Capítulo 1

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Segunda, 7h15


Ana

  Acordei com alguém a bater-me, era alguma coisa mole. Abri um olho e logo vi quem era.

"que estás a fazer?" perguntei à minha melhor amiga

"estou a acordar-te , que se não chegamos tarde" exclamou continuando a bater-me com a almofada, mas desta vez com mais força 

"fogo, que porcaria!" sentei-me, depois de lhe ter arrancado a almofada das mãos e esfreguei os olhos "tu és mesmo chata" nisto ela já tinha aberto o meu armário da roupa e andava a ver as minhas roupas, quando lhe chamei de chata ela parou de procurar, tirou uma blusa minha e disse-me logo a seguir

"temos pena , aprendi com a melhor! Vou preparar o pequeno almoço e depois vou eu tomar banho porque tu vais primeiro e convém que te prepares porque sabes que não gosto de chegar tarde" ela já tinha tudo planeado, como sempre. Saíu do meu quarto com a minha blusa e fechou a porta, o que era sinal que me tinha que ir preparar mesmo.

   Comecei por tomar um duche rápido. Vesti o meu robe de banho e fiz a minha preparação diária. Lavei os dentes e de seguida pus creme para a cara. Pus batom hidratante nos lábios e arranjei o cabelo. Procurei por um conjunto no meu armário que me desse vontade de vestir e lá arranjei. Depois de vestida e pronta fiz rápido a minha mochila com os cadernos e estojo, a calculadora também e a minha carteira. Desci para a cozinha e no caminho cheirou-me a ovos mexidos. Quando cheguei a cozinha avisei que ela já poderia se ir arranjar.

"hum...que cheirinho" fingi ter vontade de comer

"ainda bem, pois vais comer os ovos mexidos todos" disse ela, pondo os ovos num prato e de seguida em cima da mesa

"claro" menti, eu nunca tenho grande apetite de manhã mas ela mesmo assim "obriga-me" a comer, de manhã eu sou mais um copo de sumo ou uma caneca de leite e fico bem até me dar a fome a meio da manhã. Ainda é cedo para estar a comer logo ovos. 

"venho já, tento ser rápida" 

    Quando vi que a Daniela estava fora do meu campo de visão e eu do dela, peguei num tupperware e coloquei lá os ovos, seria o meu lanche a meio da manhã. Preparei também uma sande de fiambre e manteiga e enchi a minha garrafa com água. 

   Eram 7h45 quando a campainha toca e eu como não tenho nenhuma empregada tive que abrir a porta.

"quem é?!" perguntei as pessoas que estavam do outro lado da porta, mesmo sabendo quem era, mas deve-se semore confirmar.

"é a bea e a kika" abri a porta e dei-lhes passagem "já estão prontas?" perguntou a kika com o seu ótimo humor matinal

"olá ladies" fechei a porta e fomos até a sala para esperar pela Daniela que não deve demorar muito. 

   Quando vamos para a escola vamos sempre juntas. Eu e a Daniela moramos juntas e a Bea e a Francisca, ou Kika, OU Chica moram também. A Bea é a meia irmã da Kika e vise- versa. Conheço a Francisca pela Bea e conheço-a à dois anos, ela e o pai vieram para cá para a Bea e a mãe dela não se terem que mudar, claro que foi bastante complicado a adaptação mas nós ajudamos a Francisca sempre. Ao inicio foi mesmo difícil porque ela não pode ficar com a mãe como queria e pior que isso teve que vir para uma nova escola, cidade, casa, mas agora já está tudo mais calmo e já nos damos bem, não como super amigas, mas somos amigas. Ela veio para a nossa Secundária e ficou em Desporto. A Bea está em Humanidades e eu e a Daniela em Ciências.

   Eu, a Bea e a Daniela já somos amigas de anos, conhecemos-nos no básico, quinto ano e temos sido amigas desde então. Agora somos mais unidas apesar dos cursos diferentes. 

   Ouvimos a Daniela a descer as escadas e saímos todas de casa para ir para a escola.

   O que mais me alegrava para ir para a escola era que já estava quase no fim. Agora era só as aulas de apoio para os exames e finito secundário. Olá férias e Olá Faculdade. Melhor que entrar em férias, só mesmo entrar de férias com carta. Já andamos todas desde os 17 a tirar e fomos indo com calma porque tínhamos que nos preocupar primeiro com a escola.

   O caminho para a escola não era longo e indo juntas parecia que até demorava menos. 

"então a tua mãe deu noticias??" perguntou-me a bea

"a minha não, mas a da Daniela sim" respondi

"e então?"

"ela mandou o dinheiro, e disse que está na altura do nós nos tornarmos um pouco independentes e começarmos a ganhar o nosso dinheiro, elas agora vão enviar menos dinheiro, vais ser apenas para cobrir as despesas de casa e um pouco mais e mais nada" expliquei

  A minha mãe, Susana, e a mãe e o pai da Daniela, Adelaide e Jorge foram trabalhar para fora, para Angola, as mulheres, por coincidência, são enfermeiras e o pai da Daniela é Advogado. Ele era para ficar cá mas houve um caso com as nossas mães e então usamos o nosso melhor advogado para ajudar, infelizmente, gostaram tanto do seu trabalho que ele acabou por ficar lá.     Assim, eu, a Daniela, o meu irmão e o meu pai ficamos cá. Eu e a Daniela ficamos na minha casa a morar e assim a casa da Daniela foi arrendada e é mais alguma fonte de rendimento que temos, claro, que quem tratava disso tudo era o pai da Daniela apesar de estar longe, antigamente o meu pai ajudava, mas depois ele desapareceu do mapa e agora o Jorge foi obrigado a contratar alguém. Mas isso era uma despesa, então, eu e a Daniela tivemos que aprender a controlar o dinheiro. O dinheiro que ganhamos com a casa dela dá para comida e para as nossas atividades, como ginásio e futebol do meu irmão. 

   Houve uma altura que vendemos todos os carros, dois dos pais da Daniela e um dos meus pais e ficamos apenas com um carro para quando tivéssemos a carta. Esse dinheiro da venda ajudou na remodelação da casa da Daniela para ser uma boa casa de renda e claro para as nossas mães terem casa lá, em Angola. A carta foi com as nossas poupanças. Depois o dinheiro que nos mandam de Angola é para as despesas da casa e algum dinheiro extra para transporte. 

   Como eu e a Daniela só fizemos agora 18 anos, a "ama" que tínhamos já se foi embora e na altura o meu irmão teve que ir para a minha avó materna, porque eu não podia tomar conta dele e porque a minha mãe não queria que ele ficasse comigo. A senhora que tomava conta de nós foi basicamente uma avó para mim e para a Daniela, ela ensinou-nos tudo, não sobre disciplinas na escola, mas sim sobre a vida. Ficamos desde os 15 até agora, os 18, com ela, portanto sempre que havia algum problema de adolescente era ela que lá estava para nos ajudar e além disso, ensinou-nos a cozinhar, limpar, arrumar,  costurar, ensinou a Daniela a andar de bicicleta e ainda nos ensinou a ser pessoas melhores para este mundo. Pessoas dignas de confiança e pessoas que merecem a felicidade mesmo. Aprendemos a perdoar com ela e amar. Ela, como já disse, é como uma avó. Não que substitua as nossas avós, eu e a Daniela em vez de termos duas, tivemos sorte e tivemos três. A minha avó materna não é muito presente, mas a paterna é e é incrível, é essa avó que está com o meu irmão. A Daniela tem duas avós incríveis mesmo.

    A Armanda, a "ama" agora vem só um dia da semana para nos ir orientando. O quarto dela está agora vazio, ela saiu ontem à noite. Ajuda nos com as compras, aliás as vezes ela até faz as compras online e nós só temos que esperar que o camião chegue.  

   Depois de explicar o enorme discurso que a Laide (Adelaide), mãe da Daniela, nos deu à bea apercebi-me que já estávamos na escola. O caminho fazemos em 15-20 minutos assim muito facilmente. 

  Passamos o cartão pelo local, o que era ridículo tendo em conta que isto são aulas de apoio e não aulas mesmo aulas, mas pronto.  Estava a entrar no portão quando alguém me puxa pela mão e me vira.


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