2* Vizitante

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Logo depois, Robert me mostrou o meu novo quarto.
Prendi o fôlego.
Ele era incrível, o quarto dos meus sonhos! Só que não.
Atravessei o cômodo com paredes pintadas de rosa fitando os muitos ursinhos de pelúcia nas estantes que me encarava com sorrisos congelados.
-Por que eu tenho a leve sensação de que a Emily tem algo a ver com isso?-perguntei a mim mesma sentando na cama.
Bem a minha frente tinha um espelho de corpo inteiro. Observei minha aparência: com meus cabelos em um coque, meu salto preto, meus Jens rasgados e minha jaqueta de couro.
Emily tinha razão de se assustar com meu vizual, nem sempre fui estilo pank. Um dia eu cheguei a ser a sua princesinha mas cresci e descobri que contos de fadas não existem. Aliás, foi ela mesma quem me mostrou isso.
Um dia ela decidiu que a sua vida era uma droga e levantou a saia para o primeiro ricaço que encontrou. Suspeitava que ela já traia meu pai antes mesmo de se separarem. Quando ele começou o tratamento.
Ela teve a dignidade de ajudar financeiramente com os tratamentos, mas o que mais ele precisava ela não o fez: doar um pouco sua companhia. Mas talvez fosse melhor assim, acho que não poderia me controlar se eu visse aquela mulher em minha frente. Mas eu a vi, a vi no velório do meu pai.
Spencer Gray morreu recentemente e tudo que eu pude fazer foi ficar ao seu lado esperando seu último suspiro.
Eu tinha só 12 anos mas amadureci por ele e por mim, não iria abandoná- lo como minha mãe. Só tínhamos um ao outro.. e a esperança. Mas ela também se foi quando o Dr. Stuart nos deu pior notícia que eu já ouvira.
Meu pai não se abalou, era como se ele já soubesse que não sobreviveria. Fiquei irada por 15 anos de quimioterapia terem sido em vão. Quer dizer, por causa dela nós tivemos mais algum tempo juntos.
Andei até a cama e afundei o rosto no travesseiro mas não chorei. Parei de chorar a muito tempo. Perdi um pouco da minha infância, mas não me arrependia de nenhuma madrugada no hospital esperando o médico me dar uma boa notícia sobre o estado do meu pai.
-Toc, toc! - gritou alguém do outro lado da porta - Posso entrar?
Não.
- Sim - respondi antes que uma garota baixa e com fartos cabelos cacheados entrasse no quarto.
- Oi, sou Gabby-disse com uma voz estranhamente animada - Espero que tenha gostado do seu quarto, eu mesma que mandei decorar.
-Isso explica muita coisa - sussurrei
-Eu soube da sua história e, você é uma garota muito forte.
-Precisei ser - Não queria fazer amizade com as pessoas daquela casa, foi essa a minha promessa quando soube que viria morar com Emily.
Mas aquela menina, que não devia ter mais do que 11 anos, não parecia perigosa, parecia mais como... solitária.
- Só vim dizer que quando quiser conhecer a cidade melhor, eu posso te levar para fazer um tour - ela sorriu timidamente- Não faz idéia de como é ser a única menina nessa imensa casa - ela deu de ombros cansada.
- Pode deixar. Chamarei você se precisar - seus olhos brilharam com minhas palavras.
-Ok!- ela levantou-se e seguiu para a saída - Espero que tenha uma boa noite.
-Também espero - falei quando ela se foi.
Eu não sabia se gostaria daquela cidade, era bem diferente da minha terra natal. Não me refiro tanto aos amigos porque, eles não eram muitos e eles foram praticamente sumindo depois de um tempo. Amanhã seria meu primeiro dia de aula na School Edward M. Kill, uma escola particular de riquinhos mimados. A única coisa pior do que chegar no meio do ano em uma nova escola, era chegar no meio do ano em uma escola de mauricinhos.
Mergulhei para a cama esperando que o sol não surgisse tão cedo no horizonte.

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