Capítulo 34

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Maryneth


Meu Deus! Não sei o que está acontecendo comigo, estou me sentindo em um universo paralelo, sinto cheiros parecidos com álcool ou algo do tipo e ouço alguns sons enquanto sinto um leve aperto na minha mão direita. Forço minha mente e lembro que estava atravessando a rua, de repente, tudo ficou escuro. Meu primeiro instinto é procurar pelo meu filho, tento alcançar minha barriga, mas não consigo me mover, até pensar me parece muito esforço e eu sinto um cansaço horrível.

Novamente me concentro tentando lembrar algo, mas não consigo tudo está silencioso só sinto um aperto na mão e o barulho do que me parecem aparelhos médicos. Lembro-me vagamente do carro vindo à minha direção... Meu filho! Onde eu estou agora? Onde meu filho está? O Lucas.. eu preciso avisar o Lucas, mas estou sem forças, preciso descansar.

De repente ouço alguém começar a falar no meu ouvido, e forço meus olhos a abrirem e dessa vez eles me obedecem. Olho em volta e vejo o Lucas sentado ao meu lado. Ele estava passando a mão em meus cabelos. Vi seus olhos marejados e olhei para frente à procura da minha barriga, mas não encontrei o volume esperado. Onde está meu filho? Era para ele está aqui... Não era hora de nascer... O que está acontecendo aqui?

      - Mary! – Ouvi alivio na voz do Lucas. E então uma enfermeira se aproximou da minha cama.

      - Senhorita Maryneth... Preciso que você tente movimentar suas pernas... Está sentindo alguma coisa, tontura, náuseas... Alguma dor?

      - Cadê meu filho? – Pergunto com a voz áspera.

   - Seu filho está bem, agora eu preciso que você faça o que eu te pedi.

Com esforço faço alguns movimentos nas pernas enquanto ela realiza alguns procedimentos, e inclina a cama me deixando mais ou menos sentada. Ao meu lado o Lucas apenas assiste a tudo calado, uma expressão triste e cansada no rosto. Isso está errado... Era para ele está sorrindo, nosso filho nasceu!

A enfermeira finalmente nos deixa a sós e eu me viro na direção do Lucas.

      - Oi amor... – Sorri fraco.

   - Como ele é? – O vejo engolir em seco, enquanto aguardo sua resposta. - Lucas seja sincero comigo, nosso filho está bem?

  - Foi uma cesariana de emergência Mary, ele é muito pequeno...

  - Mas ele está bem... né? Quer dizer ele está vivo... Fala que ele está bem!

  - Ele está na... UTI... Você precisa ficar calma! – Suspira fechando os olhos. Evitando olhar na minha direção.

As palavras dele ainda giram na minha mente... Deixando-me imóvel por alguns minutos. Ficar calma?

- Não! Não! Não! – Falei aos gritos tentando me levantar. - Ele não está na UTI, é mentira! Eu quero meu filho Lucas! Quero-o agora! Não quero ficar calma...

Senti a mão do Lucas apertando a minha, enquanto eu estava aos prantos.

  - Por favor! Trás ele aqui! Nem que seja por um minutinho. – Pedi enquanto vi a cara de dor do Lucas. Ele só dizia: " Vai ficar tudo bem... Fica calma... eu estou aqui!" Ficamos assim até minha madrinha entrar na sala. Os olhos inchados e vermelhos a expressão abatida.

Ela se aproxima da cama e me abraça.

  - Dinda... Meu filho! Meu bebê... – Falo em meios aos soluços e vejo o Lucas se levantar abruptamente soltando minha mão.

Ele para na porta do quarto a postura rígida, os olhos perdidos enquanto olha na minha direção, vejo uma única lagrima escorrer por seu rosto. E então ele sai porta afora como se assistir a essa cena fosse algo extremamente doloroso.

Eu não posso acreditar que mais uma vez o destino fez isso comigo, Deus sabe o quanto foi difícil perder minha mãe, eu não posso perder meu filho... Não posso! Não era para acontecer isso, eu planejei um parto perfeito com o Lucas ao meu lado segurando minha mão enquanto eu sentia a dor que traria meu filho ao mundo, eu o ouviria chorar e seria a primeira a pega-lo e dizer o quanto eu o amo, e o quanto eu lutaria para protegê-lo... Ao invés disso, eu nem ao menos sei como ele é, não o ouvi chorando e não o senti... E essa dor é pior e mais insuportável que milhares de partos.

Nenhuma mãe merece passar por isso. Nenhuma mãe merece ter o filho entre a vida e a morte. Isso não é justo... E mesmo depois de anos eu consigo entender os motivos que levaram minha mãe a fazer uma loucura. Eu faria isso e faço sem duvidar ou pestanejar. Eu sou capaz de dar a vida pelo meu filho se for preciso!

Fui tomada por um sentimento de impotência, era como uma dor física, como se navalhas rasgasse minha alma... Só conseguia me sentia vazia.

E depois de todas as coisas que eu passei, eu não cheguei até aqui para perder. A essa altura eu não posso descobrir uma fraqueza na minha fé. Eu sei que enquanto ele respirar ele está vivo e eu vou me agarrar a essa esperança...

Deixei-me ser consolada e chorei toda a minha dor e meus anseios.

Vai ficar tudo bem! Já ouvi tanto essa palavra que é como se não sortisse o mesmo efeito. Geralmente as pessoas falam isso para nos confortar, mas no meu caso não faz nenhuma diferença, depois de um tempo palavras não são suficientes.

Quase oito horas da noite e eu ainda não vi o Lucas ou nosso filho. Estou me sentindo fora do ar. Não posso ver meu filho por conta da cirurgia e ele não pode sair da UTI.

     - Mary eu estou indo para casa, mas o Lucas vem ficar com você... Durante a noite. – Minha madrinha falou me tirando dos meus devaneios. Apenas fiz que sim com a cabeça e pouco depois dela sair o Lucas entrou. E foi só olhar para seus olhos que meu coração voltou a se comprimir.

- Ei! Chorando de novo? – Brincou ocupando o lugar que a pouco estava minha madrinha. - Eu o vi... – Olhei para ele sobressaltada e ele respirou fundo se acomodando mais no assento.

- Como ele é?

- Pequeno! – Sorriu, mas um sorriso triste. - Ele é pequeno Mary, mas graças a Deus ele está bem. Ele é prematuro um bebê de trinta e uma semanas... É um guerreiro. Provavelmente ele precisará concluir as semanas restantes na incubadora, mas nós estaremos aqui. – Segurou minha mão e depositou um beijo casto entre os nós dos meus dedos. - Ele vai ficar bem, nosso Davi vai vencer esse gigante! – Chorei mais ainda ao ouvir as palavras do Lucas e ele me abraçou apoiando a cabeça no meu colo. - Odiou tanto assim o nome que eu escolhi?

- Eu amei é perfeito. Eu te amo.

- Eu me esqueci de falar uma coisa. – Se levantou e me encarou sério. - Obrigada por colocar nosso Davi no mundo, mesmo com tantas dificuldades e acontecimentos indesejados, você me fez um homem muito feliz! – Aproximou o rosto do meu e me beijou. - Eu te amo chorona! Agora tenta descansar um pouco e assim que você acordar eu vou estar aqui do seu lado.

Aconcheguei-me na cama do hospital e fechei os olhos na fajuta tentativa de dormir, mas isso não aconteceu. Passei a noite em claro imaginando como meu pequeno Davi estaria. O Lucas cochilou na poltrona. E eu aproveitei o momento para fazer a única coisa cabível a mim. Fechei os olhos e usei minha única arma. A fé. Orei colocando meu coração em cada uma das minhas palavras.

     - "Deus, eu não tenho como dizer o que eu estou sentindo nesse momento, mas sei que você está bem acima de tudo e todos, por favor, não leva meu filho! Não faz isso comigo!" – Olhei para o Lucas desacordado do meu lado e chorei toda a minha dor, um sentimento horrível de impotência. - "Salva meu Davi, eu não posso ficar sem ele, por favor, tem misericórdia de mim".

Eu não conseguia pensar em nada, só queria ver meu filho, sentir seu calor, ouvir seu choro. Sentia-me como uma flor arrancada do jardim, só queria fechar os olhos e acordar desse pesadelo.

...Eu disse que eu não vim aqui para deixar você
Eu disse que eu não vim aqui para deixar você
Eu não vim aqui para perder
Eu não vim aqui acreditando
Que nunca ficaria longe de você
Eu não vim para descobri que
Há uma fraqueza em minha fé
Eu fui trazida aqui pelo poder do amor
O amor pela graça...

(Love By Grace – Lara Fabian)

(CONCLUÍDO) Vencendo Gigantes - Livro 1 Série Desafio. Onde histórias criam vida. Descubra agora