Capítulo 3

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Assim que entrei naquela sala, tive a sensação de que ali todos os meus problemas seriam solucionados. Eu finalmente iria saber o que eles sabiam sobre mim, e pela lógica, eu saberia o que fazer. Pelo menos era isso que eu esperava. A raiva e a agonia me corroíam. Pensar que eu ia ver todas as coisas que fiz, e lê-las novamente, começava a me deixar zonza.

Aquelas prateleiras colossais me davam uma imensa sensação de solução. Eu sabia que as respostas estavam ali, na minha frente, ao meu lado, ou até nas minhas costas. Eu só precisava ser inteligente o suficiente para encontrá-las. E eu lhe garanto: inteligência eu tenho de sobra, então não seria um problema. Mas uma pequena parte de mim sentia medo. Medo do que eu iria encontrar. Medo do que eu tinha me tornado.

Me dirigi para a fileira da letra C, em meio a um turbilhão de pensamentos conflitantes. Eram muitas gavetas, uma imensidão de documentos, então o meu poderia ser qualquer um. Eu só precisava de paciência e rapidez, ou eu seria flagrada por quem não devia.

Após uma série de documentos, as minhas vistas já estavam cansadas de tantos nomes. Mas, a notícia boa é que só faltava uma gaveta de arquivo, o que significava que o meu estava ali. Eu não sabia se pulava, procurava ou me escondia. Finalmente veria a verdade que tanto me escondem, mas eu não sabia se isso era bom ou ruim. Talvez eu não quisesse ver... talvez ter ficado com amnésia tenha sido um presente de algum deus sombrio.

Parei de divagar e comecei a passar os documentos, cuidadosamente organizados pelo sobrenome.

Bandeira, Camila; Carvalho,  Cassandra; Freitas, Carmen; Henrique, Caio; [...]LAMARTINE, CHARLOTTE.

Segurei o envelope em mãos como se fosse a minha vida. E em partes era mesmo. Porém a questão é: aquilo era importante, era tudo o que eu precisava saber, o necessário para eu decidir o que fazer dali pra frente, a minha esperança de me sentir menos perdida.

- Doutor! Você está bem? - escutei o agente falar, quebrando meus pensamentos.

  Me virei bruscamente para a porta e deixei o arquivo cair das minhas mãos.

AI MEU DEUS! ELE ACORDOU!

Pensa Charlotte, pensa!

Coloquei o envelope no mesmo lugar de onde eu havia acabado de retirá-lo. Mas fiquei estática, sem nenhuma idéia do que eu poderia fazer para enganar meu "chefe" e o doutor. E agora Charlotte?! Pensa!

Estava ouvindo as vozes dos dois cada vez mais próximas da sala dos registros, e pude sentir a calma e a segurança que estava sentindo até aquele momento se esvairem, dando lugar ao pânico de ser pega fazendo algo indevido e, provavelmente, proibido. Eu ia acabar sendo castigada. Ou presa. Ou levada pro manicômio. Nenhuma das opções era boa.

Até que meus olhos assustados conseguiram ver uma mesa com quatro cadeiras no canto mais escondido da sala. Minha mente logo bolou um plano: se eu fingisse que não tinha encontrado nada e, por isso, estivesse tão chateada e desesperada a ponto de chorar, eles teriam compaixão de mim e pegariam o arquivo.

  Era isso!

Corri até a primeira cadeira, sentei, e comecei a pensar em tudo o que estava acontecendo comigo e todos os momentos ruins que me lembro de ter vivido. Inclusive aqueles que fiz questão de guardar em um baú bem no fundo da minha mente. Nunca fui muito de chorar, mas pela necessidade e pela tensão do momento,  começaram a sair lágrimas singelas dos meus olhos.

 Bem a tempo! Deviam ter caído somente quatro lágrimas quando ouvi a porta sendo escancarada e, por pouco, não pulei da cadeira de susto.

– O que você pensa que está fazendo Charlotte?! – o agente do FBI entrou berrando, com o médico esfregando a testa com o polegar e indicador vindo logo atrás.

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