CAPÍTULO 63

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Islla Thompson


Abro os meus olhos devagar sentindo os músculos do meu corpo doer. Solto um gemido. Tento encarar o teto. Olho ao redor para saber em que lugar estou, porém não há mais nada além da escuridão. Tudo se encontra escuro. Sem fresta de luz ou vento. Forço a vista em meio a escuridão para tentar ajusta-la com intuito de ver algo, mas não enxergo nada.
Me ajeito vagarosamente ao perceber que estou deitada no chão em cima de um pedaço de papelão. Mexo as pernas com dificuldade já que estão presas - acredito que sejam correntes - posso sentir o peso e a força com que estão prendendo meus pés um no outro. Ai meu Deus! Isso dificulta qualquer tipo de locomoção.
Suspiro. Quem pode ter feito isso comigo? Por que me sequestrar? Será que o David tem haver com esse sequestro? Tudo indica que sim. Droga! O que faço para sair daqui? Solto um gemido ao tentar encolher as pernas já que ainda consigo sentir o feromwn na coxa ocasionado pela pequena faca arremessada pelo sequestrador. Acho que fizeram um curativo. Mesmo não enxergando sinto que tem algo na coxa em cima do corte. Podem ter enfaixado para estancar o sangue. Se me quisessem, talvez, já teriam me matado.
De repente, escuto passos se aproximarem. O medo me atinge. Volto a posição que estava e fecho os olhos fingindo está inconsciente. Estou com muito medo. Não sei o que esperar. O que vai acontecer daqui para frente. Eu só quero sair daqui com vida. A porta se abre e logo uma luz reflete uma parte do local onde estou deitada. Abro os olhos devagar observando meu corpo disfarçadamente. Logo vejo as correntes nos meus pés e o curativo na coxa - eu estava certa quanto a isso. Percebo que estou em um quarto com duas janelas literalmente tampadas por pedaços de madeiras. Meu corpo treme. Logo a minha esperança desaparece por certificar que estou em um cubículo fechado sem saída. Deitada no chão a única coisa que penso é se o hoje ou se esse "agora" vai ser o meu fim. A luz do quarto finalmente se acende e em um movimento devagar sigo o olhar na pessoa que acabou de entrar.
- Islla! Nem acredito que a encontrei.- ele entra no quarto fechando a porta com cuidado. Arregalo os olhos. Não sei explicar o alívio por vê-lo aqui. Parece que estou sonhando.
Sento rapidamente no chão forçando a perna machucada. Nessas horas não vou me perguntar com a dor. Só quero me livrar dessas correntes.
- Meu Deus! Co-como me encontrou?- Pergunto, amedrontada por esta vivenciando isso.
- Não se preocupe vou tirá-la daqui. Só preciso que fique calma. - Lucas Gomes se agacha na minha frente e toca na corrente. - Preciso de chave.
- E agora? Se o encontrarem aqui?- pergunto preocupada olhando na direção da porta com as mãos trêmulas. Mal consigo falar direito. O nervosismo toma conta de mim.
- Não tem ninguém na casa, eu vi quando saíram. - Lucas comenta olhando em volta.
- Em que lugar nós...- tento dizer quando meus olhos focam no seu pescoço, pois a sua posição favorece meu campo de visão para observa-lo melhor. Arregalo os olhos chocada.
É a mesma tatuagem que o homem que me sequestrou tinha na sua pele. Não tem como confudi-la. Jamais esqueceria. Gritei com toda a força para o Dylan antes de perder a consciência. Meu mundo desaba ao entender que jamais sairei daqui e que o Lucas - o homem bom. Um rapaz que trabalhou com meu pai na época em que era vivo por muitos anos e que agora mantém um relacionamento com a minha mãe. Esteve presente no evento da empresa e na minha casa o tempo inteiro e uma delas esteve com o David. Meu Deus! Como não pensei nisso antes? Eles são primos, a chance de um ajudar o outro era muito grande. Lucas com certeza me sequestrou a pedido do David. Tudo está explicado. Claro! Os dois devem ser aliados. David manda e o seu priminho obedece. Estou pasma. Lucas? Meu Deus! Nunca imaginaria. Ele percebe a minha palidez. Percebe como me encontro paralisada já que antes estava toda ansiosa para sair daqui com a sua ajuda. Seu ombro se endireita e sua cabeça se ergue virando na minha direção. Nos olhamos. Sua mão direita continua depositadas sobre as correntes. Engulo em seco. Estamos próximos demais.
- Está assustada, não está Islla? - Lucas pergunta seriamente em um sussurro. Balanço a cabeça positivamente.
- Si-sim. - balbucio.
- Está com medo?
- Sim. - não demoro para respondê-lo.
- Sente medo de mim?- ele ergue as sobrancelhas. O meu silêncio predomina o fazendo entender que já percebi tudo.- Não queria que tivesse acontecido isso, mas... Tivemos que acorrenta-la... Ah, Islla! Não precisa ficar espantada dessa forma. Deveria ficar aliviada por saber que sou eu que estou aqui com você.- Lucas se levanta do chão sorrindo aparentando está a vontade com a situação. Continuo chocada.
- Por que está fazendo isso comigo? Por que você? O que foi que eu fiz? - Pergunto começando a chorar.
- A pergunta não é o que fez, mas sim o quanto significa para mim. - Lucas ressalta com firmeza me assustando.
- O que isso quer dizer? É a empresa do meu pai? Está fazendo isso por dinheiro? - indago amedrontada pela sua mudança de personalidade. Na verdade, acredito que sempre foi assim. Apenas só mostrou o que queríamos ver.
- Não quero nada disso, Islla. - sua resposta me causa calafrios. Minha boca fica seca. Nos olhamos por longo período. Ele volta a se agachar na minha frente devagar. Olha as correntes e acaricia meu pé. Solta um suspiro ficando pensativo por alguns segundos.
- Então... O... Que você quer?- Pergunto em um sussurro. Lucas me olha com frieza. Um semblante sério e ao mesmo tempo irônico. Sua cabeça inclina para o lado vagarosamente parecendo me analisar com atenção.
- Eu quero você, Islla. Quero que seja só minha. - ele se aproxima tocando no meu queixo. Arregalo os olhos desviando o rosto do seu toque.
- Co-como? - fico de boquiaberta com sua revelação. Esse cara é louco? Está dizendo que pretende ficar comigo, após se relacionar com minha mãe? Além do mais, me viu desda adolescência. Foi amigo do meu pai há anos. Meu Deus. Não acredito nisso.
- Ainda não entendeu?
- Por que está fazendo isso? Por que me sequestrar, Lucas? Não consigo entender... Você e minha mãe estavam bem felizes e... Tudo parecia normal. O que eu fiz? Por que gostar de mim? - grito aos prantos enlouquecidamente. Entro em desespero. Sento com dificuldade. Ele desfaz o sorriso. Me analisa.
- Meu relacionamento com a Veneza era uma farsa. Eu só tenho olhos para você... Sempre tive. Confesso que ainda sinto algo por aquela mulher adorável... Só que eu pertenço a você. Já sou seu, Islla. Não consegue perceber?- Lucas se exalta como se já fosse obvio.
- Como assim sempre? O que está dizendo? - fico perplexa.
- Para de ser tão ingênua. Me apaixonei desde a primeira vez que a vi naquela empresa ao lado do seu pai.
- Eu era adolescente.- repreendo-o incrédula.
- Exato! Olha quanto tempo o meu amor se estendeu. Se intensificou por você... Agora, eu venho e te encontro namorando com aquele desgraçado. Quer acabar comigo? - Lucas grita se levantando do chão. Caminha de um lado para o outro me assustando.
- Por favor, não faça nada com ele.- suplico aos berros.
- Você não deveria ter feito isso. Eu sempre fui seu homem. Sempre fui o primeiro, e olha o que fez. Olha o que fez. - ele grita mais uma vez. Tomo outro susto.
- Lu-Lucas...- tento para-lo.
- Eu a transformei numa mulher no momento que fizemos amor naquela noite estrelar ao livre e é assim que me agradece.- Lucas desabafa aparentando está decepcionado. Quando suas palavras retomam ao meu cérebro de maneira lenta. Tento assimilar o que acabou de dizer. Como assim me fez mulher? O que isso significa? O encaro confuso de boquiaberta.
Um sorriso de satisfação surge nos seus lábios. Meu rosto empalidece. Meu coração parece parar. Sinto-me em choque. Em pânico. O que ele está falando? As lágrimas tomam conta dos meus olhos deixando minha visão turva por imaginar que seja o que estou pensando. Não, não... Isso é... Meu Deus! Não!
- Nunca... Fizemos... Amor. - enfatizo pausadamente com medo da sua resposta mesmo com uma pequena desconfiança.
- Não fala assim. Isso me magoa. Planejei tudo nos mínimos detalhes para nada da errado. Agora você diz que não se lembra? O David foi...
- David me sequestrou naquela noite. Me fez entrar no carro e me levou para um lugar com os olhos vendados... Me tocou e... - minha voz falha. Fecho os olhos com força me banhando em lágrimas.
- David apenas fez o que tinha que fazer. - Lucas comenta dando de ombros. Abro os olhos de imediato.
- Ele me estuprou... Tirou a minha virgindade e...- grito.
- Opa! Não, meu amor. Eu tirei. - ele responde enfiando as mãos no bolso da calça. Arregalo os olhos.
- O quê? - pergunto, abismada.
- Acha mesmo que o David transou com você? Acredita nisso? Minha menina, ele só fez o que eu pedi para que fizesse. Naquela noite, só serviu como motorista particular para desloca-la de um bairro para o outro, mas confesso que meu plano todo era esse. Fazê-la acreditar que não tenho nada haver com a história e sim meu primo. Não é genial? Apesar que a minha vontade era dizer que eu estava ali... Fazendo amor e...
- Chega. Eu não quero ouvir. Meu Deus! Eu pensei que...
- Não age assim. Pensei que ficaria feliz, foi um momento inesquecível para nós. - Lucas se demonstra ofendido - pelo menos finge estar- enquanto estou chocada sem saber o que responder. Sem saber como agir. O namorado da minha mãe. Amigo de trabalho do meu pai por anos. Foi o cara que me estrupou... Meu Deus! Ainda estou tentando digerir as informações.
- Seu pai... Sempre foi um cara responsável. Queria que as coisas fossem do jeito dele e por isso que nós brigavámos algumas vezes. Mas quando eu a via na empresa fazia questão de me redimir só para estar lá.... Observando-a em silêncio. Eu me apaixonei perdidamente por você.
- Isso não faz sentido. Não, não. O David ficava me observando quando eu passava no bairro e...
- Devido as minhas ordens. Eu sabia que de uma certa forma você poderia não gostar de algo que eu fizesse, então precisei coloca-lo como um ponto de fuga. Se desse merda ele responderia por tudo. - Lucas explica deixando um sorriso de canto escapar. Seus olhos me fitam por alguns segundos antes de desvia-los. Prosseguindo em seguida. - O David tinha uma dívida comigo e foi desse jeito que o fiz pagar. E sabe de outra coisa? Ele não fazia ideia de absolutamente nada. Apenas seguia minhas ordens, como observa-la e levá-la para mim. Agora sobre as minhas intenções e o que fizemos naquela noite o idiota não sabe. Ninguém sabia... Até agora.
- O Da-David não sabia? Não fez nada comigo? Por que aceitou fazer isso? Poderia pagar a dívida de outra forma. - Pergunto perplexa e olho para o chão atordoada.
- Ah, minha menina. Quando se trata de dívida a pessoa não tem escolhas. Ele se ferrou por contra próprio ao fazer um trabalho com um cara que na época era muito poderoso. A família deve estava ameaçada caso não pagasse o valor, então pedir que fizesse o que eu mandasse em troca do pagamento todo da dívida. Assim foi feito.
- Você acabou com a minha vida, Lucas. Me estrupou. - grito em pânico por saber de toda história. Julguei o David por anos. O acusei, o odiei tanto pensando que foi o homem que destruiu a minha alma.
- Não fiz isso. Jamais faria algo desse tipo. - ele se mostra indignado com a minha acusação.
- Foi contra a minha vontade... Eu estava amarrada. Com os olhos vendados, assustada. Não queria está ali. Não quero está aqui. - rebato exaltada.
- Eu fiz daquele jeito, porque sabia que não iria aceitar. Só que eu não aceitaria se outro homem tirasse sua virgindade.- Lucas reclama parando na minha frente.
- Eu era uma adolescente feliz. Tinha sonhos, tinha vida e...
- E continua tendo isso. Pare de drama. Jamais a machucaria.- ele rebate.
- Meu pai confiava em você. - grito.
- Seu pai está morto agora. Foi assassinado e...
- O quê? Não, não, ele faleceu por infarto.- o corrijo de imediato.
- Olha, querida. Eu jamais queria que soubesse disso, mas se agora ficaremos em diante vamos ficar juntos. Tem que ser sem segredo. Seu pai morreu de infarto.
- Como tem tanta certeza? - indago, abismada.
- Porque eu o matei envenenado.- a resposta do Lucas me afeta de uma forma que meu coração chega a doer. Jamais na minha vida pensaria que isso pudesse acontecer. Meu pai assassinado? Teve a vida arrancada? Isso é inadmissível.
- Seu desgraçado! - Grito começando a me debater na tentativa de me soltar, mesmo sabendo que toda força que faço seja em vão. Estou cega de ódio, de raiva, de tristeza... Não! Meu pai, não. Meu Deus. Meus gritos soam pelas paredes dos quartos e um choro cheio de dor salta da minha boca.
Lucas se agacha me segurando.
- Shiu! Pare, querida. Não fica assim.-ele segura meus braços sem fazer força.
- Eu não vou parar. Lutarei todos os dias da minha vida para me livrar de você.- falo, ofegante.
- Não tem como sair daqui. Então, não se canse sem necessidade. - Lucas acaricia meu queixo se levantando para ir embora. O observo tirar seu celular do bolso para responder alguma mensagem. Fecho os olhos com força. David foi na minha casa me avisar de alguma coisa... Tentou se aproximar, porque tinha algo a dizer e eu o ignorei pensando que foi o homem que acabou comigo. Sendo que na verdade o real monstro estava ali. Perto de mim.
O culpei, mas no fim ele só queria proteger a sua família. Agora entendo o seu espanto quando me viu pela primeira vez no evento da minha mãe. Ele não entendia o motivo de nossos caminhos terem se cruzados de novo. Acredito que o Lucas não tenha contado sobre seus propósitos mais uma vez. Misericórdia! Estou de queixo caído.
Não foi o David. Foi o Lucas que deixou uma marca dolorosa na minha vida. Me estrupou, fingiu ser um bom homem, namorou a minha mãe e matou o meu pai.
- Eu não estou acreditando nisso, você é um doente! Eu tentei me proteger de todas as formas, tentei me afastar do David, sendo que na verdade eu tinha que me proteger de você.- murmuro. Ele se vira para me olhar assim que guarda o celular.
- Eu a amo. Espero que um dia reconheça isso. - mas uma vez Lucas se agacha na minha frente fazendo menção de me beijar, porém cuspo no seu rosto o deixando irritado.
Ele passa a mão acima do nariz com um semblante sério.
- Posso te amar, mas se não for se comportar, será castigada.- Ele ameaça tensionando o maxilar.
- Prefiro morrer do que viver ao seu lado. - Grito.
- Cala essa boca. Quero lhe mostrar uma coisa. - Ele pega seu celular de novo começando a mexer rapidamente. Coloca o aparelho posicionado na minha frente e aperta o play em um vídeo.
- O que é isso? - pergunto confusa ao perceber a imagem escura.
- Para você perceber que nunca esqueci de você. - Lucas responde sorrindo. Forço as vistas vendo A imagem do vídeo ficar mais nítida. Arregalo os olhos ao entender do que se trata. Ele ainda gravou um vídeo quando me estrupou. Não dá para acreditar nisso. Meu Deus!
- Gravei tudo. A nossa primeira vez me marcou muito e ter o privilégio de
assistir várias vezes aumenta mais a minha saudade de senti-la novamente.- Ele diz tocando no meu rosto. Se aproxima devagar e junta nossos lábios contra a minha vontade me obrigando a beija-lo, porém permaneço imóvel.
- Me beija. - ele ordena.
- Não quero.
- Não comece... Sabe do que sou capaz.- sua voz soa firme.
- Não tenho medo de você. - murmuro.
- Não a machucarei, mas tem a sua mãe, o Dylan a Luanne... Deixa eu ver mais...
- Chega!
- Eu te amo. - Lucas avisa se afastando de mim. O observo caminhar até a porta fechando-a em seguida. Fico no escuro mais uma vez sozinha e presa nos meus próprios pensamentos. Tento respirar, mas é quase impossível. Minhas mãos estão trêmulas e estou suando muito. Não posso acreditar em tudo que descobrir. A única coisa nesse momento que vou focar é na minha fuga.
- Preciso sair daqui.- Sussurro deitando no papelão.

🌼Meu Milagre é Você - REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora