Capítulo 1

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Grupo de Apoio: a Vida Vale Muito. Que tipo de nome ridículo é esse? Eu esperava por um Suicidas Anônimos ou Apoio Para Depressivos, mas uma pessoa que tem potencial para acabar com a própria vida com certeza iria morrer de tédio só de ouvir esse nome. O que seria um alívio, obviamente, mas imaginei que essa não era a intenção de quem o inventou.

Meu pai dirigia pelas ruas de Miami e o sol iluminava toda a cidade contrastando com o frio que fazia naquela tarde. Nós dois estávamos especialmente quietos naquele dia, principalmente depois da briga de mais cedo quando eu estava trancada no banheiro para não ter que aparecer naquela maldita reunião.

-Marlene, sai desse banheiro agora ou eu vou derrubar essa porta! - Maximus Duncan, mais conhecido como procriador de espermas depressivos e também como meu pai, batia na porta com uma força desnecessária enquanto eu observava as minhas unhas com muito interesse.

-Então eu vou simplesmente correr para dentro de todos os cômodos dessa casa até você derrubar todas as portas! - falei com a voz em um tom calmo e irônico, torcendo para que ele desistisse.

-Ótimo, é assim que você quer resolver as coisas? Então, tudo bem! Talvez a sua mãe seja uma pessoa melhor para te dar conselhos, hoje mesmo te levarei até ela e você pode ficar por lá de vez..

Ele sabia que aquilo era um golpe baixo, sabia que eu nunca consideraria morar com a minha mãe depois de ela ter escolhido ficar com o meu irmão na separação. Com o cheiro da derrota infestando o banheiro, eu abri a porta com os ombros curvados e respirei fundo, juntando toda a minha força para gritar enquanto ouvia seus passos na escada.

-VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE FAZER ISSO COMIGO! - minha voz foi o único barulho naquela casa e fazendo-lhe parar no lugar, assustado.

-Eu sou o seu pai! - ele deu meia volta e subiu os três degraus para ficar de frente para mim. - Não quero ficar parado enquanto você decide qual é a melhor forma de tirar a sua vida... - a voz dele diminuiu gradativamente conforme ia dizendo a última frase e eu reparei na olheira embaixo de seus olhos que o deixava dez anos mais velho do que ele realmente era. - Se esse grupo de apoio vai te ajudar, então é para lá que você vai.

-Pai... - suspirei, sem saber o que dizer. Como eu poderia explicar para alguém que me ama incondicionalmente que eu estava sem vontade de continuar vivendo nesse mundo horrível, ao redor de pessoas horríveis e fazendo as mesmas coisas até ficar velha? Era tedioso e no mínimo, desgastante.

Mas eu não podia dizer nada daquilo porque ele não entenderia, assim como a Spencer – pessoa que possuía o título de minha melhor amiga em um passado não tão distante - quando tentei explicar e ela disse que isso era bobeira minha, que pensar em morte era coisa de maluco e que eu precisava me internar, isso antes de começar a rir, achando que eu estava brincando.

É claro que esse foi o último dia em que dirigi a palavra à ela.

Depois de lembrar disso, enrolei meus braços na cintura do meu pai, lhe dando um abraço forte antes de entrar no quarto e colocar a primeira roupa que vi no armário.

E isso me levava até o momento em que estávamos sentados um ao lado do outro no carro, com aquele clima pesado nos rondando enquanto uma música do meu cd do John Mayer tocava, sem receber seu devido valor, pois eu estava completamente distraída para sequer cantar alguma coisa.

Soltei o ar com pesar quando o carro parou em frente à uma clínica de reabilitação, onde seria o encontro do grupo. Ótimo, se alguém da escola passasse ali iria me chamar de drogada, além do "estranha" que escuto todos os dias.

Meu pai pediu baixo para que eu pelo menos tentasse antes de beijar a minha cabeça e desejar "boa sorte". Eu precisaria de muita para passar meus próximos noventa minutos naquele lugar.

Se Enlouquecer Não Se ApaixoneOnde histórias criam vida. Descubra agora