Pego minhas chaves e me dirigo a praça mais próxima, Katrine se põe no banco ao lado e não para de falar. Dirijo não prestando muito atenção no que ela falava, aquilo tudo era tão confuso, tê- la ao meu lado outra vez de uma maneira tão bizarra e surreal, ainda não me acostumara a idéia, nem mesmo sabia se acreditava totalmente nela. Mas decido seguir o que eu estava fazendo, iria seguir os conselhos de alguém que somente eu via e no fim talvez ela sumisse.
Ao chegarmos, desço do carro com ela logo atrás de mim. A praça estava bem movimentada, garotas passeavam com seus cães, crianças brincavam enquanto seus pais conversavam, era um ambiente bem familiar.
- eai o que você pretende fazer? Soltar uma flecha que nem um cupido? - zombo.
- se eles tivessem me dado um arco, talvez eu usasse, seria mais fácil. - ela pondera.
- o que quer dizer com "eles"? - indago.
- é melhor você não saber. - ela diz e sorrir.
Ela olha para os lados, pensando no próximo passo a dar.
- porque você voltou Katrine? - pergunto, depois de um tempo em silêncio.
- eu já lhe disse Adrian, você só acabava com sua vida, fui enviada para mudar isto, te ajudar a... Me esquecer.
- enviada? por quem? - digo, pois nada fazia sentido.
- isso é algo que eu não posso responder, e nem mesmo sei com clareza. - responde.
- e quando tudo acabar?
- eu vou voltar para lá. - diz evasiva.
"Eles" seja lá quem for, só podiam está de sacanagem com a minha cara, a enviam para mim, para tirarem logo em seguida.
- e porque você não fica aqui comigo?, assim eu não preciso te esquecer. - digo choroso, soando tão frágil, algo que tentava evitar desde que passei a vê-la outra vez.
Ela me olha nos olhos, e põe sua mão sobre meu coração, mas eu não a sinto, apenas sei que está ali.
- entende agora porque não posso ficar?, meu corpo não está aqui de verdade, foi devorado pela terra, apenas minha alma está aqui, e... Esse mundo não é mais meu lugar. - diz, sem desviar seus olhos dos meus.
- Mas... - tento dizer.
- sem "mas" Adrian, temos um objetivo aqui, vamos cumpri-lo.
Aceno em concordância, sem conseguir tirar meus olhos dos dela, ela não mudara nada desde que morreu.
- vamos te encontrar um novo amor. - ela diz.
Mas como?, como poderia fazer isto?, se ainda a amava, se ainda a queria comigo... Como poderiam querer que a garota que eu amo me ajudasse a encontrar um novo amor?
E o mais importante, eu não queria mais que ela sumisse, eu queria que ela ficasse aqui, ou que pelo menos eu ficasse com ela de alguma forma, tinha de ter algum jeito.
- o que te atrai mais em uma garota? - Katrine pergunta, tirando-me de meus pensamentos.
Olho para seu corpo, ela estava agora com um vestido branco, colado em suas pernas e com um amplo decote. Fico observando descaradamente, até que ela diz:
- você não respondeu minha pergunta.
- acho que respondir. - digo, olhando novamente para suas pernas.
- não em mim Adrian! - Vocifera.
- mas você é uma garota. - digo em minha defesa.
Ela revira os olhos e diz:
- acho que vou ter que resolver tudo sozinha.
- porque ficou tão irritada?, você me perguntou o que me atrai em uma garota, e eu respondir, você me atrai, o que mais poderia responder?
Ela engole em seco e não me responde, era um fato engraçado, toda vez que ensinuava algo sobre nós ela desviava o assunto ou voltava a frisar que era um fantasma. Seria possível que mesmo depois de sua morte, ainda nutrisse algo por mim?
- vamos me dê uma ajudinha. - ela súplica.
Observo as garotas que passavam pela praça, vejo uma morena bonita vestida de forma provocante e aponto para ela.
- que tal ela? - pergunto, entrando na sua.
Katrine olha para a garota e seguidamente para mim.
- não, essa é vadia. - Katrine diz.
Caio na gargalhada, isso seria mais difícil para ela do que poderia ter imaginado.
Rio tanto, que uma senhora passa por mim e pergunta se estou bem.
- sim - respondo - foi apenas uma crise de riso.
A senhora me encara como se fosse louco, e continua sua caminhada sem olhar para trás.
- acho bom você ter cuidado quando fala comigo. - Katrine diz. - alguém pode perceber.
Nos dirigimos até um banquinho, enquanto Katrine observa as garotas, eu penso no que posso fazer para tê- la comigo. Talvez um ritual estilo Frankstein, quem sabe?, depois de ver Katrine novamente, não via mais nada como impossível.
Estava perdido em pensamentos, quando escuto alguém se por ao meu lado.
- Aiii cacete - uma garota pragueja.
- maldito cachorro. - ela continua a reclamar, envolvendo seu tornozelo com a mão.
- o que aconteceu? - pergunto por educação.
- eu tava indo pra casa, quando um cachorro simplesmente me atacou. - ela responde irritada.
Olho seu tornozelo, estava um pouco avermelhado e ferido, em um impulso levo meus dedos até ele. Nesse momento a garota olha em meus olhos e eu a vejo. Tinha olhos castanhos e uma expressão surpresa e carrancuda devido ao ferimento.
- qual o seu nome? - pergunto.
- Sophie - ela responde, sem desviar o olhar.
- e o seu? - pergunta.
- Adrian... - digo, e nesse momento olho para os lados, não vendo Katrine em lugar algum.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Katrine
Short StoryEle usava o vício, as garotas e tudo o que não prestava para esquecê-la. Ela foi o amor de sua vida, tudo o que ele considerava importante, ela era seu tudo e então ela se foi. O que você faria se o amor da sua vida te ajudasse a seguir em frente...