XII

712 100 258
                                    

Esmeralda permaneceu me apertando com força, nervosa, como se quase tivesse cometido o maior pecado de sua vida.

Continuei sem conseguir entender a sua atitude equivocada, mas devolvo o abraço, envolvendo a sua fina cintura com os meus braços e posso escutá-la suspirando próxima ao meu pescoço. Então, quando finalmente se desprende do meu corpo, com um sorriso desengonçado nos lábios, ajeita os seus cabelos loiros, jogando-os sobre as marcas roxas deixadas em seu pescoço, sacode seu vestido preto e levemente me observa antes de dar uma satisfação adequada à mulher de cabelos lilás em nossa frente.

— O que está acontecendo aqui? — Diz Lápis, desconfiada.

— Finalmente nos entendemos. — Esmeralda responde, desengonçada. — Já que nossos próximos dias serão juntos, pensei em fazer as pazes com... — Ela volta a me observar, seus olhos estão indecifráveis — ele.

Lápis dobra a cabeça e espera alguns segundos para responder.

— Sábia decisão, Comandante D'blade. — Ela concorda, fazendo Esmeralda relaxar a tensão de seus músculos e de sua respiração. — Opala necessita de sua presença no conselho. — Lápis fala, e D'blade apenas acena com a cabeça. Mas antes de se retirar, me observa entristecida.

Seus olhos estão iguais aos meus no jantar, desapontados ou desiludidos. Não pareceu feliz com a ideia de ter que sair daqui, mas precisou para manter em segredo o que quase aconteceu. E ela se retira. Olhou para trás duas vezes. Tenho a leve sensação de que a fiz sentir algo e de alguma forma me sinto feliz, mas talvez, não orgulhoso.

Esmeralda desejou minha morte, como consegui ter uma ideia incabível como essa? Não entendo, não consigo imaginar onde, em meu corpo, eu fui capaz de desejá-la tanto. Mas não posso negar, também estou triste por não ter conseguido terminar o que comecei. A ideia de ter os seus lábios me tocando, dá-me uma sensação excitante.

Afinal, o que estou pensando? Estou completamente confuso. Nós não podemos! Somos completamente o oposto um do outro. Nos odiamos, apenas isso.

Me retiro após minutos parado absorvendo os meus pensamentos caóticos. O crepitar das folhas sob meus pés preenchem o ar do outono, com o forte vento que rodeia o castelo. Adentro o salão novamente, o local está vazio, exceto pelos serviçais arrumando toda a bagunça, e não imaginei ter ficado tanto tempo na rua com Esmeralda.

Acomodo-me em uma pequena bancada, apoio minhas mãos entre as pernas abertas e observo Rubi carregando pratos até a cozinha. Falta pouco tempo para o acampamento e isso está me deixando mais ansioso do que o normal. Qualquer pessoa comum facilmente saberia disso. A ruiva saí de dentro da cozinha escura pelas tochas apagadas, rapidamente me notando.

— O jantar acabou, mas posso arranjar algo caso ainda esteja com fome. — Diz Rubi.

— Não, obrigado. — Respondo.

Então mais uma vez eu noto o colar preso em seu pescoço, enquanto deu meia volta e se retirou para o seu aposento, cansada pelo dia fastidioso. Sozinho, encosto a minha cabeça na parede e fecho os olhos por segundos, deixando ser tomando pelo sono e me permitindo um leve descanso.

— Scott! — A voz de Morion me faz sair de meu sono profundo. Abro os meus olhos com cautela, o observando. — Precisamos partir, meu amigo. Precisa vestir-se com suas devidas armaduras.

Balanço a cabeça em concordância, mas logo arregalo os olhos por lembrar do arco de Jasmim.

Então, sem dizer nada, eu me levanto e me direciono ao meu aposento. As cortinas estão abertas e o vento entra rigoroso pela janela. Está frio, posso ver a minha respiração sair pela minha boca e sentir minhas mãos congelarem. Coloco cuidadosamente as roupas negras que me foram separadas por Lápis, e em seguida, estico o meu braço para sacar o arco Neopiano. Apoio-o em minhas costas, sobre uma comprida capa negra, e sigo para o ponto de partida dos cavaleiros, com o capuz cobrindo a cabeça.

ℜ𝔢𝔦𝔫𝔬 𝔏𝔞𝔭𝔦𝔡𝔞𝔡𝔬 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora