Revirei os olhos pela milésima vez, anotando mentalmente mais um defeito de Benjamin: péssima escolha para filmes.
-Não diga que sou muito bom pra você. Eu sou, mas não diga. - ele imitou uma fala do filme Closer: Perto demais e eu bufei.
-É sério? Não tinha um filme mais atual? Insurgente, sei lá! - reclamei pela milésima vez.
-Você não tem cultura, Marlene! E para a sua informação, o mais atual é Convergente. - foi a vez dele de revirar os olhos, indo até o notebook conectado na televisão e dando pausa no filme. - Só por causa disso, a pipoca é minha!
-Quantas vezes você já viu esse filme? Eu te emprestei a minha conta no Netflix, lá tem alguns filmes legais, pode usufruir. - sorri, ironicamente, tentando pegar o balde de pipoca de novo.
-Não importa, você tem um gosto péssimo. - ele puxou o balde e eu me inclinei para alcançar.
-Olha quem fala, você é fã de Star Wars!
-Ontem você não estava reclamando disso, eu te vi babando quando eu apareci com a minha camisa do filme... - deixei meu queixo cair, o abusado já estava se achando - Mas agora que estou bonito, eu não te quero! - ele brincou e eu dei um tapa em seu braço.
-E você queria antes? - perguntei, rindo e distraída ainda na saga da pipoca.
Benjamin me entregou o balde em silêncio e só depois que sorri triunfante, dando play no filme chato dele, que percebi que ele não respondeu.
E ficou em silêncio até o filme terminar.
***
Aos poucos eu notei a melhora de Benjamin, mas tive certeza de que ele estava feliz quando passei em sua casa para irmos juntos até a escola, duas semanas depois de tê-lo ajudado naquela transformação toda e a mãe dele pediu para falar comigo em particular antes de irmos.
-Marlene, eu nem sei como te agradecer! - ela suspirou, segurando minhas duas mãos com carinho. -O Benjamin é outra pessoa, ele se fechou muito depois da morte do pai e ficou tão depressivo que eu tinha medo de deixá-lo sozinho para depois encontrá-lo morto em casa. - Eloise soltou uma de minhas mãos para secar uma lágrima que escorreu pela sua bochecha e secou na calça antes de voltar a pegar minha mão.
-Não precisa agradecer, eu vi o quanto ele estava infeliz com a própria aparência quando o conheci no grupo de apoio, mas não tinha forças para mudar nada, ele só precisava de um empurrãozinho de uma desconhecida. - comentei, tentando não demonstrar o quanto eu estava envergonhada.
-Desconhecida? Mas eu achei que vocês já se conheciam da escola.. - Eloise franziu a testa.
-Não, a gente estuda na mesma escola há muito tempo, mas nunca nos falamos antes. - falei devagar e ela ainda tinha aquela expressão confusa no rosto, gostaria de saber o que ela estava pensando.
-Ah, deixe para lá, eu devo ter me confundido com outra amiga de Benjamin. - ela sorriu de lado e apertou minhas mãos. - Mas você deve saber que sempre serei grata pelo que fez por ele, você devolveu o sorriso para o rosto do meu filho. Seja qual for o motivo que te levou ao Grupo de Apoio, espero que passe, porque você também merece ser feliz.
Agradeci, sentindo as lágrimas começarem a criar vida nos meus olhos e me despedi de Eloise antes que eu chorasse de verdade. Durante todo o caminho para escola, Benjamin falou de várias coisas, mas eu só conseguia pensar no que sua mãe tinha dito.
Eu merecia ser feliz.
-O que você vai fazer nesse fim de semana? - ele perguntou quando paramos na frente da porta da minha sala. As pessoas estavam começando a desconfiar que estávamos namorando escondido.
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Se Enlouquecer Não Se Apaixone
RomansaApós um inverno intenso e depressivo, Marlene finalmente ouviu os conselhos de seus pais e procurou ajuda para entender o que estava acontecendo em sua mente. Quando descobriu que o psicólogo da escola fora demitido por estar fora de si, o que lhe r...