas de Chopin para todos os alunos, enquanto uma parte dormia e a outra bocejava.

E,  por último, tio Paulino, o real diretor do CIES. Ele lecionava aulas de línguas estrangeiras, como o inglês, espanhol e francês, mas parou depois de ser nomeado diretor. Para ele, eu só não deveria me meter em confusão, mas depois da entrada do Marcos, meu melhor amigo -vulgo pior garoto de todos os garotos -as coisas pro meu lado só pioraram!

 Para ele, eu só não deveria me meter em confusão, mas depois da entrada do Marcos, meu melhor amigo -vulgo pior garoto de todos os garotos -as coisas pro meu lado só pioraram!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

-EU NÃO ACREDITO! -Tio Paulino gritava de trás da sua cadeira de couro reclinável, enquanto andava de um lado pro outro. Tio Floriano e Tio Ferdinando estavam no canto e me lançavam olhares reprovadores. Nos lançavam, na verdade Não preciso dizer que Marcos estava do meu lado recebendo a bronca, não é? -COMO PUDERAM?

-Bom, senhor, se o senhor olhar de um ângulo diferente, vai ver que foi tudo pelo bem da ciência! -Marcos disse, em nossa defesa.

Não foi ideia minha! Aquilo nunca seria ideia minha! Foi ontem que ele teve aquela maldita ideia de fazer uma bomba fedorenta. Para quê? Não me pergunte! As vezes achava que alguma força maligna possuía meu amigo, ou então havia um diabinho que sussurrava ideias diabólicas no seu ouvido e o fazia fazer aquelas coisas. Só que o problema é que as coisas saíram um pouco do controle. Como de costume.

-BEM DA CIÊNCIA?! -Tio Paulino, exclama.

-É. -Marcos dá de ombros. -Não tenho culpa se as meninas estavam lá bem na hora que explodiu!

- Shut up! ¡Dios mio! Que fais-je? (Calado! Meu Deus! O que farei?) -Tio Paulino murmura, mais pra si do que para nós.

Ah, outra coisa do tio Paulino: ele misturava todas as línguas quando está nervoso. Fala inglês, espanhol e francês, ao mesmo tempo, e as vezes é difícil de entender, porque não sabemos qual língua está falando.

Ah, sim. A maldita bomba fedorenta. Não esqueceremos do motivo que nos fez estar levando aquela bronca. Era esse o motivo de estarmos ali. Só para constar: fui totalmente contra esse plano, mas Frederico e Jorge, nossos outros colegas de quarto não se opuseram, todavia não estavam lá quando fizemos. 

Nosso novo professor de química havia ensinado, semana passada, como fazer uma bomba fedorenta, e Marcos cismou que conseguiria reproduzir uma. Fomos até o jardim, próximo a grande cerca-viva, que divide os jardins das escolas, e aí, começamos, eu e ele, a fazer a bomba. Só que quando aquela coisa começou a soltar fumaça, nós a jogamos para cima e ela voou por cima da cerca, caindo exatamente na piscina de plástico que as meninas estavam. Juro que não vi, mas a diretora veio tirar satisfações e lá estávamos nós.

-Ahn, tio. -Decido então me pronunciar. -Por favor, nos desculpe. Não sabíamos que iria acontecer aquilo. Foi um acidente.

Tio Paulino logo me fita com seu olhar fuzilador. Ele não diz nada, mas sei que está pensando bem no que irá dizer.

-Como pode ser um acidente, Auror? -Tio Ferdinando me olha, reprovadoramente.

-Foi minha culpa, professor. -Marcos fala.

-Dos dois! -Tio Floriano fala. -Não podemos esquecer que Auror compactuou com tudo isso.

-Ambos merecem castigo. -Tio Ferdinando acrescenta.

Todos os olhares se voltam para tio Paulino, que ainda mantinha a sobrancelha franzida enquanto nos encarava.

-Merecem, sim. -Ele se senta. -Como castigo, os dois estão excluídos das atividades extraescolares por uma semana. Terão de lavar as louças do jantar, e limpar toda a escola. Por uma semana!

-O quê? -Eu e Marcos retrucamos juntos.

-Diretor, isso é severo demais. -Marcos diz.

-É verdade. Quer dizer, nem afetados muito assim as meninas. -Digo, e a minha voz morrendo. Com certeza as meninas só tem mais motivos para nos odiarem agora.

-Afetaram, sim. -Tio Floriano fala. -O cabelo das pobrezinhas ficaram um hor-ror!

-Está decidido! -Tio Paulino fala. -Lavar as louças do jantar por uma semana, limpar as escola por uma semana, sem atividades extras por uma semana e, -Ele pensa. Nada bom! Nada bom! -Sem celulares até o fim do semestre.

-O QUÊ!? -Marcos diz alto.

Respiro aliviado. Eles nunca me deixaram ter um celular. Então, não seria tão mal assim...

-Mas no seu caso. -Meu tio fala, me tirando do devaneio. -Seus diários serão confiscados.

-O quê? -Retruco. -Tio, por favor. Não. Por favor. Eles são muito importantes. Eu adoro escrever. Por favor. -Peço, suplicante.

-Tomei minha decisão. Floriano e Ferdinando irão acompanhá-los até seus quartos e vão trazer os itens. Agora, vão. E pensem bem antes de fazerem alguma besteira!

Quando me levanto, nem sei o que estou fazendo. Apenas sigo Marcos, e meus tios nos acompanham atrás. Seguimos até nosso quarto, onde meus tios pegaram todos os aparelhos eletrônicos do Marcos e levaram todos os meus diários e manuscritos.

Era um verdadeiro castigo!

Belo Adormecido (Bela Adormecida) -EM3Onde histórias criam vida. Descubra agora