Capítulo 11

796 74 0
                                    

Não haviam palavras para descrever a dor e decepção que estava sentindo naquele momento, nunca falei daquela forma com meu pai, mesmo sendo um adúltero o respeitei pelo profissional que era e também por ser um bom pai, talvez ausente, mas quando estava em casa seu tempo era somente nosso.

Gritar com ele foi a coisa mais difícil que fiz na vida, se não fosse aquela mulherzinha estava naquele minuto com a cabeça em seu colo assistindo TV, ela destruiu o vínculo de pai e filha, me arrependi de ter dito aquilo, mas seria firme, pois ele estava errado.
__ Você está bem? _Kris perguntou pela milésima vez enquanto dirigia até um hotel.
__ Já disse para não falar comigo! _respondi ríspida sem encará-lo.
__ Por que está com raiva de mim? Não fiz nada!
__ Cala a boca e dirige!
__ Não, eu não vou me calar, porque não tem motivos para ficar com raiva de mim.
__ CALA A BOCA C******! _gritei e quando virei uma luz branca invadiu meu rosto. __ CUIDADO KRIS!!!

Tudo foi muito rápido, primeiro a luz, depois vi Yifan perdendo o controle do carro e por fim a escuridão, uma escuridão sem fim, onde gritei o nome do meu irmão, mas não obtive resposta, se eu estava morta, não podia ver a luz.

Abri os olhos lentamente e vi pessoas correndo, olhei para o lado e Kris estava desacordado, chamei seu nome, mas ele não atendeu, havia muito sangue e novamente senti a escuridão me invadindo.

Minha cabeça doía muito, na verdade todo meu corpo, abri os olhos percebendo que estava em um hospital, no meu braço havia uma agulha com soro, o local estava roxo e dolorido, virei em busca de alguém conhecido, mas ao meu lado haviam várias outras macas, aquele era um hospital público, deduzi pela multidão de gente ocupando o mesmo espaço.

Chamei a enfermeira que disse que o médico logo apareceria para fazer alguns exames, mas minha preocupação era Yifan, queria saber se o grandão estava bem, porém ninguém me dizia nada, algo dentro de mim apitava um mal presságio.

Levantei daquela maca dura carregando o soro atrás do meu irmão, procurei entre todos os pacientes dali, porém não vi nem a sombra de Kris, um medo se apossou de mim já imaginando coisas, então tomei um susto com uma mão no meu ombro.
__ O que faz aqui menina? _era um senhor de óculos, provavelmente um médico.
__ Estou procurando meu irmão. _o encarei aflita.
__ Você é do acidente com o carro de luxo? _assenti. __ Venha comigo!
__ Mas e meu irmão? _o homem não respondeu, do me guiou pelos corredores.

A cada passo que dava, o coração parecia que ia enfartar, levantei a cabeça e vi uma placa que indicava que estávamos indo para a UTI, coloquei a mão na boca quando através de uma janelinha pude ver Yifan todo entubado.

Haviam muitos ferimentos pelo corpo e estava desacordado, não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, o médico disse que nosso acidente foi ocasionado por um motorista que dormiu no volante, o mesmo morreu no local e Kris estava em estado crítico, precisava urgente de uma transfusão de sangue.
__ Use o meu doutor! _o senhor me encarou com o cenho franzido. __ Yifan é meu irmão gêmeo, não somos parecidos por causa que nossos pais são de nacionalidades diferentes, mas somos gêmeos fraternos. _ele me encarou e depois olhou pela janelinha.
__ Então vamos nos preparar para a retirada. _assenti. __ Você e seu irmão têm alguém para vir até aqui? _aquela pergunta me pegou se surpresa.

Não tinha coragem de ligar para o meu pai, ele foi tão rude com Kris, talvez não quisesse saber se o filho iria morrer ou não, fiz a coisa mais sensata, liguei para minha mãe, conhecendo-a bem viria feito um furacão.

Eu precisava fazer alguns exames para assegurar que tudo estava bem para a transfusão, horas depois vi uma figura no final do corredor caminhando na minha direção, respirei fundo para encará-lo.
__ O que aconteceu S/N? _meu pai estava parado na minha frente com uma cara desesperada.
__ O carro bateu na gente! _respondi sem encará-lo, ele segurou meu queixo me fazendo olhá-lo.
__ Sinto muito princesa! _não aguentei mais segurar e me joguei nos braços quentes do meu pai em um abraço apertado.

Minha mãe ligou para ele porque estava longe demais para chegar à tempo, não falamos nada relacionado a nossa briga, apenas nos confortamos nos braços um do outro para aplacar aquela dor.

Horas depois o médico apareceu e pelo seu semblante as notícias não pareciam nada boas, em suas mãos havia um envelope, engoli em seco já pensando o pior.
__ Então doutor, quando será feita a transfusão? _meu pai levantou.
__ Sinto em dizer isso, mas o sangue da senhorita não é compatível com o do paciente! _arregalei os olhos.
__ Como assim não são compatíveis? Eles são irmãos gêmeos!
__ Eu não queria ser o portador dessa notícia, mas fizemos todos os exames e foi constatado que a senhorita Wu S/N nem sequer é irmã do rapaz. _coloquei as mãos na boca e lágrimas desceram em meus olhos.
__ Isso não é possível! Vi os dois nascerem, a mãe deles teve gêmeos, como não são irmãos? _meu pai já estava se alterando. __ O que está insinuando doutor?
__ Não estou insinuando nada senhor, acalme-se, só vim avisar que a jovem não poderá doar o sangue devido a falta de parentesco. _o outro andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça e eu não conseguia reagir.
__ Não pode ser possível, vi os dois nascendo, eram dois bebês, dois. _meu pai murmurava para si.
__ Posso não ter certeza senhor, mas pode ter ocorrido uma troca de bebês no dia do nascimento. _encaramos ele ao mesmo tempo. __ Negligência por parte de enfermeiras que cuidam do berçário, isso é bem provável. _engoli em seco e encarei meu pai. __ Como o senhor diz ser o pai, seria o certo coletar seu sangue para saber qual dos dois foi trocado, se constar que o senhor é pai somente do rapaz, aí poderemos fazer a transfusão.
__ Tudo bem! _ele respondeu e acompanhou o médico.

Sozinha naquele corredor comecei a chorar, aquilo não parecia real, como um terrível pesadelo sem fim, Kris não era meu irmão, tantos anos agindo como se fôssemos gêmeos e no final éramos completos estranhos, eu era uma estranha.

As horas se passaram com lentidão, meu pai fez os exames e tentou o máximo ser forte diante daquela situação, pois criou uma garota que podia não ser sua filha e se realmente fui trocada, então a verdadeira S/N estava por aí com minha família de verdade.

Como o esperado, Kris era filho do meu pai, mas não era meu irmão, eu era a criança trocada na maternidade, não tive qualquer reação, apenas fiquei parada olhando para o nada, o que eu podia fazer?! Era uma estranha, filha de qualquer um na face da terra.

A transfusão sanguínea foi feita com sucesso, Yifan teria uma boa recuperação, saí daquele corredor indo para uma ala reservada do hospital para pensar, ou simplesmente ficar sozinha.
__ S/N?! _me virei e vi minha mãe, seu rosto estava abatido e vermelho pelo choro.
__ Sim senhora! _respondi fraco.
__ Como você está? _ela sentou ao meu lado acariciando meus cabelos.
__ Não sou sua filha! _disse sentindo um nó na garganta.
__ Sim, você é! Não posso ter te dado a luz, mas sou sua mãe.
__ Dizem que as mães sentem quando o filho não e seu.
__ Já ouviu dizer que o amor cega? Pois é, meu amor por você foi tão grande que nem percebi. _deu uma risada fraca.

Quando meus pais foram ver Kris, peguei minhas coisas que sobrou do acidente e fiz a única coisa sensata, voltei para casa, usaria o dinheiro que tinha para comprar um apartamento pequeno e devolver o antigo para Yifan, não havia necessidade para manter aquilo se nem éramos irmãos.

Deixei as chaves com o porteiro e segui meu caminho, precisava arrumar um emprego logo, mas decidi largar a medicina, não estava preparada para exercer uma profissão que exigia firmeza minha e naquele momento eu estava frágil, então parti para uma nova vida.

Adeus Yifan Kris!

Seduction games (Imagine Kris) 5ª Temporada. Onde histórias criam vida. Descubra agora