V

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Desperto com o suave som da sua voz. Meus olhos se embaçam por segundos até firmarem-se completamente no forro com uma enorme elipse e um ornato de folhas, flores, sóis e rendilhados. Um suspiro desliza pelos meus lábios na tentativa de desfazer o que aconteceu na noite anterior. Infelizmente, é improfícuo. Então, curvo a minha cabeça podendo avaliar o meu corpo e fico contente por saber que tudo está em seu devido lugar. Meus olhos encontram os da mulher que agora, permanece como estátua em minha frente.

— Está mais calmo? — Esmeralda pergunta, com os olhos sérios.

— Sim.

A mulher dos cabelos loiros como o sol áureo, solta um suspiro de alívio, repousando a mão no cabo de couro de sua espada embainhada. É preciso de um longo tempo até eu perceber o porquê de ter vindo falar comigo e não Jasmim. A empurrei ontem à noite, deve estar zangada comigo. Inclino meu corpo, determinado a ir lhe pedir desculpas, quando sou impedido. Estou preso novamente, fazendo-me lançar um olhar perplexo para Esmeralda. Sim, estou preso igual ao tigre de ontem à noite. Mas até entendo o motivo, estão querendo me manter longe de todos e não consigo segurar minha vontade de rir.

— Poderia tirar-me daqui? — Meus pulsos roçam nos grilhões.

— Não será possível... A rainha não está muito contente com você. — Diz, enquanto desgruda seus dedos do meu braço exposto, levando-os até o fio de cabelo solto de seu penteado.

A rainha não está muito contente comigo. A rainha não está muito contente comigo! Eu quem não estou nem um pouco contente com toda essa situação.

O ranger da porta quebra o silêncio que se formou entre nós. Um homem alto e forte entra no cômodo. Não sei quem ele é, e certamente não é nenhum dos homens cavaleiros que conversei ontem. Seus cabelos são laranjas, dando todo um contraste para a cicatriz explícita que ia desde o início de sua testa até seu couro, o que combina com sua barba malfeita e seus olhos âmbar. Seu rosto todo é familiar, assim como suas roupas, armadura bem gasta de cobre. Mantém em seu peito, o mesmo símbolo de ouro que Esmeralda carrega em sua armadura. Uma pedra de formato oval com vários raios de luz ao seu redor, contornando-a. Obviamente o selo real.

Ele escora a mão em seu ombro, puxando-a até o canto do quarto. Os dois nem parecem se importar com a minha presença e a conversa flui com total tranquilidade, até ele me fisgar e soltar um sorriso malicioso. Obviamente estão falando sobre mim. Posso ter perdido a memória, mas não sou bobo e além do mais, eles não conseguem disfarçar.

Aproveito o tempo para poder observar o quarto com mais cautela e solto um suspiro, tenso. Encaro uma sala onde uma cortina vermelha de seda substitui a porta discretamente, estranhamente me sinto mais ansioso do que o normal e não consigo ver seu interior.

— Onde está Jasmim? — Questiono ao vê-la se virando para mim.

— Ontem quando você a empurrou, sua respiração trancou. Mesmo se debatendo para respirar, ela acabou desmaiando. — Explica, novamente jogando a mecha de cabelo que se soltou, para atrás de sua orelha.

Eu realmente fui um grande estúpido. Nem em minha mera consciência, eu imaginaria fazer isso. De qualquer forma, com todo aquele barulho, só consegui descontar meus sentimentos nela, além de saber que já estava bêbado o suficiente para isso. O faz com que a minha consciência arda sem piedade.

— Quero vê-la.

— Isso está fora de cogitação no momento, pois quero lhe apresentar um velho amigo, Cavaleiro da Guarda Real Vidrience. — Disse, arqueando levemente a sobrancelha. — Este, é Sir Crisoberilo. — Acrescenta, colocando sua mão no ombro do homem, cujo corpo permanecia coberto por armaduras.

ℜ𝔢𝔦𝔫𝔬 𝔏𝔞𝔭𝔦𝔡𝔞𝔡𝔬 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora