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-É HOJE! -Marcos grita.

Acordo e caio da cama, assim como os meninos também. Um grande baque se ouve, e arregalo os olhos assustados. Vejo Fred e Jorge; nos encaramos atônitos. Um bater de panela nos chama atenção. Era Marcos. O encaro, confuso.

-O que você pensa que está fazendo? -Coço a cabeça.

Os meninos pareciam tão atordoados como eu, e, claro, devido a queda, tinham dor de cabeça. Porém Marcos parecia bem desperto e alegre.

-Levantem, porque hoje é seu aniversário! -Ele aponta para mim e começa a cantarolar. Noto que tinha uma panela e uma colher de madeira em mãos. -É o aniversário do Auror! É aniversário do Auror! É aniversário do Auror! Dezoitão do amigão! Bom dia! Bom dia! Bom dia! –Marcos continuou dizendo, alegremente, batendo na panela, enquanto eu, Jorge e Fred nos levantávamos, já com dor nos tímpanos.

-Chega! –Peço, pegando a panela da mão dele.

-Feliz aniversário, carinha! –Disse Marcos, me abraçando.

Por um momento, minha irritação matinal some, e permito sorrir, abraçando-o.

-Obrigado. –Respondi ao abraço. –Mas não me deixe surdo, sim?

-Feliz aniversário, Auror! –Disse Jorge. –Animado?

-Um pouco. –Dou de ombros.

-Feliz aniversário! –Fred me dá um tapinha no ombro. –Aliás, -Ele continua. –O dia está só começando e nós...

-E nós, -Marcos o cortou antes que ele pudesse dizer alguma coisa mais. –Temos muito pela frente, não é?

Jorge e Fred se entreolharam e deram de ombros, entendendo a mensagem. Não iriam me contar nada, pelo visto. Revirei os olhos e me limitei a sorrir. Que fosse, então! Nada estragaria o meu dia e eu sabia que esse dia seria longo e diferente dos demais.

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-Rápido, mocinhas! –O treinador gritou e, já não bastasse o barulho ensurdecedor da sua voz, ainda usou seu apito. As vezes me pergunto se ele já não nasceu com o apito na boca, acordando a mãe dele para mamar. 

Aquilo me deixaria surdo, estou quase certo de que a minha saúde auditiva estava se comprometendo à essa hora. Tapo as orelhas, mas não adianta tanto.

Ainda estávamos esperando na arquibancada, enquanto outros alunos davam braçadas em nado crawl de um lado para o outro na piscina. Não que aquilo não fosse surpresa, era isso todo o semestre. O treinador já fazia aquilo como hobby. Digo, nos torturar!

-Pelo amor de Deus, Etan! –O treinador grita, se referindo ao garoto magrelo. –Você prece uma morsa se afogando.

-Mas morsas não são animais marinhos, senhor? –O garoto disse parando, mas foi só até o treinador o fuzilar e ele ter de afundar a cabeça na água novamente.

O treinador continuou a gritar, mas eu não estava focando naquilo. Marcos e eu estávamos de sunga e touca, com toalhas em volta do pescoço, apenas esperando. Não devo dizer bem esperando, já que nem ligávamos para aquilo de verdade. Só conseguia pensar no nosso futuro suicídio coletivo.

-Tudo pronto? –Pergunto, na esperança que Marcos diga algo mais do que "sim. Tudo pronto".

-Sim. Tudo pronto. –Ele fala, me fazendo revirar os olhos.

-Não vai ser mais claro? –Retruco. –Sabe, tipo me contar o plano. Eu já aceitei e talvez possa ajudar...

-Não se preocupe com isso. –Marcos se apressa, me interrompendo.

-É meio impossível, se ainda não notou. -Arqueio uma sobrancelha. Tinha como eu não me preocupar? Eu nem fazia ideia do que ele estava planejando. 

Sabia que era algo grandioso, porque é tipo do Marcos fazer coisas grandiosas. Como na vez em que ele jogou milhares de bolinhas que estufam na água, na piscina, só pra comemorar o aniversário do treinador. Marcos, Jorge, Fred e eu passamos três dias limpando a piscina, enquanto o treinador gritava conosco. Três dias que sempre que lembro me dão calafríos.

-Eu sei. –Marcos fala e dá de ombros. –Mas já tenho um plano B, caso o A falhe. E um plano C, caso o A e o B falhem. E um D, caso...

-Entendi! –Falo, apressado. –Tem todas as letras do alfabeto como planos reservas.

Ele assente e sorri, como se dissesse "é isso aí".

-Só que, é muito frustrante não saber das coisas. Principalmente quando elas envolvem você! –Suspiro, e volto pra piscina. Já já entraria;

-Eu acredito. –Marcos se levanta, e eu o encaro. –Porém, meu querido amigo afobado, prometi que não iria metê-lo em mais uma confusão, e...

-Sabe que está, indiretamente, me metendo em confusão, não é? –E me levanto, para ficar na mesma altura que ele. –E é uma baita confusão!

-Sei. –Ele dá de ombros. –Mas no meu psicológico, não te contar, me conforta!

E caminha até a borda da piscina, despreocupado.

-É, só que só me deixa mais agoniado! –O alcanço.

Deixamos as toalhas de lado e nos preparamos para pular, aquecendo o corpo, dando pulos e respirando fundo. Coloco o óculos de natação.

-Então pare de se preocupar! –Marcos ralha, fazendo um alongamento.

-Sabe que quando diz isso eu fico mais preocupado, não sabe? –Falo, e aqueço, alongando.

-Ei. A Mariquinha e a Maricota querem chá pra terminar a conversa? –O treinador grita.

-Com açúcar e leite. –Marcos fala e dá um sorriso sarcástico, mas antes que o treinar envolvesse as mãos dele ao redor do pescoço de Marcos, meu amigo pula.

E é aí que eu tenho certeza que ele é um suicida e que, sim, morreremos ao anoitecer.

O treinador me encara.

-E você? -Ele ralha.

-Só com açúcar. Sem leite. -Digo e ele arregala os olhos.

Pulo antes que ele me esgane. Marcos e eu rimos, quando boiamos no meio da piscina. 

-Eu vou matar vocês! -O treinador esbraveja. -Vou matar os dois!

E então seguimos no nado crawl como devia. 

Eu ignoro por um momento toda a frustração, e penso sobre como eu me divirto tanto com meus amigos. Como tenho uma família aqui. 

E então lembro do sonho. Da garota... Devo deixar isso de lado, não?

Belo Adormecido (Bela Adormecida) -EM3Onde histórias criam vida. Descubra agora