Ajudo Munique a arrumar a postura diante do piano, puxando para as costas as pontas dos seus cabelos. Quero tampar o decote horrível e desnecessariamente exagerado do vestido prata que ela usa, porque achei de muito mau gosto. É como se ela estivesse ensaiando para tocar em algum musical erótico, e não em uma apresentação da escola! Que absurdo.
Eu quero muito saber quem ficou responsável pela escolha dos figurinos dessa temporada! Grease não é uma adaptação qualquer e eu não quero que a principal tradição do colégio — encenar Grease no começo do primeiro semestre — seja contaminada pelo mal gosto alheio. Se me lembro bem, a apresentação do ano passado foi perfeita! Eu era a Sandy, mas não foi por isso. Tivemos uma equipe cheia de animadoras de torcida ajudando nos figurinos e nas coreografias, então tudo saiu bem sincronizado e estético. Acho até que será impossível de superar.
Este ano as coisas serão um pouco diferentes, começando pelo fato de eu não estar no elenco da peça. Dessa vez escolhi apenas ajudar com a produção, e por isso estou aqui, em uma quarta, liberada da aula de física para comparecer aos ensaios
— Aí! — reclama Munique, a garota do piano, quando puxo as suas costas para que ela fique ereta pela milésima vez.
Peço desculpas e digo para que não fique parecendo uma velha corcunda enquanto toca, mas Munique não fica agradecida pelo conselho e me olha feio, voltando a tocar a introdução da peça. Ela me esquece em poucos segundos, concentrada nas notas e na voz do garoto do coral que canta a letra de Frankie Valli.
Eu suspiro.
Uso o meu batom nude hoje, o que significa que estou abstrata. Distraída. Facilmente sugada para outras dimensões.
Essa cor é para todas as vezes em que acordo e demoro séculos para escolher uma roupa. Ou quando caio descendo as escadas. São os dias em que estou mais distraída e distante.
— Nina, querida, você pode ajuda o nosso Danny com o figurino? — pergunta Susan, a diretora da peça — Ele não está conseguindo achar a jaqueta de couro certa.
Concordo, feliz por deixar Munique e sua postura vergonhosa para trás. Corro para o backstage, na direção dos cabides de figurinos, e cantarolo enquanto passo os dedos pelas roupas, pelos tecidos e pelas peças cheias de brilho.
Eu realmente amo isso aqui. Acho que, quando crescer, quero ser estilista como a mamãe. Assim poderei desenhar as minhas próprias roupas e ainda ajudar outras garotas a se sentirem bem consigo mesmas. Seria um sonho!
Pego a jaqueta usada por Danny e levo o cabide até a mesa de maquiagem, onde vejo um garoto sentado de costas. Ele tem os cabelos escuros em um topete e usa a sua própria jaqueta de couro, o que me faz falar:
— Você já está no espírito!
Me arrependo de ter sido simpática no momento em que John se vira para mim. Primeiro parece surpreso, mas depois abre um sorriso inacreditável e diz:
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Batom Vermelho (DEGUSTAÇÃO )
Teen FictionNina Westland usa cores de batom de acordo com o seu humor, adora criar planos mirabolantes e tem uma paixão platônica por Edward Lee, o mais novo colírio da escola. Com a comodidade fornecida pela fortuna de sua mãe, a companhia da sua melhor amiga...