IV

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Desculpem caso encontrem algum erro ortográfico! Agradeço desde já a atenção.

Todos estão em pé novamente venerando essa mulher que agora permanece sentada em seu trono. Não sei quem ela é, e muito menos de onde ela veio, mas sinto que nunca vi alguém parecido antes. Seus cabelos brancos, preso para trás em um penteado da realeza. Não consigo ver suas mãos, as luvas verdes tampam a minha visão. Um vestido longo até os pés, só deixando a ponta de seu sapato aparecendo. Seu traje todo verde-escuro, com uma capa branca presa em seu ombro feita com pele de arminho, tão grande que não se enxerga o final. Ela possui um sorriso marcante, lábios vermelhos como rosas.

— Boa noite a todos! Como podemos ver, estamos diante de um novo membro de Ônix! E essa noite, dedicaremos a ele. Por favor, deem boas-vindas ao Scott! — A rainha faz menção a mim.

Estão todos encarando-me com sorrisos e olhos curiosos como se eu fosse algum ser desconhecido, aplaudindo algo no qual eu não consigo compreender.

— Sirvam-se! — Ela me examina de longe ao sentar-se lentamente em seu trono de alto espaldar negro. Consigo sentir uma energia sobrenatural, animalesca emergir de forma contestável em todo o meu corpo enquanto trocamos olhares até Jasmim aparecer, guiando-me para a mesa.

Eu e Jasmim fizemos um acordo: farei o que me pedirem e logo, me contarão tudo o que eu quiser saber. Que assim seja. Nos sentamos na borda da mesa junto a Comandante Esmeralda e outro homem, Sir Berilo. Ele contou-nos histórias malucas, como uma em que enfrentou um monstro espinhoso para salvar a pele de sua atual e legítima esposa, Ágata.

— Olhe quem chegou, sente-se conosco, Velor! — Berilo se refere a outro homem grande, rechonchudo e alto a minha direita que permaneceu me encarando de forma ameaçadora.

— Essa mesa toda é para você? — Todos se afogaram nas gargalhadas, sem ao menos eu conseguir entender o porquê.

O homem tem a fama de "o brincalhão", ficou a noite toda fazendo piadas medíocres e contando histórias sobre suas lutas em algum tipo de torneio. Contou também que, em um dia de outono decidiu lutar com um cara mais forte, foi sua primeira perda. Já que ele não tem uma mão, e um gancho substitui.

Senti que nunca havia comido em minha vida. Foram três pratos de porco assado, um arroz e uma torta de batata com uvas. A comida estava deliciosa. Porém, percebi que eu fui o único que comeu mais. Ninguém repetiu de prato, pois logo vinham mais e mais coisas à mesa. Comeram tão sofisticadamente, enquanto eu engoli tudo de uma vez só, rápido como um pássaro. Jasmim me observava com espanto, até a percebi colocar a mão por cima da boca para dar umas risadas de vez em quando. Ela não conseguia se segurar.

Eu não me importava e tentava ao máximo aproveitar da boa comida.

— Já conversou com a rainha? — Berilo pergunta após bebericar o vinho quente e me olhar de forma desagradável. Seus cabelos ruivos, uma barba malfeita e os olhos âmbar o faz parecer ainda mais um homem culto. Usa um manto de pelos, preto, como o resto de sua roupa.

Jasmim me contou mais tarde na mesa que normalmente os homens cavaleiros que pertenciam ao torneio, normalmente trajavam vestes de uma só cor: preto. As mulheres elegantes, vestiam-se todas parecidas. As mesmas, que só dignavam seu amor, para àqueles que, pelo menos, vencessem três vezes no torneio. Que não é o caso de "o brincalhão", que uma vez só venceu, e agora quis se suspender devido a sua mão – Ele nunca vai ter uma mulher digna de seu amor – Jasmim comentou. Comentou também que, a rainha perdeu o seu rei para um homem que diz que o matou. Para manter a honra do seu reino, ela preferiu manter em sigilo os fatos da morte de Ônix. Porém, todos sabem que ele morreu e todos tem uma versão diferente para sua morte.

— Ele foi torturado e congelado pelo Poten! — Um homem negro com cicatrizes explícitas e rubras no rosto, qual espantava explicitamente o homem brincalhão, exclamou.

— Oh, não... Minha ama de leite contou-me que Ônix morreu durante a Guerra da Salvação, com uma espada de Adamas raspando-lhe a garganta. — Comentou um garoto não tão forte quanto os outros cavaleiros, mas novo e bronzeado, que se apresentou como Noah.

— Eu vou cortar a garganta de todos vocês se não calarem a boca. — A Comandante Esmeralda resmungou e logo depois engoliu um pouco do vinho, observando-me de soslaio após perceber-me.

Engoli um pouco mais do vinho e aguardei. A noite foi passando, alguns nobres já estavam se retirando para seus aposentos e até agora não obtive nenhuma explicação sobre o meu verdadeiro paradeiro; somente histórias sobre suas vidas, suas lutas e suas transas aprazíveis com as mulheres de prostíbulos próximos daqui. Me esforcei em ficar sóbrio, em acreditar que logo tudo isso acabaria, mas a minha paciência aos poucos foi se dissipando com cada tragada no vinho quente, e ao passo que as horas se passaram depressa.

Sinto que fui enganado pela rainha e posso sentir a raiva começar a queimar dentro de mim. Apertei os olhos por alguns breves minutos e a única coisa tangível em minha mente é: porque isso está acontecendo comigo?

— Sir Berilo. — O chamo após ver o trono da rainha, vazio. — Onde ela está?

— Ela quem? — Ele me olha dos pés à cabeça, como se estivesse tentando procurar a resposta em meu corpo.

— A rainha! 

Não consigo saber o porque de eu ter gritado com Berilo. Devo ter tomado muito vinho, talvez? Me sinto tonto, com a voz ébria demais. Mas nada disso diminui o fato de que realmente estou começando a ficar com raiva de Opala. Para onde ela foi? Estou aqui para conhecê-la! Não era isso que ela queria? Falar comigo, explicar-me tudo, o porque estou aqui, em seu reino?

— Para onde ela foi?!

— Ei, fique calmo, caro homem! Ela deve estar em seu Salão de Mapas. — Ele se curva, indicando com o dedo, onde fica.

Levanto-me decidido a encontrar-lhe, quando Jasmim se levanta da mesa também, parando-me com suas duas mãos como fez nos corredores.

— Onde você vai? — Ela me pergunta desesperada.

— Preciso de respostas.

Admito que eu não devo ser grosso com Jasmim, mas não posso deixar o tempo passar e ficar aqui como se tudo estivesse bem, como se eu estivesse normal ou fizesse parte daqui. Se a rainha é a única com autoridade, explicitamente me deve uma explicação. Esquivo-me de seus braços e quase tombo pela tontura. Preciso saber de tudo hoje e Jasmim está me impactando.

— Saía da minha frente. — Digo, com um pouco mais de calma e espero. — Saía da minha frente! — Grito quando vejo que a mulher não se mexeu. 

Ela solta um ar amedrontado e todos os nobres que sobraram na mesa, me olharam como se eu fosse um monstro. Eu era um monstro? Não podia saber. Então, escuto a alta risada de Esmeralda. Que mulher estúpida.

— Scott, você me prometeu! — A pequena Jasmim tenta me acalmar. — Uma coisa de cada vez, lembra?

Minha respiração saí descompassada, meus lábios estremecem com o barulho das risadas que ficaram abafadas em meus ouvidos, à medida que tento me controlar. Com a visão gravitando, aperto as mãos ao lado de minha cabeça como se isso fosse acalmar a forte dor que germinou e começou a me incomodar. Então fecho os olhos, cansado por tudo girar de forma caótica.

Sem que eu espere, palavras estão saindo da minha boca de forma desesperada, "por que estão fazendo isso comigo?", "quem eu sou?", "que lugar é esse?" "Por que não me lembro de nada?".

Jasmim consegue me escutar, pois está em minha frente, tentando segurar o meu braço com suas mãos miúdas, novamente. Desato os olhos e sem desejar, a empurro com força pelo seu peito. Antes que pudesse cair, Esmeralda a segura o mais rápido possível. Talvez eu a tenha machucado demais. A feito ficar com falta de ar, pois parecia estar se debatendo para respirar.

Noah se levanta, me segurando com força. Sir Berilo também se levanta para ajudá-lo, segurando-me com as duas mãos. Pareço um monstro selvagem, o mesmo monstro que estava algemado há alguns dias. 

Os cavaleiros apertam-me com força, tentando controlar-me até finalmente eu sentir uma mão fria tocar a minha cabeça. Não consigo ver quem é, mas sinto sua energia poderosa surgir em minha pele e tudo desaparece diante dos meus olhos, sem que eu entenda, restando apenas as vozes em minha cabeça, até por fim eu me apagar completamente.

ℜ𝔢𝔦𝔫𝔬 𝔏𝔞𝔭𝔦𝔡𝔞𝔡𝔬 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora