Capítulo 1

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Abro os olhos e vejo um teto branco. Já estive o suficiente em hospitais para identificar um. Olho para meu braço direito e vejo uma agulha ligada ao soro. Puxo-a para fora do meu braço com cuidado e me sento.

Minha cabeça lateja e todo o resto do meu corpo dói. Manchas roxas estão espalhadas pela pele, antes lisa e sem defeitos, do meu braço. Pego o copo d'água ao lado da cama e o analiso, pensando se seria possível meu antigo mestre ter colocado veneno. Quando vejo que está seguro, bebo e sinto a água aliviar minha boca seca.

Vejo um botão vermelho na parede e o aperto instantaneamente. Preciso saber porque estou aqui. Uma enfermeira baixinha e asiática entra correndo pela porta instantes depois, e eu juro por Deus que os movimentos rápidos demais quase me fizeram sair correndo da cama, pensando que estava sendo atacada.

Flashs me atacavam e eu conseguia ver um corpo sem rosto, gesticulando em minha direção.

– Que bom que a senhora acordou, vou chamar o doutor – e tão rápida como surgiu, ela desapareceu pela porta.

Estava brava comigo mesma por estar tão fora de órbita, que nem ao menos conseguia ser mais rápida que a doutora para lhe perguntar o que houve.

Se eu não tinha forças o suficiente para "lutar", caso fosse preciso, eu precisava ao menos saber onde eu estava. Analisei o quarto todo branco e cheio de aparelhos médicos. Avistei uma segunda porta no quarto e imaginei ser o banheiro. Verifiquei mais uma vez o quarto, procurando uma segunda saída escondida. Como não encontrei, levantei devagar da cama e quase caí de cara no chão, o que só me fez ver o quanto eu estava em um estado deplorável. Me apoiei na cama, e ao conseguir me firmar em pé, caminhei lentamente até a porta do banheiro e entrei.

Me olho no espelho e meu rosto está mais pálido que o normal. Também noto que perdi peso. Cansada de ver minha imagem doente, lavo meu rosto e escovo meus dentes com a escova e a pasta de dentes que encontrei em um saquinho.

Volto para o quarto, e assim que faço diversas acrobacias para me sentar, a porta se abre novamente, revelando um homem de meia idade vestindo um jaleco.

– Como está se sentindo senhorita Blanc?

Conversar com estranhos não era algo de meu costume, mas algo nele me fez ter vontade.

– Como se tivesse sido atropelada por um caminhão – o médico deu um sorrisinho, parecendo saber de tudo.

Era disso que eu precisava no momento, me inteirar das coisas para não ficar em desvantagem.

– Foi quase isso que aconteceu – disse enquanto folheava meu prontuário. Minha testa se franziu, e eu não conseguia me lembrar como fui parar naquele hospital.

– A propósito, como cheguei aqui doutor? – ele levantou uma sobrancelha.

– Não se lembra Charlotte? – balancei a cabeça em negativa.

Mais um flash me atacou. Desta vez de uma mulher gritando meu nome, e em seguida me vi caindo no chão.

– Não é tão raro essa confusão acontecer. Você sofreu um acidente, um carro a jogou longe da sua moto, sofreu um traumatismo craniano, ficou em coma induzido por dois dias e dormiu por mais três – ele explicou.

Minha confusão aumentou ainda mais. Desde quando eu tinha uma moto? Aquilo não estava certo. Motos eram perigosas, caras demais, ostentação em excesso e faziam mais barulho que o necessário em missões. Pelo menos era o que meu mestre dizia.

Desde quando ele ao menos me permitiria usar uma moto? E da onde teria saído dinheiro para tal compra?

Isso estava muito, muito errado.

AmnésiaOnde histórias criam vida. Descubra agora