O melhor brasileiro.

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1830

Solidão era a palavra que definia o pequeno príncipe. Sua mãe havia morrido com ele tendo apenas um ano de idade. Cresceu com suas amas de leite a quem chamava de mãe, mas que sempre eram trocadas. O príncipe não devia se apegar a ninguém, dizia seu pai. Seu pai o abandonou, assim ele pensava, não se lembrava de sequer seu pai lhe dar um abraço. 

- Lendo de novo, pedrinho? - Perguntou o Nego Jâ. Era um dos escravos do casarão e um dos únicos amigos do pequenino príncipe. 

O pequenino fechou o livro e sorriu para o escravo. 

- Sim! Um dia eu serei tão importante quanto meu tio!

Seu tio era ninguém menos que Napoleão Bonaparte, por parte de sua mãe. O arqui-inimigo de seu pai e que havia ocasionado toda sua derrocada em Portugal. Pedro havia aprendido a ler muito cedo e com isso havia despertado a admiração de todos ao seu redor. 

- Eu acredito! - Disse o escravo se sentando no chão do quarto. Pedro havia libertado ele, mesmo contra a ordem de seus "cuidadores". Talvez fosse a aproximação com os escravos que fizessem os outros filhos dos nobres, se afastarem dele. - Você é pequeno agora, mas um dia será muito grande! 

Pedro sorriu, mas logo ficou triste. 

- Jâ, poderia me falar novamente sobre minha mãe? - Perguntou olhando para o chão frio. Sonhava com eles, mas não conseguia se lembrar de seus rostos. Frequentemente perguntava para todos ao seu redor de sua mãe, mas os únicos que diziam eram o Padre Francisco e Nego Jâ. - Todos os outros garotos vão para casa com suas mães quando a hora da brincadeira acaba, mas eu sempre sou levado por uma ama de leite... 

Não importava quantas vezes a estória fosse repetida, ele gostava que fosse repetida, como em uma oração, era o único momento em que se sentia próximo de sua família. 

- Sua mãe morreu um ano após seu nascimento. - Disse ele como dizia todos os dias. - A imperatriz Leopoldina te amava muito, e dizia que você faria do Brasil o país mais poderoso. No leito de sua morte, ela o abraçou enquanto chorava. Ela amava você, pedrinho. - Disse ele vendo a alegria e tristeza no rosto do mesmo. -  O Imperador Pedro é duro, mas esse é o papel de um Imperador. O imperador é a coluna que sustenta o povo, se essa coluna se rachar, o povo ruirá. Mas apesar de seu rosto sério, ele o ama acima de tudo, pequeno pedro. 

Pedro se lembrava de seu pai, apesar de quê não de seu rosto. Lembrava dele como uma figura imponente, poderosa e que fazia grandes homens se ajoelharem apenas com seu olhar, mas acima de tudo lembrava dele como uma pessoa amargurada e constantemente atormentada pela derrota para seu tio Napoleão, que ceifou seu nome no meio mundial, mas o que ele podia fazer além de fugir? Era somente uma criança, se alguém devesse ter sido culpado, era seu avô... Ele somente estava prezando pela vida de sua família. 

- Eu não odeio meu pai. - Disse ele. - Eu somente queria dar orgulho para ele. 

- Você dará, assim como dá para todos os brasileiros. - Disse o escravo abrindo um grande sorriso. 

- Jâ, eu irei libertar todos os humanos desse país. Um dia eu serei poderoso o bastante para isso! Eu juro! 

Por um breve relapso de segundos, nos olhos daquela pequena criança, Nego Jâ viu aquilo que todos haviam visto naquele famoso "Napoleão Bonaparte", os olhos de um conquistador. 

- Pedro, finalmente te achei pequenino! - Disse ela arfando. - Sabe que sua madrasta não tem folego como você! 

Pedro correu e a abraçou, sua madrasta Amelia de Leuchtenberg  . era uma das pessoas que mais gostava. Ela retribuiu o abraço. 

- Vamos passear um pouco! - Disse ela. 

Pedro olhou para Nego Jâ que teve de afastar da senhora, iria o chamar para ir junto, mas ela negou somente com um olhar. Ele disse para si mesmo naquele dia que um dia o brasil seria um país onde todas as raças seriam como uma só. Apesar disso, ele tinha uma relação bastante afetuosa com sua madrasta e sabia que aquilo não era culpa dela. 

1831

Esse ano foi marcante na vida do pequeno Pedro II. Um dos anos em que mais sofreu. Seu pai abdicou do trono após um extensivo conflito com o partido liberal e que era dominante no parlamento. O imperador desde sua abdicação nem mesmo havia falado com seu filho e se mantinha isolado em seus aposentos, só recebendo sua esposa Amélia. Pedro não possuía lembranças de seu pai triste, mas após a abdicação do trono, sentiu que aquilo foi o mais perto de tal sentimento. 

Por ocasião do destino, Miguel I usurpou o trono de sua irmã Maria II em Portugal. Imediatamente Pedro I e antigo imperador do Brasil, partiu com sua amada esposa para tentar restaurar sua filha no outro país. 

- Pedro, sentirei sua falta. - Disse Amélia abraçando o pequeno garotinho que tinha lágrimas nos olhos ao ver o navio no porto pronto para leva-los para longe. Sua pouca família seria novamente afastada de si e cada vez mais sozinho ele ficava. - Não chore. - Disse ela beijando sua testa. - Você será um grande homem! 

Ela tinha lágrimas nos olhos quando se despediu, mas Pedro II não viu isso nos olhos de seu pai, afinal ele estava de costas para ele. Como sempre ele tinha uma figura imponente e poderosa algo inalcançável para ele. A figura paterna. 

- Você é meu filho, mas eu nunca te abracei. Você é meu filho, mas eu nunca te beijei. Você é meu filho e por isso nunca fiz tais besteiras. - Disse seu pai. - Você carrega o sangue dos Bragança. Seja o orgulho de nossa família, eu confio em ti. Faça do Brasil um país para as futuras gerações se orgulharem. 

Aquelas foram as últimas palavras que ouvira de seu pai. Ficou vendo ele partir ao lado de sua madrasta naquele grande e majestoso navio. O pôr do sol havia levado o que ele mais amava, e que nunca teve a oportunidade de dizer, mesmo até tarde da noite ele permaneceu chorando e nenhum dos guardas ou de seus conselheiros se atreveram a incomoda-lo naquele momento. 

- Pedro, por que foi tão duro com seu filho? - Perguntou Amelia no navio. - Ele é seu preferido, isso é perceptível, mas por que o tratar diferente perante seus olhos? 

Pedro I ficou vendo o sol se dispersar em meio às ondas. 

- É por eu gostar tanto dele que sou duro. Ele irá enfrentar mais batalhas do que posso compreender, eu não quero que ele seja um fracasso como eu fui... - Disse se lembrando de Napoleão. - Um dia ele fará dessa terra, muito rica e formosa, é nisso que eu confio. 

Pela primeira vez, ao se aproximar, Amélia viu lágrimas nos olhos de seu esposo e o abraçou. 

   "Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil

Apesar de tudo, seu pai não o deixou sozinho. Selecionou três de seus melhores para supervisionar o filho: Jose Bonifácio( Seu amigo e líder influente), Mariana Carlota ( Aia de Pedro II, desde o nascimento e a quem chamava de "dadama" desde criança por não conseguir pronunciar "dama" corretamente. Sua mãe de criação.) e por último  Rafael, um dos melhores amigos de Pedro I e um dos homens em que mais confiava, um negro veterano da guerra da cisplatina a quem foi dado o dever de zelar e proteger o pequeno Pedro II acima de tudo. 

Pedro II era um garoto estudioso e muito aplicado que era o melhor naquilo que fazia. Nenhum de seus tutores podia dizer que ele era lento, o garoto era chamado de "gênio" mas ignorava isso e dizia apenas que se esforçava muito. Os dias passavam e enquanto os outros garotos ficavam brincando, ele ficava estudando, com apenas duas horas de recreação. Acordava todos os dias 6:30 da manhã, e começava a estudar às 7:00 indo até as 22:00 quando ia para sua cama. Talvez por saber das características impulsivas e cabeça quente de seu pai que ele se esforçou ao máximo em seus estudos para que não às adquirir. 

- Nas estórias o herói sempre tem um final feliz. - Disse fechando o livro de fantasia que havia recebido de sua madrasta antes de partir. - Será que eu teria um final feliz, Deus? - Disse tristemente e sozinho no quarto. 

Sua infância fora solitária e infeliz, ler para ele, era uma fuga de sua realidade e por isso passava mais tempo nos livros do que no mundo real. 


O melhor brasileiro que abandonamos.Onde histórias criam vida. Descubra agora