Capítulo 3 Faíscas
Carolina Oliveira
O homem a minha frente era bem mais alto, eu tinha meus respeitáveis um e cinquenta e cinco, mas eu "crescia" dez ou quinze centímetros em segundos, bastava eu calçar um dos meus maravilhosos saltos. O que era um desperdício no meio daquele mato, mas salto fino era algo de que eu não abria mão. E perto dele eu me senti pequena, mas não intimidada!
Será que ele sabia que já haviam inventado roupas?
E água e sabão? O homem a minha frente fedia a álcool, sexo e perfume barato. Assim que pronunciei meu nome completo eu vi o riso que se formara nos cantos de seus lábios desaparecerem por completo.
A tensão entre nós é quase palpável
— Você. Fala. Minha. Língua? — Questionei pausadamente.
O peão deu dois passos na minha direção e pegou um dos pedaços de bolo colocando-o inteiro na boca. Ele chupou os dedos e passou a mão suja no jeans que parecia mais sujo ainda.
— Está perdendo seu tempo moça. — Retrucou sem pressa depois de engolir o bolo.
Ele se virou e saiu andando me deixando plantada ali como uma idiota. A medida que ele se afastava pude ver marcas de arranhões em suas costas, marcas roxas fracas por seus bíceps e tríceps.
— Onde você vai? — Gritei antes dele desaparecer por uma porta mal pintada.
Mas que filho da mãe!
Nunca ninguém havia me deixado falando sozinha antes. Saí pisando duro e meu salto afundo no vão de uma das tábuas daquele piso de madeira caindo aos pedaços. Por pouco não caio de quatro, espatifada no chão.
Eu estava naquele maldito lugar a menos de duas horas e já odiava tudo ali, o cheiro, a lama a bosta da vaca em que atolei meu lindo salto lou Boutin.
Grunhi de raiva e me recompus. Bati na porta com toques firmes o suficiente para me fazer ser ouvida sufoquei um grito quando uma larva de cupim branco veio grudada na minha mão.
Ahhhh que nojo!
— Tudo aqui está se decompondo — Resmungo enquanto procuro na bolsa um vidrinho de álcool gel e lenços umedecidos para limpar minha mão.
Eu sei que quando a minha empregada não vai as baratas tomam contam conta da minha cozinha, mas pelo menos elas tem a decência de se esconder quando eu apareço.
Depois de me limpar, guardado tudo na bolsa e passo o lenço no local onde vou bater novamente.
— Esse peão só pode ser surdo.
Bato mais uma vez e a porta abre sozinha. Eu o fuzilo com o olhar, mas logo cubro o rosto com as mãos ao ver que ele está como veio ao mundo. Completamente nu.
— Eu já disse que não vou embora enquanto não conversarmos. — Rebati com firmeza.
Sentindo gotas quentes de suor escorrerem pelo meu corpo.
Deus, que calor!
Ouviu os passos dele se aproximando. Sem nenhum pudor. Engoli em seco.
— Não vai vestir uma roupa?—Brado sentindo o rosto e o corpo inteiro esquentar de raiva.
— Não. Acho que hoje vou passar o dia inteiro nu. Algum problema com isso? — Ele provoca, sendo que não custava o maldito enrolar a porcaria da toalha que está em seu ombro para cobrir sua intimidade.
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Bruto ***Degustação***
ChickLitSou Carolina Ferraz, beirando meus trinta anos. Vivo para meu trabalho, advocacia é minha vida. Viver no Campo jamais me passou pela cabeça, pra mim quem gosta de mato é cavalo. Agora imaginem o meu martírio quando descobri que meu pai havia de...